sexta-feira, 31 de agosto de 2007

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Cortisimo

Li que o amor é ilógico. Por isso me apaixonei por ele: o marido da minha amiga.

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Exposição ENCARA - Uma Reedição Repensada


Nesta sexta-feira (31.8) vai começar uma reedição da "ENCARA", exposição de fotos minhas e da Carol Volpe originalmente ocorrida no Museu de Artes Plásticas Quirino da Silva, em Mococa (foi, aliás e infelizmente, a última do espaço...).


A Carol estará na FAFEM (Faculdades da Fundação de Ensino de Mococa) montando as fotos e os textos - é reedição repensada porque desta vez vai sem os "elementos plásticos" que acompanhavam as fotos nos originais.


É isso, pode continuar.

Da Lucidez da Arquitetura

:: Da Lucidez da Arquitetura ::

Antológica, pra se ter sempre à mão e reler, reler... A entrevista do arquiteto Paulo Mendes da Rocha a Ana Paula Souza na
CartaCapital é de uma lucidez e de uma sabedoria sem tamanho, mesmo que um tanto dolorosa -- infelizmente, a entrevista não está disponível na íntegra no site. Pincei algumas frases:
Uma cidade degenerada


O arquiteto Paulo Mendes da Rocha ergue e destrói a paisagem urbana
*A rigor, devíamos [arquitetos e urbanistas] ser mais ouvidos no plano político, nas questões de desenvolvimento das cidades. É uma pena que haja uma tendência de a arquitetura se tornar banal. Isso é decorrência da vertigem mercantilista do nosso tempo.*


*Falamos em água, ar, mas o que pode acabar antes somos nós mesmos.*

*A arquitetura constrói espaços para amparar a imprevisibilidade da vida, não para determinar comportamentos. A cidade é o lugar da liberdade.*

*O mercado é um horizonte falso e, se ficar no comando do processo, só produzirá asneiras como a dos neoclássicos.*

*A classe média alta é a mais baixa da população.*

*Como revitalizar o centro histórico? Transformando botequim em centro cultural? O botequim era um centro cultural.*

*A cidade é o lugar da reprodução do conhecimento na fala diária dos homens que precisam conviver.*

*A classe média não quer frequentar a liberdade.*

*[...] é essa consciência do próprio desastre que forma estados patológicos como o pânico. São pessoas que já não respeitam o outro, estão num estado de delírio.*

*A cidade é, por excelência, o lugar do discurso do homem, o lugar onde as coisas continuam, como experiência e como vida.*

Por
Paulo Bicarato, às 15:17 de 16.08.2007 - Categoria: Pensatas

terça-feira, 28 de agosto de 2007

E por falar nisso...



Pra quem vai ficar em São Paulo no feriado da Independencia ("??" - para não deixar passar os parênteses políticos...), uma boa é o show de lançamento do novo CD do Ivan no Auditorio do Ibirapuera. Vale pelo violeiro, vale pelo repertorio, vale pelo local.


O nome Dez Cordas origina-se de uma técnica desenvolvida por Ivan onde as cordas são tocadas separadamente em cada par (a viola freqüentemente tem cinco pares de cordas), resultando em uma sonoridade inusitada.

Constelações caleidoscópicas - O Filme




Música do Ivan Vilela.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

O suicídio


Quando ele chegou, uma semana depois que eu, éramos colegas de dormitório. No quartel da 3ª de aviação cada quarto comportava dois oficiais. Na noite que ele recebeu um email da namorada entramos no terreno das conversas profundas. Cinco meses mais tarde coincidiu de ser marcada minha folga com sua prática de voo. Levei a câmera que ele me emprestou para a região desertica ao norte; ele decolou. Voando baixo, ficou se exibindo para mim, como um cavalo girando em volta do treinador. As montanhas chegavam a estar mais altas que ele. Numa delas, ele se transformou numa nuvem. Meu vídeo era seu bilhete.

Spam bizarro

Dear Friend,

I am Hubert Mulumba, a former personal assistant of President Joseph Kabila of the Congo Democratic Republic. Before I proceed further, let me make this point clear to you, I am not contacting you to waste your time and I will not want you to waste mine. Please, if you are dealing with me, give this transaction the absolute attention needed.

