sexta-feira, 30 de setembro de 2005

Rendido




Eu
a vi
a senti

Ela
nada me fez
nada me disse

Apenas
me deixou

aos seus pés

quarta-feira, 28 de setembro de 2005

Gosto de Vida


Por Deus!
Aonde é que isso vai dar?!
Não é que eu não gosto. Gosto sim.
Mas me toma a agonia,
Quando já não vejo fim.
É... eu sei, o prazer está em cada degrau, não é?
Por vezes sinto isso, sim.
Por vezes me toma a agonia.
Agonia. Agonia gosto de vida
Gosto sim
Gosto que tem a vida
Gosto de agonia, alegria
Gosto de paixão, desilusão
De amor, dor
Tudo gosto de vida

segunda-feira, 19 de setembro de 2005

Citação - Meu herói


Esse texto é uma citação, foi escrito há um tempo por uma amiga (Amanda). Achei bonito, poético. Ela fala de sofrimento, amor e da dicotomia realidade/ilusão (afinal, o que é o que?). Enfim:

Meu herói

Percorri caminhos sinuosos... e como percorri, à procura de uma resposta para a minha desilusão.

Chorei, sofri, no mais profundo vale da depressão, estava eu, tão só. Relembrei momentos de felicidade, porém estes me tornaram cada vez mais frágil.

Meu corpo jazia naquela escuridão angustiante, quando o mais translúcido feixe de luz surgiu no meio da névoa. Com minhas pálpebras úmidas mal pude enxergar: eras tu. Vieste resgatar-me, eu, vulnerável, me enamorei.

Percebi que a solução de meu desengano era mais simples do que a que eu desesperadamente procurava. Lá estavas, atrás de mim, onde não podia ver, nem notar tua presença. E, num olhar de soslaio, meu corpo estremeceu, meu coração palpitou, minha mente clareou... te avistava.
Os nós formados entre a razão e os sentimentos, meus desejos, meus medos, minha agonia, foram desatados. Tu devolveste a vida, a felicidade, o amor para mim. Tudo estava límpido, calmo e bonito. Porém, meu herói não estava sabendo, talvez tenha reparado... talvez.

Eis minha indagação, tu, meu louvado herói quiçá desatento ou quiçá eu enamorada transcendente...

Ainda que sem perceberes este célere amor desabrochar, fica ao fim destas linhas a confissão de meus sentimentos.

Amo-te

Enamorada

domingo, 18 de setembro de 2005

cadeia




a dialética dera lugar à vida
f. dostoiévski
crime e castigo




meu amor podia até ser aquela menina que passou
mas ela passou
passou o dia, passou a árvore
a vida passou
enquanto eu pensava o que seria meu amor

sexta-feira, 16 de setembro de 2005

Toma um café, um último café...

Não vai, não ainda.
É cedo,
hora não importa.
Fica do meu lado só mais um pouco.
Por favor.
Já sinto sua falta. Quando você for, olha só como vou ficar só.
Um mar de lugar desocupado.
Não há mais ninguém. Não quero mais ninguém.
Só você me faz sentir assim.
Toma um café, um último café...

quarta-feira, 14 de setembro de 2005

Verdade Instantânea

No meio do caminho ou Aos 23 e 4 meses



No meio do caminho, me atinei de tudo aquilo. No meio de toda a indecisão de ir ou não ir, percebi que já não tinha escolha. Ou tinha? O caminho estava traçado, e com letras grandes; quase impossível que eu não visse por onde eu deveria ir. Tudo me indicava o que fazer. Mas não sei por que aquilo tudo não me atraía mais. Antes, de longe, me parecia um mundo atraente, prazeroso, e fácil, muito fácil. Todos parecendo felizes - e talvez até sejam -, pessoas de sucesso, a fórmula da felicidade na sua pura aplicação.
Teria permanecido assim se eu não tivesse pensado, se eu não tivesse me atinado de tudo aquilo. Desejei estar ali, chegar até ali, mas quando já ali desejei não ter visto, não ter sentido, simplesmente queria ter seguido; como teria sido mais fácil, Deus como teria sido mais fácil! Acho que se pudesse escolher naquela hora, optaria pela cegueira, por não ver, ou por uma simples e forte miopia. Bem-aventurados aqueles que não vêem, já me diziam (por que raios não ouvi? nunca ouço). Sem dúvida a felicidade fácil mora ali, naquele caminho seguro por onde muitos passaram. Tudo à mão, tudo na prateleira do supermercado; a felicidade embalada para viagem... E nem fechar os olhos consigo mais, nem isso me resta. Me vejo quase sozinho, a solidão à flor da pele, queimando como uma ferida aberta. Onde é que estão as pessoas?! Onde é que elas se meteram?! Não é possível que não vejam, não vêem!
É, Marco, ao contrário do que imaginou, que difícil fazer um novo caminho no meio da areia virgem...

segunda-feira, 12 de setembro de 2005

Sei lá...


A não ser aí, não sei onde vou parar.
Não acredito em destino,
mas penso que o meu é ser só.
Não acredito em Deus,
mas, meu Deus, o que vai ser de mim?
Sei lá... não sei mesmo.

terça-feira, 6 de setembro de 2005

que quero eu do que?

I

nunca fui o que vi

porque o que vejo é tudo o que sou

II

deito com eles
sonho com tudo

acordo com nada

III

meu querer é míope:
sente
não sabe nada

e o resto busca saber em mim

IV

sou o que vejo
o que ouço
o que toco
o que cheiro e gosto
ou desgosto

eu mesmo eu não sou

V

porque vejo, quero
porque quero, sou cego
e sou velho porque apanho o passado que não vivi
mas que agora vejo

e estranho

VI

sou míope
louco
cego

e estranho

VI

e no dia da minha morte prematura
a primeira delas
as trevas se ocuparam de mim
resolutivas e derradeiras como a fruta madura que cai

vi frestas da luz criativa e dos seus colaterais

VII

essa luz me ofusca
por escassez ou excesso, não sei
pela tolice talvez
e bebo a água da realidade para curar a dor da ressaca
de atrevido que fui
ou guiado que permiti
por tomar certas resoluções

sou tolo

VIII

quê pode querer um míope?
como eu
senão a boa-venturança de um futuro límpido?

quê pode querer um louco?
como eu
senão a imediata obediência das suas loucuras?

quê pode querer um cego?
como eu
senão a planície absoluta de seus caminhos?

quê pode querer um estranho?
como eu
senão o aceite justo do seu íntimo?

IX

mas, meu deus, o que pode querer um tolo?