Celebremos o anonimato! Pois, ao contrário do que frequentemente penso, não sou notado na multidão. Na verdade nada me nota, talvez até me tratem com um leve desprezo. Sou um mero estranho, a mais pura trivialidade. Sempre quis ser notado, acho eu. Ao menos ser visto por aquela garota desconhecida de sorriso tão simpático, que por alguns minutos fiquei imaginando como seria conhecê-la. Posso parecer um tanto descrente ou decepcionado com essas palavras, mas não. Reconhecer a minha própria invisibilidade, a minha insignificância frente aos desconhecidos é simplesmente uma atitude libertadora. Que a multidão vá para o inferno! Não os conheço, eles nada pensam de mim e por isso sou livre. A minha subjetividade depende disso, dessa insignificância que sou para essas pessoas. E por mais que eu tente admitir ou me convencer de que a opnião alheia é irrelevante, não acho que isso seja factível. Considero sim, pelo menos por ora, o que pensam de mim; mas o que pensam meus amigos, minha família, minhas pessoas queridas e não esses desconhecidos. De novo: para o inferno, desconhecidos! Sartre disse que somos o que fazemos com o que os outros fazem de nós. Mas é preciso limitar esses outros. Vivo, e a maioria de nós vive, em uma cidade de milhões de pessoas. Quantos outros não existem por aí?! Infinitos outros que nem tenho como me preocupar. Pro inferno! Creio que sempre tive uma certa preocupação com os outros, talvez por imaginar - coitado de mim - que sou algo de importante. Já percebi várias vezes o quão minúsculo sou, um microscópico ponto ambulante na face da Terra que de repente poderia sumir e mal ser lembrado (quantas pessoas iriam ao meu enterro?). Pequeno, sou muito pequeno em relação às infinitas posssibilidades do mundo, de onde se pode ir, do que se pode fazer, do que se pode conhecer, do que se pode viver...
Garçon, por favor, uma dose caprichada de anonimato. E um brinde à liberdade!
segunda-feira, 18 de julho de 2005
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2 comentários:
O anônimo. Um grão de areia. Que na praia é levado por qualquer brisa, que pode levá-lo aos olhos de um desafortunado. E aí o grão vira o mundo, malquisto, mas toda uma imensidão.
"
uma espécie de solidão
um mundo de gente
uma porrada de gente
gente pra cacete
todo mundo pra caralho
um bando de gente
uma procissão de gente
formigueiro a dar com pau
e eu ninguém pra burro
"
antônio geraldo figueiredo ferreira
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