I was the Chief Officer in charge of arms and ammunition. Some months ago I was assigned to make payment for arms and ammunition worth $35.5 Million in France, on getting to London, I heard over the newsthat United Nation had given an ultimatum to our president and his former vice president and rebel leader Jean-Pierre Bemba to call for an immediate cease fire. I was then directed by the president to depositthe money with a security company in Durban and return back to Kinshasa. Due to power tussle I was sacked and wrongly detained in an underground prison for months. I was recently released and I managed to escape to West Africa.

I am presently seeking political asylum in a West African Sate and my present status does not allow me to move out of my present jurisdiction. Through a contact I was able to move the money out of the initial deposited company vault in Durban to Europe. Since my fallingout with President Kabila he had made spirited effort to move the money to another security company but could not, since the deposit was made in my name. Please I need your help to claim this money since my present situation cannot allow me to do that.

Upon the receipt of this letter, kindly reply me through my alternative email h_mulumba@yahoo.fr signifying your decision including your fullname, address, occupation, age and private phone numbers for quick communication.

Best Regards,

Hubert Mulumba

Constelação doméstica e aquática



sexta-feira, 24 de agosto de 2007

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

terça-feira, 21 de agosto de 2007

CLB

Outro dia começou a Copa de Literatura Brasileira.

Pronto, pode continuar.

Dean

Gostaríamos de desejar boa sorte aos nossos parcos leitores mexicanos.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Que gosto do que?

Eu gosto das concepções invertidas; é uma característica minha. Gosto da ideia de que a vida é o desfazer da morte, por exemplo. Como num texto de um Wesley, sujeito escritor da turma de outro sujeito escritor chamado André, o do link ao lado. Embora eu seja avesso às turmas literarias, com manifestos (aqui ou aqui, tanto faz, pelo menos) para dizer que são contra manifestos. Eu sou assim, mas isso não nos impede outras quem-sabe infinitas semelhanças de ideias; eu acho. Gosto de um defunto narrando sua vida. Gosto da ideia de uma narração cujo personagem parece ser homem durante toda a historia, até que no fim a gente descubra que sempre foi uma mulher (a não ser que não ocorra o fim dessa historia, como aqui ). Gosto de um livro que fale sobre um livro, que acabam concomitantemente. Sim, por isso tudo eu gosto da semelhança de concepções. Viu?





PS. Na mostra de tecnologia que está na FIESP (FILÉ 2007) tem muito disso, que pode se entender como arte metalinguística - ou metanarrativas, como ouvi daquele mesmo André numa troca de emails.

Roofing-saucer



quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Minha Arte Pessoal - II

(...)

Seria, portanto e concomitantemente, uma "arte" única para cada interpretador. Seria uma "arte" propositalmente indefinida; ou seja, a indefinição transbordaria a subjetividade da interpretação e se estenderia ao próprio conceito "daquilo". Ninguém poderia impor sua conceituação ao outro, nem tampouco se eximir de conceituá-la (nem que tal conceito seja o de não-arte ou mesmo de não-conceito).

Qual seria o próximo passo? Claro. Buscar algo no Google. Busquei, para dar maior abrangência, um termo em inglês: personal art. Encontrei um site holandês que faz quadros com a imagem do cliente, mas com um estilo particular. Tem Warhol, Lichtenstein, Lounge, Photoipod (você como uma sombra e seu iPod destacado), Black&White e Propaganda (que inclui até poster de propaganda comunista com a sua imagem).

Arte Pop?

Encontrei também o site de uma artista brasileira que faz "noivinhos, personagens, potes, portas celulares personalizados, porta fotos personalizados e muito mais", além de achar a arte "uma delícia!!!"

Arte popular brasileira?

Ainda na primeira página dos resultados do Google, cliquei num site francês. Mas como não sei francês, não sei do que se trata esse exemplar do termo que escolhi.

?

É verdade que não passei da primeira página (onde tentei ver ainda este, este e este ), mas não encontrei nada que se aproximasse do que eu queria expressar com "arte pessoal". Incluindo a busca em português, a maioria parecia dizer algo como "minha arte". Portfolio.

Um resultado, no entanto, me interessou. Era um PDF denominado "Arte e beleza: diferentes formulações foucaultianas sobre a estética da existência", que dizia algo bem parecido com aquele Rilke: sobre fazer da vida uma obra de arte. Não vou me aprofundar no que o artigo falava (para isso, vá o leitor clicar no link). Não era exatamente o que eu procurava; forçando, uma fonte inspiradora, teórica, da minha definição.

