Mosquitos atravessam vidros. Isto mesmo. Aqueles mosquitos de banana conseguem atravessar o vidro de nossas janelas. E voam, sim, até o décimo andar; nada daquela história que se prega por aí que eles vêm de elevador. Acabei de constatar o fato diante de mim mesmo.
Passo os dias, já faz algum tempo, sentado à minha mesa que é voltada para a janela. Não que fique olhando pela janela o dia todo; não é esse o intuito. Mas acontece, não raro, de eu ser levado por um pensamento passageiro a divagar e contemplar a vista, diga-se de passagem não das mais bonitas. Paisagem urbana repleta de prédios encavalados uns nos outros, com cores horrendas, arquiteturas esquisitas (os arquitetos realmente não tiveram muito bom gosto nos anos 70 e 80) e, mais recentemente, consta na vista uma imensa antena que brota por entre os prédios para ganhar os céus, concorrendo com os helicópteros que pousam aqui ao lado. Essa antena, em particular, faz da experiência de morar aqui um bocado peculiar: me sinto sendo fotografado continuamente quando aqui nesta mesa estou lendo nas madrugadas. Há quatro lâmpadas ao longo da antena que funcionam como flashes que disparam simultaneamente de segundo em segundo e com tamanha potência que quando está escuro - ou quase escuro, porque escuro realmente é difícil de ficar com tanta iluminação afora - funcionam como verdadeiros flashes de máquina fotográfica. Por vezes é deveras incômodo, mas ao menos já me valeu um momento de êxtase interativo-literário. Outro dia, eu lia e, quando num episódio em que a personagem chegava à delegacia cercada de jornalistas a fotografando, senti que os flashes da antena à minha janela saíam mesmo era do livro. Serendipidade.
E lendo estava eu quando algum pensamento mais forte que minha concentração me fez levantar a cabeça. Tirei os olhos do livro e os coloquei a olhar pela janela. Nessas ocasiões, não é difícil ver um mosquito qualquer debatendo-se no vidro, com planos de atravessá-lo. Quando estão do lado de dentro até faço questão de os ajudar a sair, abrindo a janela e os colocando para fora com uns abanões. Hoje, porém, ocorreu algo inacreditável. Olhando pela janela, vi que um mosquito vinha de fora e estava resoluto a entrar. Não debatia-se no vidro repetidamente. Foi como se ele tivesse apenas uma única chance, quando veio de chofre e atravessou o vidro num vôo reto e certeiro. Até joguei a cabeça para trás, como quando se assiste a um filme 3d. Quântica! Esses mosquitos entendem é de quântica! Passada a surpresa, fiz como de costume. Abri a janela e o ajudei a sair - quem é que quer ficar nesta janela a ouvir demolições quando se pode voar?
Passo os dias, já faz algum tempo, sentado à minha mesa que é voltada para a janela. Não que fique olhando pela janela o dia todo; não é esse o intuito. Mas acontece, não raro, de eu ser levado por um pensamento passageiro a divagar e contemplar a vista, diga-se de passagem não das mais bonitas. Paisagem urbana repleta de prédios encavalados uns nos outros, com cores horrendas, arquiteturas esquisitas (os arquitetos realmente não tiveram muito bom gosto nos anos 70 e 80) e, mais recentemente, consta na vista uma imensa antena que brota por entre os prédios para ganhar os céus, concorrendo com os helicópteros que pousam aqui ao lado. Essa antena, em particular, faz da experiência de morar aqui um bocado peculiar: me sinto sendo fotografado continuamente quando aqui nesta mesa estou lendo nas madrugadas. Há quatro lâmpadas ao longo da antena que funcionam como flashes que disparam simultaneamente de segundo em segundo e com tamanha potência que quando está escuro - ou quase escuro, porque escuro realmente é difícil de ficar com tanta iluminação afora - funcionam como verdadeiros flashes de máquina fotográfica. Por vezes é deveras incômodo, mas ao menos já me valeu um momento de êxtase interativo-literário. Outro dia, eu lia e, quando num episódio em que a personagem chegava à delegacia cercada de jornalistas a fotografando, senti que os flashes da antena à minha janela saíam mesmo era do livro. Serendipidade.
E lendo estava eu quando algum pensamento mais forte que minha concentração me fez levantar a cabeça. Tirei os olhos do livro e os coloquei a olhar pela janela. Nessas ocasiões, não é difícil ver um mosquito qualquer debatendo-se no vidro, com planos de atravessá-lo. Quando estão do lado de dentro até faço questão de os ajudar a sair, abrindo a janela e os colocando para fora com uns abanões. Hoje, porém, ocorreu algo inacreditável. Olhando pela janela, vi que um mosquito vinha de fora e estava resoluto a entrar. Não debatia-se no vidro repetidamente. Foi como se ele tivesse apenas uma única chance, quando veio de chofre e atravessou o vidro num vôo reto e certeiro. Até joguei a cabeça para trás, como quando se assiste a um filme 3d. Quântica! Esses mosquitos entendem é de quântica! Passada a surpresa, fiz como de costume. Abri a janela e o ajudei a sair - quem é que quer ficar nesta janela a ouvir demolições quando se pode voar?
3 comentários:
Muito bom! A cena do susto, então!
conheço bem esse tipo; outro dia aconteceu comigo algo extraordinário também. creio que durante a noite, um pernilongo - porque sempre há um pernilongo - se transformou em uma linda mulher ao dar um beijo em mim. ao menos não me lembro de ter entrado com ela em casa, mas também não a tratei com desaforo nem a ajudei a sair; ao contrário. mas tenho pra mim que isso é coisa de prestidigitadores travestidos de eistein.
Arquitetos dos anos 60, 70 e 80 foram os mais egoístas. Acumularam feiúra de 100 anos em apenas uma década.
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