quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Programa Não-Governamental de Democratização da Arte


morreu

eles choram
eles noticiam
eles culpam
eles argumentam
eles teorizam
eles não reagem
eles pedem
eles reagem
eles votam
eles brigam
eles julgam
eles prendem
eles sofrem
eles esquecem
e o joão hélio morreu

mesmo

Da Et Cetera #9

Saiu há um tempo a Et Cetera nº 9, da Travessa dos Editores - não confundir com a eletrônica revista etcetera. A edição é bonita e o material de dentro, na maioria, muito bom, mesmo. Dá vontade de comprar as anteriores. Alguns trechos de textos interessantes:

Eu no creio-no amor.
Eu num!
cacrinão!
As pessoa se quere comer. Se lambe. Se quere comer tudas. E tudinhorde, té aí. Mas quando quer comer só nenhuma, na certa, naquela (e isso só porque que a dita da outra (pessoa) tinhalá, seimelá, um nariz mais certo, que ela achava (a pessoa) que era o certo, ou uma bunda mais redonda, um brilho nozolhar) aí que elas inventa o treco do amor, pra poder dizer pras outras que era aquela que ela devia comer.
E ai se fosse só isso.
Mas aí elas conta praquela assim também, que que eu te amo, e meu amor, e coise tale tale coisa, e se come. Aí perde a graça e manda embora.
Ou não, porque costuma e melhor não que nada. Aí ficam-se a mando.
Isso que é o amor, amor.
Isso que é.

(Disjecta pedacia d'Orrato, do Caetano Waldrigues Galindo)


A mecânica quântica nos ensina que não se pode saber simultaneamente onde algo está e com que velocidade se move, e nem é possível prever exatamente o que acontecerá em qualquer circunstância. É impossível prever eventos futuros exatamente, quando nem sequer se consegue medir com precisão o estado presente do universo. Provavelmente ninguém entende a mecânica quântica.

(Como não se precipitar em sonhos?, do Pedro Maciel)


Ainda lá, há uma chamada para o site Rattapallax. Não sei direito o que é; posso definir como uma publicação novaiorquina e multimídia de arte contemporânea, com destaque também para a arte brasileira, como Arnaldo Antunes na poesia e Caetano Veloso, Arto Lindsay, Bebel Gilberto e grupo Zuco 103 na música (conforme o artigo publicado na FSP por Manuel da Costa Pinto). A pubicação é distribuída no Brasil pela Editora 34 e parece que o preço de capa é 25 r$ - aliás, o mesmo preço da própria Et Cetera.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Quesabemos: Cardoso

O FANTÁSTICO MUNDO DAS COISAS

1. A Colher

Colher é um apetrecho TALHÉRICO muito esquisito desde criança e, portanto, muito perturbado pelos coleguinhas na ESCOLA. Com a forma de um GARFO DE LUVA levemente ACONCHEADO, a colher é um ser que cresce para jamais sair do SUBALTERNO. Quando adolescente, serve para fazer todo o trabalho duro; as mais PARRUDAS designadas para SERVIR os pratos e as mais MIRRADINHAS ficam com a tarefa de CAVOCAR sobremesas e sopas. Garfos e facas, que ficam sempre com o mais NOBRE da refeição, deleitam-se com a situação e CAGAM NA CABEÇA da pobre colher.

Mas é no UNDERGROUND que a colher ESMIRILHA todo seu potencial. Já adulta e INVARIAVELMENTE na prisão, desde que BEM LAPIDADA, uma colher pode servir de arma MORTAL. Nas mãos de dentistas CHARLATÕES, que não tem VERBA para adquirir aquele espelhinho altamente tecnológico para ver os dentes lá do FUNDÃO, a colher pode virar um excelente COMPARSA em qualquer tipo de FRAUDE.

Como regra FUNDAMENTAL, uma COLHER somente teme e respeita o profissional do ILUSIONISMO, que tem essa mania irritante de DECAPITAR, AMASSOCAR e MUTILAR o pequeno utensílio com seus PASSES DE MÁGICA. Isto transforma a categoria no único INIMIGO NATURAL da colher que, se não for esperta, já está MOLDADA na forma de um CARRO do URI GELLER a essa altura do campeonato

Cardoso publica em www.qualquer.org/codex

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Neutralização de Carbono do Site

Carnaval. O Brasil unanimemente não quer chuva. O Sol governa com garras mais afiadas: é a falta da camada de ozônio, que deixou de aparecer na mídia para ter edições especiais na pele de todos que o confrontaram sem bloqueios químicos ou físicos.