Mas, então, escrevendo este texto, pensei: se a definição é pessoal, por que eu estou procurando alguma de alguém? Se é pessoal, a origininalidade perde sentido - não importa.

E agora, terminando o texto, eu penso: para quê estou escrevendo tudo isso? Sei lá, é meu manifesto; o manifesto da minha arte pessoal, que só está público para delimitar bem as coisas.


É assim que tudo começou.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Minha Arte Pessoal - I

Andei pensando na utilidade que sempre quis dar às várias coisas que ajunto por aí. Comprovantes de todos os tipos de compras são um dos mais antigos itens colecionados. Comprovantes de cartão de crédito e débito, de pedágio, de estacionamento, de cinema, museu, etc, e de todas as viagens que faço - ao menos para fora do Brasil. Está tudo em caixas e envelopes. Há bastante tempo. Mas mais antigas são as moedas de um centavo. Na última contagem, há mais de 7 anos, eram 200 (ou seja, 2 reais). Depois acho que veio o pó-de-incenso. Isso mesmo, juntei durante muito tempo aquele pó que resta do incenso queimado (o que já disse ser até as cinzas do meu avô...). Têm também os potinhos de plástico onde vêm os filmes fotográficos e, mais tarde, os próprios "casulos" (palavra usada em algumas fotóticas para denominar a própria bobina do filme, muitas vezes reutilizadas nos chamados filmes rebobinados - agora, imagina pedir isso para um laboratório perdido num beco de Istambul...). As rolhas de vinhos. Os cartões de visita. Os outros tipos de cartões (geralmente vencidos, como os dos clubes aos quais não sou mais associado, ou os vazios, no caso dos telefônicos). Os mapas. Aqueles cartões publicitários da Johnnie Walker com frases de efeito, sempre destacando a palavra de maior efeito. As bolachas de chope. Etc.

Um dia, então, tive uma ideia para os comprovantes: colá-los num compensado de madeira (de 1m por 1,6m) que eu tinha em casa e fazer alguma composição com tinta; a tela se chamaria "fuga". Tempos depois, seguindo esse rastro, vieram ideias para os outros ajuntados. Quadros em que eu os colaria com um título que sugerisse alguma reflexão. Assim, os cartões de visita seriam algo do tipo "sociedade" ou "círculo de amigos". Ou até uma combinação de coisas, devidamente dividas de acordo com uma lógica, chamada "ego". Poderiam ser também somente quadros "decorativos", sem título nenhum (e um tanto bregas, um retrô meio anos 80 - a pior década do século passado no quesito bom gosto)(até porque as décadas atual e passada foram tão confusas, receberam tantos adjetivos, que não podemos identificar um gosto para podermos classificá-las).

Mas, daí pensei, estaria eu produzindo "arte"? Bem, como diz o Rilke, nas suas Cartas a um jovem poeta, a arte depende muito mais do artista do que do espectador. Quero dizer, somente eu poderia me responder.

Por um lado, não eram objetos que eu produziria para expor, vender ou mesmo presentear. Seriam visões pessoais do que foi a minha vida. Um tipo plástico de "Em busca do tempo perdido"? Não sei, ainda não li o clássico.

Ou da fase final, autobiográfica do Graciliano Ramos? Também não sei.



Duchamp?

Então comecei a denominar isso de "arte pessoal". Ou seja, seria uma arte voltada somente ao artista e, no máximo, a quem teve uma convivência considerável com ele. A própria definição seria, afinal, pessoal: aquele mesmo objeto seria definido de forma diferente por um eventual espectador deslocado daquela realidade retratada e interpretada.



(... a continuar ...)

terça-feira, 14 de agosto de 2007

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Apocalipse Now!

