segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

como morrer em público

um pedreiro desabou no passeio

(a criança o carregou nos ombros por sete metros até o pronto socorro municipal)

debateu-se em frente à escola juvenil

assustando a vendedora de cachorro-quente

chamou-se a ambulância

era tarde

morreu às onze horas da manhã

constou no relatório do IML

quatro horas depois.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

sumidouro

rumo e norte
cadê você?
você está - não lá
sumimos
no sul
e ninguém mais.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

autópsia

você está viva, palavra

viva mas cansada

se não for logo ressuscitada

vai é morrer arruinada.

estou vivo
tire a mão daí
não corte meu umbigo
que eu ainda estou vivo.

não morri
meu coração não parou
use em outro o bisturi
que eu ainda não morri.

quero voltar para casa
me tirem desta mesa gelada
destapem logo meu nariz
meu deus, o que foi que eu fiz?

sábado, 9 de outubro de 2010

KLEE de novo

porque nunca é demais lembrar:

"First the cramped self, that self with big blinkers, then the disappearance of the blinkers and the self, now gradually the reemergence of a self without blinkers."

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

aos modernos

Chegou o momento de reavaliar a declaração outrora aterrorizante de John Ruskin, de que a arquitetura é a decoração da construção, mas devemos acrescentar a advertência de Pugin: está correto decorar a construção, mas jamais construa a decoração. (1972)

FIM

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

bilhete*

Estou muito envergonhada com essa situação. Nunca pensei que meu filho pudesse se juntar a essas pessoas. Sempre ajudei ele; agora é só tristeza e vergonha.

* não ficional

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

As cidades...

Marco entra numa cidade; vê alguém numa praça que vive uma vida ou um instante que poderiam ser seus; ele podia estar no lugar daquele homem se tivesse parado no tempo tanto tempo atrás, ou então se tanto tempo atrás numa encruzilhada tivesse tomado uma estrada em vez de outra e depois de uma longa viagem se encontrasse no lugar daquele homem e naquela praça. Agora, desse passado real ou hipotético, ele está excluído; não pode parar; deve prosseguir até uma outra cidade em que outro passado aguarda por ele, ou algo que talvez fosse um possível futuro e que agora é o presente de outra pessoa. Os futuros não realizados são apenas ramos do passado: ramos secos.
- Você viaja para reviver o seu passado? - era, a esta altura, a pergunta do Khan, que também podia ser formulada da seguinte maneira: - Você viaja para reencontrar o seu futuro?
E a resposta de Marco:
- Os outros lugares são espelhos em negativo. O viajante reconhece o pouco que é seu descobrindo o muito que não teve e o que não terá.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

a lhama que fuma

sábado, 21 de agosto de 2010

Adagio

Só porque agora resolvi escrever um post que estou escrevendo - um post (postagem fica muito Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos e nestes tempos eleitorais é melhor evitar reminiscências do tema). Isso é inexorável, tanto quanto o seu pensamento, de início adagio, logo presto, prestissimo, de que isto tudo não passa de engambelação. E - suspiro - o que não é? Inclusive esta mania caetanística de ou nãos.
Às vezes me presto de apoio, mas não em semelhança a bengalas e corrimãos, mas sim a esteira emborrachada da escada rolante. Quero dizer - sim, uma merda, mas vamos andando que ficar é pior.
Mas tudo bem, já estamos cansados disto tudo. Estamos buscando o novo amanhã, não é mesmo? Só assim teremos nosso rosto devidamente outdoorizado. E às vezes somos muito dos outros, ou do outro. Que felicidade!
E as mensagens de sri-sri são sempre tão macias, aveludadas como o córrego do Rio Manso que:


Mas, meu amigo, - o que posso dizer? - você precisa de ajuda - é o que dizem - mas você está certo, certíssimo, mais certo só atando o nó final que te jogará no nunca do nada; mas aí não poderemos mais sentar ao sol (esse sol filho-da-puta), respirar fundo e tentar se convencer de que, nossa!, tudo existe: o gramado plantado, o lago represado, o ar poluído, e mesmo assim, e por isso mesmo, sentirmos um traço pequeno de força na nossa powerbar.
E lembrarmos das nossas tardes em que consoles e telas viravam roupa negra e armas construídas, missões inventadas; em que calois viravam cometas; em que meia dúzia de árvores viravam uma floresta num vale mágico.
Meu amigo - você deveria me conhecer -, falo pelo avesso. Este post é para você, mas você nunca vai saber da existência disto e assim - confesso - multiplicarei essa culpa que te esmaga, que te cega, que te chacoalha até te esgotar qualquer capacidade de raciocínio e entrega. E nada te dirá respeito, a não ser o fato - de novo - inexorável da inexistência.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

O Norte

Um continho (ou um trecho de um conto) do André que, para mim, é um poema.