Diante dessa rubra constatação, o QSEDQ resolveu neutralizar (saiba mais aqui e aqui) suas atividades, em todos os campos em que atua. Bem, como não encontramos meios de calcular quantas árvores deveríamos plantar, e como nenhum de nós possui um automóvel que multiplique drasticamente nossa dívida com o planeta, decidimos que três, por enquanto, é um número razoável (como sempre é).

Em breve postaremos os comprovantes fotográficos dessa investida.

Desconcertos

Do amigo, por ora virtual, Tony Monti (link do blog na coluna da direita):


quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

Que sabemos todos de que?

Afinal, o que você aí sabe de que? Acreditem, as pessoas sabem de tudo. Mas não é nisso que estamos interessados, claro. Queremos a ignorância, o dessaber: o queseieudoque,meufilho, enfim. Foi com esse espírito que convidamos gente de todos os cantos do mundo e de todas as áreas do conhecimento para escreverem sobre algo que desconhecem por completo, que não façam idéia, que não entendem, que nunca sequer tiveram uma distante noção da sua existência material. Teve gente que recusou justificadamente, gente querendo saber do din-din, gente desentendida e, claro, aqueles que aceitaram a tarefa de se sentirem livremente ignorantes. Daí saíram as mais diversas teses e estudos baseados nos mais vagos conhecimentos sobre assuntos importantíssimos para o dia-a-dia da humanidade - como é a praxe da pauta do nosso ignorativo (que, óbvio, não tem pauta). É a série Quesabemos em sua primeira edição: serão publicados dois textos por semana, sem qualquer critério, nem para o dia da semana, nem para a ordem de publicação, acompanhados de uma breve apresentação do autor e onde, na internet, pode ser encontrado (se isso for possível). E, claro, estando nós onde estamos, os textos só serão publicados após o nosso esperado entrudo.
Fiquem com os primeiros colaboradores do Quesabemos, e livres para serem ignorantes conosco.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

3





sábado, 10 de fevereiro de 2007

O Teatro Quântico

Quando o último Papa, o Wojtyla, morreu, fiquei triste, minha garganta fechou e no escuro do meu quarto acendi uma vela em sua homenagem – imagino que Papas devem gostar de velas, o que fiz questão de deixar instantaneamente registrado em uma fotografia da minha Polaroid. Para mim, ele foi o último dos branquelos chefes do Vaticano, pelo menos até agora, porque este alemão-com-cara-de-malvado não é um Papa. Está mais com cara de amigo do Berlusconi e confidente do Bush do que de Papa. Mas não é esse o caso.

Não o conhecia muito bem, o falecido. Via o velhinho da sua janelinha no Vaticano, dizendo umas coisas sempre com sotaque estranho e esse era todo o contato que tínhamos. Ele era o Papa, mas ainda assim se equiparava, no setor de cognição do meu cérebro, à mendiga que via todo dia na calçada da minha rua. Com todo respeito a ambos. Fato foi que eu mesmo não entendi a minha reação com a morte do pontífice Josef.

Não depositei a responsabilidade no título da universidade que eu cursava – a Pontifícia de São Paulo, cujas lembranças estão mais para Fernandinho Beira-Mar e Marcola que o Papa em si. Muito menos em sentimentos nostálgicos do colégio de freiras que estudei do Jardim I até meados da sétima série.

Talvez sentisse de forma reflexa a tristeza profunda que deve ter abatido o nosso enorme povo arrebanhado pela santa igreja apostólica romana; o povo brasileiro de verdade, que tem índio e negro e português e sabe-se-lá-mais-o-quê no sangue. Já que Iemanjá nem Tupã vão morrer, já que nem Jesus, que já tentou, morre mais, esse povo católico (mas meio de esguelha) teve o direito de chorar a ida do único mortal que podiam idolatrar unanimamente. Os sucessos das suas visitas bem mostravam isso, ainda que contassem com o atrativo dos shows do Rei. E nem o Lula morreu nesse interregno para sabermos a verdadeira devoção sentimental do brasileiro ao presidente.

Mas acho demasiada essa minha pretensa super-sensibilidade. Ela não me convence sozinha.

