arnoldo não podia mais com aquela situação. sentado, de pés para cima e mãos cruzadas, jornal na mesa, concebia. aquela sala, pensou, era pequena demais para aquele plano, e resolveu botar os pés na escada para sentar ao ar livre, de pés no chão e fingir ler um jornal que nunca leu. também nunca havia feito mal algum para alguém, afora coisinhas circunstanciais, mas logo se predispôs a parear o adversário. então, jornal debaixo do braço, meteu os pés à casa de orlando. delegou o coração acelerado e as mãos suadas ao mecanismo biológico, no abrigo de sua bondade. com os pés pela calçada, depois ao pé da porta, imaginou, sonhou, esqueceu-se e concentrou-se. enrijeceu-se. ouvindo os passos, manteve-se. o jornal, amassou-se. a porta aberta, os olhos de orlando, furtivos, encarando-o. tranqüilos e raivosos. assustadoramente certos de tudo. o sangue de arnoldo, assustadoramente quente, inflado, jorrava-se da testa aos pés. enxergou a névoa negra, perdeu os pés e o jornal, ouviu todo funcionamento do seu mecanismo biológico, não encontrou nada. resolveu dar tempo a tudo, contou os segundos, ok, você venceu, disse para si. e tudo ficou claro e silencioso, segundos antes de orlando meter uma bala na sua testa. ou de meter uma bala na testa de orlando, vai saber.
sexta-feira, 12 de maio de 2006
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