Acompanhar o trabalho do Gui Mohallem é acompanhar a inquietação contínua que marca o artista. Tcharafna é como o espelho que Gui encontrou ao não temer o incerto da sua evolução: o espelho que já lhe deu as boas-vindas agora lhe recebe para anunciar com crueza what’s all about – o que foi, o que é, o que será.
Como na natureza branca do delírio de Brás Cubas, Gui descobre mais uma camada – desilude-se um pouco mais –, onde encontra um pertencimento profundo, já fora das dimensões binárias: sua névoa característica, explorada tecnicamente como uma obsessão nos seus trabalhos anteriores, encontra sua matriz original, o branco eterno do Monte Líbano, a raiz.
Com Tcharafna, Gui deixou de ser somente fotógrafo e passou a se desdobrar como artista. Seu domínio da técnica fotográfica permanece como sua mídia primordial, mas sua postura e seus processos ultrapassaram a linguagem que lhe abriu as portas.
A mensagem é clara: no centro de tudo, três caixas sustentam uma cera-emulsão vermelha prestes a derreter e levar consigo, num rito sacrifical, os fotogramas-raízes. O artista-autófago deglute sua origem como quem sorve saborosos quitutes numa tigela de porcelana. Na estrada, seu destino ainda é a estrada. E que assim seja.
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A tempo: Neste sábado, 29 de junho de 2013, às 15hs, Gui estará na Galeria Emma Thomas para um bate-papo sobre o trabalho.