sexta-feira, 11 de maio de 2007

Desabafo

Acompanho muitos sites pela internet. A maioria envolve alguma arte: literatura e fotografia são meus assuntos preferidos, nessa ordem; mas não ficam de lado o cinema, a música e a arquitetura - além daqueles desvios naturais que a rede quase nos impõe. Mas eu não quero falar sobre mim, ao contrário, isto é uma espécie de desabafo, daqueles do tipo "não é possível que eles não percebam".

É o seguinte: algum tipo de doença afeta muitos "editores" da internet e os fazem pensar que o mundo inteiro é conectado. É impossível que quem está sempre por aqui nunca tenha lido coisas do tipo, "a internet está acabando com a imprensa 'de papel'", "com o rádio", "com a televisão".

Bem, no final de 2005 68% dos brasileiros nunca tinham acessado esta nossa grande rede e 55% nunca havia sequer usado um computador. A mesma pesquisa dizia que 9,6% acessava diariamente e 24% o fizeram alguma vez em três meses. Mas isso foi em 2005. Vamos supor que no final deste ano o número tenha triplicado, vá: 30% acessa diariamente. É um exagero, claro, para os que conhecem o poder financeiro de 80% da população e podem compará-lo ao custo da internet.

Pois então. Que acabe com a imprensa "de papel" é até imaginável, embora improvável por enquanto. Mas com o rádio e a televisão? Se desses hipotéticos 30%, metade já tivessem alguma vez escutado um "pod-cast", já seria um espanto. Creio que essa metade nem sabe o que é um pod-cast. E aquela imensa parte da população que continua escutando seu rádio no carro (nas grandes cidades onde se fica muito tempo dentro do carro)? E aquela gente que tem o rádio em casa, aquelas donas-da-casa, empregadas, que ficam escutando durante suas atividades domésticas? Será que há menos donas-de-casa no Brasil do que "internautas"?

Bem, esse auê todo é parte de uma estratégia bastante usada por uma parte das pessoas cujo mundo é visto pelas janelinhas dos computadores: costumam exagerar sobre tudo o que falam (e que naturalmente leva o prefixo "http://www."). Tudo é genial, tudo é o máximo. Às vezes a gente lê e pensa "Porra, como é que eu nunca tinha visto tudo isso nesse tal Fulano?" ou "Onde é que eu estava?". Talvez seja isso mesmo que eles queiram. Polarizam uma espécie de batalha entre comunicação tradicional x internet tal qual um jovem da década de 50 (do século XIX) defendia aquelas então novíssimas teorias socialistas. Talvez tenham a esperança de um dia poderem dizer: "Eu estava lá, fui pioneiro, vanguarda, um dos responsáveis por isso que se transformou". Mas utilizam das mesmas armas: aquela propaganda maléfica cuja mensagem é basicamente "Quem tem, tá dentro, quem não tem, é um merda". Agora, vai explicar que o que eles gastam com o acesso banda larga (que na realidade dessa gente é a única opção possível) é o dinheiro que uns bons milhões de brasileiros usam para sustentar a família...

***

Não sei se era preciso, mas vou esclarecer umas coisas:
1. Não sou contra a internet (não era preciso...);
2. Não sou contra o acesso banda larga, os pod-casts, os You Tubes, etc. (tampouco...);
3. Aliás, não sou contra a maioria das coisas (nem contra quem ganha seu dinheirinho e quer gastá-lo como quiser).
4. Às vezes a gente precisa somente levantar os olhos e olhar através da janela que fica atrás da nossa tela.
5. O mundo todo é um só, nós que o dividimos e depois nos colocamos em umas dessas ilusões.
6. Tudo bem, mas vamos manter pelo menos a consciência de que é uma ilusão...

Um comentário:

Anônimo disse...

Concordo =D