Eu tenho minha teoria do Apocalipse e acho que todo mundo deveria ter a sua. Acho isso porque, na minha teoria, todos nós provavelmente estaremos vivos quando ele acontecer; na verdade, é mais grave: todos estamos colaborando com ele - que já está acontecendo há algum tempo.
Outro dia eu li uma reportagem sobre um sujeito já velho no mundo da Internet (ou seja, com seus 30 e poucos, 40 anos), que participou ativamente lá do começo do primeiro boom e que ainda está por aí. Ele falava mal da tal web 2.0. O que é isso? É isto; são os blogs, a Wikipedia e tudo isso que conta com a participação de todo mundo (teoricamente). Ele dizia que essa característica ilusoriamente democrática é, na verdade, uma patifaria. Que o mainstream, justamente por ser grande e limitado, por ser conhecido e tradicional, também é previsível: a gente sabe qual revista dá uma ajudazinha ao governo, sabe que aquela outra faz capas para vender e etc. Já com a internet, ou melhor, com a web 2.0, não se sabe quem faz a notícia. Vocês, por exemplo, que não me conhecem; imaginem que este blog não fosse este blog, fosse sobre política e nós fizéssemos um trabalho sério - só que voltado para alguma determinada corrente partidária (sutilmente, claro). Para o tal, esse é o perigo, a patifaria.
(Para outro, um cientista meio louco que implantou um chip no corpo para poder acender e apagar a luz com o movimento da mão (e que apareceu no Fantástico), a internet já é a máquina incontrolável que a ficção científica previa: segundo ele, na prática, não se poder mais pará-la.) Mas este parágrafo foi só um parêntese.
Bem, o que tudo isso tem a ver com a minha teoria do Apocalipse - já chego lá.
Andou muito na "pauta" de todos os noticiários (da internet ou não) a prisão do colombiano de apelido muito engraçado para um traficante internacional perigosíssimo: o Chupeta. Fosse Capeta ou mesmo Vampeta, tudo bem, mas Chupeta? Enfim. Eles estão avançados, muito mais do que eram na década de 80 (é o que esses noticiários fazem questão de frisar, sempre citando o cinematográfico Pablito Escobar). Agora, esse avanço todo (até submarino para levar droga para os EUA eles usam) tem lá seu custo. A lógica, para mim, funciona mais ou menos assim: eles cometem um crime; a polícia vai atrás; eles criam formas para não serem pegos; a polícia cria formas para pegá-los, e etc. No mundo econômico o raciocínio vira: dinheiro para fugir, dinheiro para pegar. Ou seja: os usuários pagam para os traficantes (aqueles que lhes possibilitam o uso) poderem continuar sua nobre função e os cidadãos (usuários e não-usuários) pagam para a polícia impedir que os traficantes sigam traficando. (Vamos deixar de lado os outros custos pagos pelos cidadãos, ok?).
Enfim, a pergunta inevitável: onde é que tudo isso vai dar?
E, mais, quêque o cu tem a ver com as calças?
Primeiro, para onde estamos indo, e em todos os casos aqui citados. Ora, tudo isso levará a uma coisa: a elitização. Traduzindo: quem tem mais dinheiro terá acesso a informações mais ou menos confiáveis (ou ao menos de uma confiabilidade previsível) e às drogas, caso se interesse por ambas. E claro que se interessam, afinal, o que move este nosso planeta repleto de seres humanos? Drogas e informações. Daí chegamos ao Apocalipse.
É que, como já deu para perceber, estamos no meio de um processo de desigualdade social cujo objetivo é gerar sempre um pouco mais de desigualdade (indiretamente, ao menos, se o objetivo, na verdade, é só dar mais dinheiro aos que já têm o tal). Como tudo está avançando muito rápido, naturalmente o fim também chegará mais rápido. Brasil, Índia, China estarão muito mais divididos do que estão hoje. Serão bilhões de pessoas privadas de informações e drogas (as ilícitas, pelo menos).
Se a economia dos EUA já está cambaleando e já se diz que esta crise atual representa um marco na divisão do poder americano com outros países, isso só fortalece essas bilhões de pessoas.
Agora, o que será o meu Apocalipse? Aí eu não sei, já fui longe demais para chegar até o fim... até defender os americanos eu já defendi. Mas me deixem ir um pouquinho mais.
A nossa querida Bíblia, se não me engano, diz que no fim Deus ficará com os bons e arrependidos e chutará os pecadores imperdoáveis para o inferno. Então, quer dizer, será, que o DINHEIRO é o tal Deus?
Agora entendi tudo, porque o Marx era ateu. Entendi.

domingo, 12 de agosto de 2007

Divergência

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foto: Julia

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

The City We Live - Anyday Sunset


The City We Live - Yesterday's Sunset


QuoMércio - Bolhinhas Anti-Estresse QSEDQ®

Não se estresse mais no trânsito! Não destrua suas unhas! Pare de ficar buzinando, xingando e perdendo preciosos anos de vida! Chegou o mais novo produto reciclado do QSEDQ: As bolhinhas anti-estresse! Por apenas 1 real por metro você garantirá sua tranquilidade nas horas do rush descontando todo seu nervosismo nas bolhinhas. É fácil, barato e sem efeitos colaterais.