Tampouco haveria de ser alguma verve católica da minha parte. Até fui batizado na Igreja Matriz de uma cidadezinha, prima-comunhado em outra Igreja Matriz de outra cidade e, como disse, estudei anos em colégio de freiras. Mas depois me neguei tão peremptoriamente a possibilidade de fazer a Crisma que não houve mais insistência familiar. Hoje Jesus é uma lenda-espelho de Buda, que é outra lenda, e a Bíblia um compilado de lendas vertidas num códice por interesseiros da antiguidade. Tudo com seu devido valor - devido.

O que foi aquilo, então, meu deus?

As forças midiáticas agindo sobre minha mente indefesa?

Dada a minha midiafobia, mesmo ainda em estado inicial, não creio seja essa a resposta.

Coincidência com um meu estado de fragilidade em virtude de uma crise (i) existencial, (ii) amorosa, (iii) familiar, etc? Nãão... não havia crise competindo com o plantão da Rede Globo e as manchetes do UOL.

Foi então que, um ano e tanto depois, o finado Karol me emocionou novamente, agora com o auxílio evidente de artimanhas midiáticas. Isso quando assisti a um filme – patrocinado pelo Vaticano – sobre a história do tal polaco. O roteiro ia da sua infância à eleição vencida no Vaticano. Passava pela perseguição nazista, a morte do pai e dos amigos, o amor de uma mulher renegado pela batina, a pregação, os supostos milagres que justificaram sua santificação-relâmpago, etc. Então e só então aquele sentimento no meu quarto escuro fez sentido; quem viu o filme com o mínimo de sensibilidade deve ao menos compreender o que digo. Nesse tipo de película nos esquecemos de qualquer discussão sobre as maldades que o bom protagonista defendeu para nos concentrarmos nas coisas boas e capazes de nos emocionar – exercício, aliás, que pode ser praticado de vez em quando com relação a outras coisas neste mundo. Ademais, eu até concordo com a sua contrariedade à camisinha, embora tenhamos, eu e ele, motivos distintos para tanto; mas os motivos não importam quando chegam ao mesmo lugar.

Era a hora certa de entrar em cena. Foi só então que se fecharam as cortinas. Os sentimentos me mostraram que nada têm a ver com esse Tempo que me empurra o tempo todo. Eles se interconectam quanticamente como se estivessem lado-a-lado no mesmo palco e na mesma peça, ainda que anos ou quilômetros distantes entre si; se explicam, se completam, se relacionam, travam diálogos e desfilam monólogos, tudo neste palco aqui: eu. O caso do Papa foi uma peça no meio de outras infinitas que nem sei se começaram e ainda vão terminar, ou se já terminaram e ainda vão começar. Neste meu teatro quântico particular nem eu tenho voz; não posso escolher a hora de entrar ou sair de cena: sou só o palco.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

Whuffie

O Cris Dias cantou e eu reverbero. Informe-se você mesmo na fonte, e depois responda: como anda seu patrimônio?

terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

EntreVistas: Pira (Parte Final)

(...)

JP: Pira, qual foi a viagem mais marcante que você fez?
PIRA: Um vez sobrevoei as cataratas do Iguaçu de helicóptero...
JP: (interrompendo) Playboy, hein...
MARCO: Qual era o modelo?
PIRA: Do helicóptero?
MARCO: Não, do seu vestidinho...
JP: (risos contidos)
PIRA: (vermelho, o rosto) Sei lá, porra.
JP: Hum, ficou nervoso.
MARCO: Então foi por ali que você aprendeu o seu fluente espanhol?
PIRA: Não, não, eu já tinha ido pra Argentina outras vezes.
JP: (cochichando) Marco, gravou isso?
MARCO: (também cochichando) Sim. Parece que ele foi pra Argentina...
JP: Esse cara é louco.
MARCO: Pirado...
PIRA: Comé que é?
MARCO: Pira, mudando de assunto, por acaso você não viu por lá um sujeito de baixa estatura, chamado Galberti Mainardi?
PIRA: Mainardi... Mainardi... Não é aquele escritor?
MARCO e JP: Isso!
PIRA: Sim, sim. Li a última coluna dele na Veja.
JP: Na Veja?
MARCO: Veja?
PIRA: ...
JP: (decepcionado) Pira, obrigado pela entrevista.
MARCO: (calado, ajeita suas anotações - como faz o William Bonner - e se retira do ambiente).
PIRA: ...

