sábado, 21 de agosto de 2010

Adagio

Só porque agora resolvi escrever um post que estou escrevendo - um post (postagem fica muito Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos e nestes tempos eleitorais é melhor evitar reminiscências do tema). Isso é inexorável, tanto quanto o seu pensamento, de início adagio, logo presto, prestissimo, de que isto tudo não passa de engambelação. E - suspiro - o que não é? Inclusive esta mania caetanística de ou nãos.
Às vezes me presto de apoio, mas não em semelhança a bengalas e corrimãos, mas sim a esteira emborrachada da escada rolante. Quero dizer - sim, uma merda, mas vamos andando que ficar é pior.
Mas tudo bem, já estamos cansados disto tudo. Estamos buscando o novo amanhã, não é mesmo? Só assim teremos nosso rosto devidamente outdoorizado. E às vezes somos muito dos outros, ou do outro. Que felicidade!
E as mensagens de sri-sri são sempre tão macias, aveludadas como o córrego do Rio Manso que:


Mas, meu amigo, - o que posso dizer? - você precisa de ajuda - é o que dizem - mas você está certo, certíssimo, mais certo só atando o nó final que te jogará no nunca do nada; mas aí não poderemos mais sentar ao sol (esse sol filho-da-puta), respirar fundo e tentar se convencer de que, nossa!, tudo existe: o gramado plantado, o lago represado, o ar poluído, e mesmo assim, e por isso mesmo, sentirmos um traço pequeno de força na nossa powerbar.
E lembrarmos das nossas tardes em que consoles e telas viravam roupa negra e armas construídas, missões inventadas; em que calois viravam cometas; em que meia dúzia de árvores viravam uma floresta num vale mágico.
Meu amigo - você deveria me conhecer -, falo pelo avesso. Este post é para você, mas você nunca vai saber da existência disto e assim - confesso - multiplicarei essa culpa que te esmaga, que te cega, que te chacoalha até te esgotar qualquer capacidade de raciocínio e entrega. E nada te dirá respeito, a não ser o fato - de novo - inexorável da inexistência.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

O Norte

Um continho (ou um trecho de um conto) do André que, para mim, é um poema.

"RUMO AO NORTE

O patrão mandou avisar seis dias atrás: mais duas semanas e só. A garçonete cogitou procurar outras coisas, inencontráveis. Velho jogo de fazer continhas: trinta e oito anos, superior interminado, nenhum saco para o que quer que seja. Daí que avisou ao já quase ex-patrão:
- Vou me mandar.
- Pra onde?
- Norte.
- Tem parentes lá?
- Não.
- Então vai fazer o que lá?
- Não sei.
- Por que não dá um tempo aqui? Te arrumo outra coisa.
- Não quero outra coisa. Só quero dar o fora.
Nenhuma explicação razoável à mão, mas ele tampouco insistiu. Ninguém veramente interessado em ninguém. Pessoas perguntando e respondendo sem dar a mínima para o que perguntam e respondem. Vozes se esborrachando gratuitas em tudo que é lado.
Poeira e fantasmas."

Em "Paz na terra entre os monstros".