Mostrando postagens com marcador Sicurta. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Sicurta. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

O anúncio

Quando L. leu o anúncio, L. sorriu. Procura-se casais que se amam. Retribui-se fartamente. A mente de L. não vacilou em associar a expectativa com a figura carinhosa de R. Relendo a pequena chamada, ligou para ele no celular, comentou o que havia lido e deixou a idéia de que poderiam participar. R. sorriu e depois ficou muito pensativo. L. ficou feliz e disse a uma amiga que andava nas nuvens. À noite, L. e R. se encontraram, e ele decidiu terminar o namoro.

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Cortisimo

Li que o amor é ilógico. Por isso me apaixonei por ele: o marido da minha amiga.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

O suicídio


Quando ele chegou, uma semana depois que eu, éramos colegas de dormitório. No quartel da 3ª de aviação cada quarto comportava dois oficiais. Na noite que ele recebeu um email da namorada entramos no terreno das conversas profundas. Cinco meses mais tarde coincidiu de ser marcada minha folga com sua prática de voo. Levei a câmera que ele me emprestou para a região desertica ao norte; ele decolou. Voando baixo, ficou se exibindo para mim, como um cavalo girando em volta do treinador. As montanhas chegavam a estar mais altas que ele. Numa delas, ele se transformou numa nuvem. Meu vídeo era seu bilhete.

quarta-feira, 9 de maio de 2007

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Corto

Tudo começou há mais ou menos um mês. Até então eu não odiava os cachorros, mas não sei que sensibilidade pegou meus ouvidos quando seus latidos começaram a me matar aos poucos. Era eu ou eles. Pensei ininterruptamente em todos os meios de eliminá-los. Pensei nas bolinhas de carne, pensei em espingardas, pensei em abaixo-assinado para criar uma zona de “dog-off”. Mas não precisei fazer mais nada, pensar foi suficiente. Hoje de manhã morreu o primeiro; o dono falou de uma doença misteriosa e fulminante: uma semana divisou sua saúde e sua morte. O vizinho da frente levou o seu ontem no veterinário; o diagnóstico, o mesmo: vermes. O medo se espalhou em poucas horas e as casas das sogras logo vão se encher de latidos.

terça-feira, 1 de maio de 2007

Molto Corto

Naquele dia eu vi até uma mulher sendo queimada. A roupa dela se esfarelou, foi um desespero.

sexta-feira, 27 de abril de 2007

Corto ma non troppo

A Clarah foi um susto. Chegou de uma sombra armada pelo telhado de um ponto de táxi numa rua do centro, como a lua que aparece atrás de uma nuvem espessa. Podia estar vomitando, mas foi tudo silencioso; o antes, o durante e o depois. Saiu escorrendo a boca nas costas da mão, mas podia ser culpa de uma lata de cerveja. Não sei se a Clarah jogou a lata na rua ou a colocou carinhosamente em cima do banco dos taxistas. Ou se simplesmente estava vomitando. Podia estar chorando, porque veio de um vácuo apinhado de coisas ausentes. Na verdade, a Clarah poderia nem ter vindo, teria ficado bem ali. Muito bem, aliás. Podia ficar tranqüilamente doze horas sem escovar os dentes e em dez minutos explodir com a ânsia do áspero na boca, arrebentando de amores por escova e pasta; aquele amor intenso cuja consciência do ralo não existe. Mas ela nem usaria uma trema e talvez escovasse militarmente os dentes. A Clarah pode escrever em italiano, pode citar de cabeça um trecho obscuro de um cantor espanhol que nunca ouvi falar, mas não sei se escreveria com trema. A Clarah virou a esquina como quem vai correr em seguida, dar a volta no quarteirão e aparecer do outro lado esbaforida e sorridente. Quando desapareceu na borda do prédio antigo, corri para alcançá-la, mas a Clarah se foi de novo pela escuridão.

quarta-feira, 25 de abril de 2007

Molto Corto

Tinha a nossa música. A gente não sabia cantar tudo; na verdade, sabia a mesma parte. Tive que terminar com ela, não agüentei, depois só tinha o silêncio.

sexta-feira, 20 de abril de 2007

Corto

Inventei a máquina do tempo. Tive dúvida se ganharia na megasena ou se salvaria meu amigo do atropelamento. Comprei um rifle de precisão com mira telescópica, muita munição e me mandei para Canudos. Esperei todas as expedições me fingindo um jagunço doente e louco. Armazenei bastante mantimento. A última estava ocupando já metade do arraial. Iam se espreitando como formigas no formigueiro alheio. Fui para um local adequado e comecei. Até agora conto cento e vinte e dois oficiais mortos. Estou ansioso para a minha primeira leitura do tal Euclides. Esse eu preservo.

quarta-feira, 18 de abril de 2007

Molto Corto

Era um momento delicado. Estavam todos contra mim. Ele teve a coragem maravilhosa de se colocar na frente da multidão que queria meu sangue. Tinha de agradecê-lo, sou generosa, dei pra ele.