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

Relato inacreditável

Mosquitos atravessam vidros. Isto mesmo. Aqueles mosquitos de banana conseguem atravessar o vidro de nossas janelas. E voam, sim, até o décimo andar; nada daquela história que se prega por aí que eles vêm de elevador. Acabei de constatar o fato diante de mim mesmo.

Passo os dias, já faz algum tempo, sentado à minha mesa que é voltada para a janela. Não que fique olhando pela janela o dia todo; não é esse o intuito. Mas acontece, não raro, de eu ser levado por um pensamento passageiro a divagar e contemplar a vista, diga-se de passagem não das mais bonitas. Paisagem urbana repleta de prédios encavalados uns nos outros, com cores horrendas, arquiteturas esquisitas (os arquitetos realmente não tiveram muito bom gosto nos anos 70 e 80) e, mais recentemente, consta na vista uma imensa antena que brota por entre os prédios para ganhar os céus, concorrendo com os helicópteros que pousam aqui ao lado. Essa antena, em particular, faz da experiência de morar aqui um bocado peculiar: me sinto sendo fotografado continuamente quando aqui nesta mesa estou lendo nas madrugadas. Há quatro lâmpadas ao longo da antena que funcionam como flashes que disparam simultaneamente de segundo em segundo e com tamanha potência que quando está escuro - ou quase escuro, porque escuro realmente é difícil de ficar com tanta iluminação afora - funcionam como verdadeiros flashes de máquina fotográfica. Por vezes é deveras incômodo, mas ao menos já me valeu um momento de êxtase interativo-literário. Outro dia, eu lia e, quando num episódio em que a personagem chegava à delegacia cercada de jornalistas a fotografando, senti que os flashes da antena à minha janela saíam mesmo era do livro. Serendipidade.

E lendo estava eu quando algum pensamento mais forte que minha concentração me fez levantar a cabeça. Tirei os olhos do livro e os coloquei a olhar pela janela. Nessas ocasiões, não é difícil ver um mosquito qualquer debatendo-se no vidro, com planos de atravessá-lo. Quando estão do lado de dentro até faço questão de os ajudar a sair, abrindo a janela e os colocando para fora com uns abanões. Hoje, porém, ocorreu algo inacreditável. Olhando pela janela, vi que um mosquito vinha de fora e estava resoluto a entrar. Não debatia-se no vidro repetidamente. Foi como se ele tivesse apenas uma única chance, quando veio de chofre e atravessou o vidro num vôo reto e certeiro. Até joguei a cabeça para trás, como quando se assiste a um filme 3d. Quântica! Esses mosquitos entendem é de quântica! Passada a surpresa, fiz como de costume. Abri a janela e o ajudei a sair - quem é que quer ficar nesta janela a ouvir demolições quando se pode voar?

domingo, 4 de fevereiro de 2007

EntreVistas: Pira (Parte 2)

(...)
JP: Pira, esqueça isso, vamos voltar. Você já preencheu algum formulário?
PIRA: Por supuesto.
MARCO: (comentando) Olha o Pira...
JP: (com todo respeito) Você acrescentaria um terceiro quadradinho na opção "sexo"?
MARCO: (risos contidos).
PIRA: (pensando longamente).
MARCO: Deixa pra lá. Você deve saber que "pira", na língua tupi, é "peixe". Muitos nomes de cidades brasileiras são formados por essa palavra como sufixo ou prefixo, como, por exemplo, a sua própria cidade natal, a agora famosa "peixei grande". Se você pudesse escolher, você seria o quê? Sufixo ou prefixo? Se sufixo, qual seria o seu prefixo, ou vice-e-versa?
JP: (risos mais ou menos contidos).
PIRA: (pensa ainda mais longamente).
MARCO: Então... (ansiosamente tamborilando os dedos na mesa, um seguido pelo outro, começando pelo dedinho).
PIRA: (começa a escorrer uma gota de suor da sua têmpora direita).
JP: Quente hoje, não?
MARCO: Um minuto (sai do ambiente e volta com um termômetro). Vinte e dois graus... (suspira).
JP: É... não muuuito. Onde estava esse... esse...
MARCO: (interrompendo) termômetro.
JP: Isso! Onde estava?
PIRA: (segue pensando e suando).
MARCO: Na geladeira.
JP: (se levanta correndo) Tem que aumentar a temperatura, caralho! As cervejas ... (grito inaudível vindo da cozinha).
MARCO: (segue tamborilando os dedos na mesa).
PIRA: (já não se sabe se ele estava mesmo pensando, mas com certeza suando).
JP: (volta cabisbaixo).
MARCO: João, estava na porta da geladeira.
JP: É...
PIRA: (de supetão) Ah! Já sei!

