taormina era menina sempre bem vista. tinha desde seus anos novos boa reputação entre as amigas da mãe, dona alva, e entre os pretendentes a compadres de seu pai, senhor aluísio, descendente de italianos fugidos da máfia siciliana. aprendeu o piano, lia os clássicos, bordava pontos caprichosos e não parecia se alimentar de maus ideais. mina, como lhe chamavam os familiares mais chegados, formou-se com louvor no colégio católico, cumpria-lhe então o matrimônio e a maternidade. sentiu-se atraída por um jovem que a pretendia, chamado joaquim, descendente de portugueses que comandavam negócios de exportação de café e recém formado em ciências jurídicas. para completar-lhe o fado de sucesso, mina veio a calhar. seria boa esposa, não lhe restava dúvidas, nem a ninguém. namoraram e noivaram uma semana antes de joaquim ir passar dois anos, que depois viraram quatro, estudando em yale. por essa época, viam-se somente pela oportunidade do feriado de natal, quando ele retornava por duas semanas. e, após longos cinco anos desde que haviam se conhecido, casaram-se e foram de lua-de-mel aos estados unidos. mina apaixonou-se por nova york, manhattan precisamente, e por um sujeito que encontrou no central park enquanto joaquim lhe comprava balões de gás. não trocaram palavras, somente olhares de certeza futura, ensurdecidos pelos barulhos do coração. digo que essas coisas de certezas entre os olhares são coisas misteriosas, tanto quanto o futuro o é. mas a intensidade da paixão permite que a certeza, ainda que duvidosa, o seja. pois tornaram a se encontrar ocasionalmente em uma peça teatral na broadway e depois em uma loja de departamento na quinta avenida. nesse encontro puderam trocar as primeiras palavras, já que mina estava sozinha, porquanto o marido, lhe dissera, estava tratando de negócios ali por perto. para espanto recíproco e ridicularização das primeiras palavras em inglês, eram ambos da mesma nacionalidade e provenientes da mesma cidade. ele comentou a nova moda channel, ela confessou-lhe não gostar tanto, que preferia os clássicos franceses mesmo, quiçá os italianos. ele convidou-a para visitá-lo em paris, para onde estava indo dali a dois dias, ela aceitou e disse que dali a duas hora estaria em seu hotel. foram a paris e ela guardou escondida até a morte uma fotografia dela tirada por ele.
segunda-feira, 21 de novembro de 2005
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Um comentário:
Ficou muito bom. Ou como diria uma amiga, gostei de verdade.
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