quarta-feira, 18 de agosto de 2010

O Norte

Um continho (ou um trecho de um conto) do André que, para mim, é um poema.

"RUMO AO NORTE

O patrão mandou avisar seis dias atrás: mais duas semanas e só. A garçonete cogitou procurar outras coisas, inencontráveis. Velho jogo de fazer continhas: trinta e oito anos, superior interminado, nenhum saco para o que quer que seja. Daí que avisou ao já quase ex-patrão:
- Vou me mandar.
- Pra onde?
- Norte.
- Tem parentes lá?
- Não.
- Então vai fazer o que lá?
- Não sei.
- Por que não dá um tempo aqui? Te arrumo outra coisa.
- Não quero outra coisa. Só quero dar o fora.
Nenhuma explicação razoável à mão, mas ele tampouco insistiu. Ninguém veramente interessado em ninguém. Pessoas perguntando e respondendo sem dar a mínima para o que perguntam e respondem. Vozes se esborrachando gratuitas em tudo que é lado.
Poeira e fantasmas."

Em "Paz na terra entre os monstros".

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