(a continuar)

Plantão QSEDQ

Da Redação

A Redação acaba de receber uma ligação anônima informando que o escritor Galberti Mainardi, desaparecido desde o último 04 de dezembro, quando misteriosamente sumiu ao meio da procissão de Santa Bárbara em Patchuco, foi visto na fronteira tríplice Brasil-Argentina-Paraguai. As autoridades investigam uma possível ligação do barbudo escritor com Osama Bin Laden e a mundialmente conhecida Al Qaeda (o que repelimos veementemente).

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

QSEDQ EntreVistas: Pira

Francisco Alberto de Pirajá Santos, o Pira, é o primeiro entrevistado da nova série do QSEDQ: EntreVistas. E como algo só pode ser entre duas coisas, no caso, vistas, João Pedro e Marco visualmente conduzem o presente interrogatório. Sim, porque o QSEDQ não entrevista, interroga - sem rogar - e pessoalmente. E prefere gente desconhecida.

Bobagem, vamos ao Pira.

Pira é o gerente administrativo de uma unidade do Exército brasileiro. Ele prefere não mencionar mais detalhes sobre isso. Por que escolhemos o Pira? Ele lê, e escreve. Entrou em contato com a redação deste ignorativo, queria publicar também. Mas como achamos que o Pira era por demais o Pira, pensamos uníssonos (embora os pensamentos não emitam sons, ao menos os das pessoas educadas): interrogue-mo-lo.

A argüição durou aproximadamente 15 horas. Nenhum de nós sabe precisar o tempo exato, pois em certo momento revezamos e em outro, dormimos (cada um em seu respectivo espaço particular). Mas não é isso o que importa: para uma melhor digestão virtual, cortamos os trechos de silêncio (aproximadamente 4 horas), além dos papos-cabeça (27 minutos) e resumimos tudo em 3 partes, que serão publicadas com um breve intervalo entre si, de modo que dê chance para que o leitor naturalmente faça as reflexões cabíveis.

A inqüirição teve um resultado notável pelo nível de QSEDQ do entrevistado (já falamos do índice que inventamos, o "nível QSEDQ" de ignorância positiva?).

A perqüirição se segue, e basta de sinonímia.

JOÃO PEDRO: Pira, prazer. Isso chega a ser um trava-línguas, hein (risos).
MARCO: (que não ri) Não foi boa, não, João.
JP: É... Pira, quantos anos você tem?
PIRA: Trinta e cinco na certidão. Mas onde nasci...
MARCO: (interrompendo) Onde você nasceu?
PIRA: (irritado) Mas onde nasci não havia...
MARCO (interrompendo novamente): Onde você nasceu mesmo?
PIRA: (finalmente ignorando Marco) Não havia cartório nem nenhuma autoridade, lá ...
JP: (enquanto Pira continua falando) Marco, acho que ele não sabe...
MARCO: (Pira ainda fala) É...
JP: (Pira...) Foda-se, volta o gravador pra ele.
MARCO: (...) É melhor...
PIRA: ... então papai e mamãe resolveram fazer isso e eu prefiro dizer mesmo que tenho 35. Mas vai que tenho 40, 45. Ou mesmo 25. Se isso tivesse acontecido mesmo, se eu tivesse mesmo 25 anos, imaginem, há 10 eu tinha 15 e há 25 eu estaria nascendo.
JP: Faz sentido.
MARCO: Mas porque você chama seu pai de papai? Ao invés de você, você também diria "vossa mercê"?
PIRA: Não sei... (pensa longamente). De qualquer jeito, você não é papai (fazendo voz de nenem).
MARCO: Opa, Baby...
JP: Marco, espero que também não seja eu (risos, menos do Pira).
MARCO: (mais risos, não do Pira).
JP: Quero deixar claro, Pira, que não fumamos nada.
MARCO: (termina de rir). Pira, por que Pira?
PIRA: Pira apelido ou pira verbo?
MARCO: E verbo tem letra maiúscula?
JP: Marco, ele não está lendo.
MARCO: É mesmo... (conformado, cruza os braços) apelido.
PIRA: Todo mundo acha que é por causa do Pirajá, mas não é, não. É que lá em Piranguçu, onde nasci...
MARCO e JP: (interrompendo) Ahá!!!

(a continuar)