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quarta-feira, 8 de agosto de 2007

ATENÇÃO - PódiArroz Nº 0

É com muita ignorância que apresentamos a edição número zero do video-podcast do QSEDQ: o PódiArroz!

E nesta edição falamos sobre:

- O que fazer quando não se está trabalhando? (00:00)
- "Terra Estrangeira" (Walter Salles) (00:50)
- O "Minhocão" (03:31)
- Silêncio (com fundo musical de Caetano Veloso) (04:47)
- Voltando a "Terra Estrangeira" (05:12)
- Brasileiros lá fora (05:53)
- Fim (06:22)

Só isso.

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Exceções QLDM II

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foto: Julia

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Chave, portão e pasto.

Era o fim da tarde e eu estava saindo de casa para comer uma mexerica no quintal. E por ser uma tarde de inverno, no meu quintal rodeado pelas montanhas do vale do sul não batia sol. Na pequena faixa de concreto no piso da frente da casa é onde batia o tal do sol de fim de uma tarde de inverno. Meus olhos se recolheram no vão entre as casas e muros onde se projetavam o restante da vargem e as colinas do oeste, tudo já naquela escuridão ofuscante, para depois se dirigirem à brilhante mexerica laranja nas minhas mãos. Não havia sentido não dar uma volta pelo menos até o pasto dos fins da rua – uma caminhada de cinquenta metros de ida. O frio me levava ao sol; a própria logística do se comer uma mexerica!: adubaria a natureza com a casca e o bagaço (é que ultimamente não tenho comido o bagaço), além das sementes que poderiam germinar uma nova árvore – frutífera! – naquele pasto. Para tanto eu deveria voltar para casa e pegar a chave do portão; eu estava disposto a fazer isso mas não estava disposto a esperar para comer despretensiosamente minha única mexerica. Assim, adubei primeiro meu quintal, enquanto voltava já com a chave na mão. Naturalmente abri o cadeado (com todo procedimento regular), forcei um pouco mais que de costume o ferrolho sempre emperrado (mais – porque não costumo chegar ou sair e casa com mexericas na mão) e ganhei a rua e o sol livre esquecendo – propositadamente, embora desconhecesse meus propósitos com aquilo – o portão de grade aberto; é que, na verdade, tudo na frente era uma grade (e naquele momento) (uma frente que ficava para trás)(na sombra)(minha). Ainda na rua, antes de chegar ao pasto, despejei minha sobra orgânica (que de outro modo seria lixo) no meio-fio e parei um pouco passado de dois pedreiros que construíam uma casa num terreno onde todos os muros com exceção do frontal já haviam sido construídos – pelo mesmo “mestre”, como fui saber adiante. Dali para frente começava o pasto a margear a rua pelos dois lados, o sol me atingia na posição de duas horas, bem em cheio na mão que transportava os gomos da outra à boca e o meu resto orgânico para a direção decidida (e não vou entrar no mérito dessa decisão). Virei para esse lado uma meia volta e iniciei uma conversa com o pedreiro que trabalhava o cimento num canto da rua. Conversamos sobre o dono da casa e sua família, depois falamos sobre o que cada um fazia da vida, e por fim sobre a própria vida: a importância do dinheiro, as escolhas que a compõem. Essa conversa, claro, durou mais que o tempo de comer uma mexerica, durou até acontecer d’ele comentar que estava com pressa porque ainda tinha que pegar a filha na escola e eu, que antes desse comentário havia dito algo sobre a segurança que tive ao viver naquele rua, observar meu portão aberto e me despedir prometendo recomendá-lo a um pequeno empreiteiro conhecido meu. Caminhei de volta, já sem nada para dificultar a abertura do portão por estar ocupando minha mão (embora, sim, o portão já estivesse aberto), já sem ofuscar meus olhos que miram minha sombra, as mãos fechando o portão, o sol poente intercalado pelas sombras verticais da grade e minha própria sombra se unindo à sombra da casa.