Galberti foi visto, pela última vez, por um taxista que o deixou na procissão de Santa Bárbara, ocorrida na manhã daquela segunda-feira, na cidade de Patchuco. A foto divulgada pelas autoridades locais mostra a procissão que contou com algumas dezenas de pessoas. O motorista que o conduziu do hotel ao cemitério de onde saiu a procissão, interrogado pela polícia, relatou que o escritor vestia uma jaqueta cor káki, uma calça preta de moletom com os vincilhos desamarrados e levava consigo uma maleta de couro marrom. Disse, ainda, que levava um ar de preocupação e parecia atabalhoado. A queixa de desaparecimento foi dada à polícia pelo gerente do hotel em que Galberti se hospedava, que notou a ausência do hóspede na manhã da quarta-feira. Galberti era devoto de Santa Bárbara e supostamente voltava a Patchuco para agradecer uma graça alcançada.
Outro linha investigativa seria uma secreta ligação mantida entre Galberti e a poderosa máfia local de Patchuco. Comandada pelo Señor Alvarez, el Chuco, essa organização criminosa domina o cartel mundial de suprimentos para máquinas de datilografar, além do concorrido mercado de antigüidades gráficas. O mais recente levantamento das autoridades locais estima que o Cartel de Chuco movimentou em suas contas espalhadas pelo mundo valores superiores a milhões de dólares, em 2006, contrabandeando, inclusive, cerca 3 mil unidades de fitas-refil para datilográficos de todo o mundo. A participação de Galberti no esquema, entretanto, ainda é obscura e incerta.
Alguns amigos mais próximos não descartam a possibilidade de Galberti ter forjado seu próprio desaparecimento. Eles relatam que ultimamente o escritor vinha apresentando períodos longos de ausência e, contrariando sua natureza, deixava freqüentemente crescer sua barba e seus cabelos.
A redação conversou com um colega do desaparecido, que preferiu não se identificar. Ele confessou que sua opinião particular é de que a solução do caso reside em duas probabilidades.
Ele acredita na segunda possibilidade: Galberti nunca existiu e foi ao cemitério para, então, nascer. O amigo compreende a dificuldade de se entender tal afirmação, mas lança uma bomba: "Galberti nunca foi um sujeito descomplicado". Ele acredita, pela leitura dos escritos deixados pelo escritor, que este vivia em um estado psicológico de não-ser e que só poderia se libertar da inexistência e adentrar num mundo de opostos, onde finalmente poderia ser reconhecido como o que realmente viria a ser, quando provocasse em si mesmo o que chamava de Salto Dialético. Ele conecta diversos indícios da obra e da vida do escritor que apontam para essa possibilidade:
- Galberti exercia trabalho voluntário na favela de Heliópolis.
- O escritor queria ser, na verdade, um famoso escalador.
- O desleixo com a barba e o cabelo seriam, na verdade, um recado do seu Id de que queria ser decapitado, ou seja, romper seus laços com o Grande Pai e a Grande Mãe e, assim, finalmente ser tido como um ser que realmente se é.
- Sua banda musical preferida é o praticamente desconhecido trio de música experimental chamado "Hegel e o Salto Dialético".
- Um de seus famosos contos fantásticos narra a história de um homem rico sendo frito (fried-rich) pelo Rei Guiherme VI (Wilhelm) em uma grill George Foreman Jumbo (Georg): o nome completo de Hegel era Georg Wilhelm Friedrich Hegel.
Coincidências ou premeditação, é algo extraordinário, como tudo aquilo no que Galberti se envolvia (inclusive este site). Até o momento, as investigações das autoridades de Patchuco prosseguem sem qualquer pista concreta.