"RUMO AO NORTE

O patrão mandou avisar seis dias atrás: mais duas semanas e só. A garçonete cogitou procurar outras coisas, inencontráveis. Velho jogo de fazer continhas: trinta e oito anos, superior interminado, nenhum saco para o que quer que seja. Daí que avisou ao já quase ex-patrão:
- Vou me mandar.
- Pra onde?
- Norte.
- Tem parentes lá?
- Não.
- Então vai fazer o que lá?
- Não sei.
- Por que não dá um tempo aqui? Te arrumo outra coisa.
- Não quero outra coisa. Só quero dar o fora.
Nenhuma explicação razoável à mão, mas ele tampouco insistiu. Ninguém veramente interessado em ninguém. Pessoas perguntando e respondendo sem dar a mínima para o que perguntam e respondem. Vozes se esborrachando gratuitas em tudo que é lado.
Poeira e fantasmas."

Em "Paz na terra entre os monstros".

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Pensamentos modernos



"Isto dá um post"

Em "A vida televisionada"

sexta-feira, 11 de junho de 2010

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Outdoor

Me entenda, eu não sou cego; só não enxergo como você deve imaginar. Os olhos não me são úteis nessa tarefa embora funcionem normalmente. Vejo, mas isso é o de menos. Para mim, imagens são imagens assim como um X-burguer é um X-burguer. Na verdade, não preciso enxergar porque todos já o fizeram por mim e fazem questão de compartilhar suas imagens por todos os meios possíveis, embora uns sejam mais convincentes que outros - e é mais ou menos nisso que me fio. Tampouco tenho valores, que esse esforço me dispensei. Criá-los importariam escolhas que não me parecem necessárias. Prontos, estão aí aos montes, infinitos. Da minha parte só tenho que costurá-los de uma forma equilibradamente aceitável - o que por si já dá esforço suficiente até o fim da vida. De modo que certo ou errado é uma questão contingente, pouco ou nada relativa a valores universais; belo ou feio, então, é o sumo da inutilidade no emprego do pensamento e das emoções: se aí está a coisa, para quê mais? Ou razões inexplicáveis seriam mais confiáveis que este meu raciocínio simples de entrega e aceitação? Se você me diz que este quadro é feio, eu não discuto; mas cá em mim, é colocação bem mesquinha a sua. Estando o óleo pincelado, a tela enquadrada, que importa a todos, a tudo, sua opinião? ao quadro, nem que você cuspa involuntariamente enquanto esbraveja contra sua composição, não importa - se exagerarmos imaginação, ele te achará no máximo um cuspidor; limpará o rosto e seguirá postado para alguma eternidade. Agora, se estamos falando de evolução, minha posição será preferencialmente positiva, embora nem sempre bem sucedida. Não importa muito: limpo minha cara e sigo. Se me exijo combate duro contra a preguiça, não deixo de cochilar para ver se é assim mesmo - e assim engano a mim e a preguiça, porque é sempre melhor enganar antes de ser enganado. Se me exijo razões, invento algo que me convença tanto quanto um achocolatado instantâneo; sorvo, lambo o resto e coloco a louça para lavar: reset na veia. Autêntico? faço questão de não ser na medida em que isso o seja. Siga você enxergando, louvando seus óculos, a luz do dia, as flores e me deixe apreciando esse outdoor.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

sexta-feira, 23 de abril de 2010

sexta-feira, 16 de abril de 2010

sábado, 3 de abril de 2010

quarta-feira, 31 de março de 2010

terça-feira, 30 de março de 2010

PAUL KLEE

"First the cramped self, that self with big blinkers, then the disappearance of the blinkers and the self, now gradually the reemergence of a self without blinkers."

sábado, 27 de março de 2010

domingo, 21 de fevereiro de 2010

o cárter

retrógado
proteger-se
drogavenéreos
melhor
saber-se
gado
que forafoda
sábado
é só balançar-se
lá na morada
daquelalgumas
sem esforços
e máscaras
acompanhante
gratuito
da solidão
escravo
de força maior
dorme
dorme
mansoelento
a máquina
te recruta
quemsabe
na próxima emergência

anhumas, 14.02.2007

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

aconteceu

outro dia
encharcado
empuleirado num ponto de ônibus
(um deck de um rio urbano)
defronte para confortáveis mansões
do villagio di venetto
uma senhora perdeu seu par de sapatos novos
(a sacola rasgou)
(seguiu com a água até, não sei, o tietê?)
e eu imaginando novos itens design
para são paulo das chuvas:
um skate-wakeboard
um vestido inflável
e outras coisas que eu já esqueci
porque isso foi outro dia

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

citação

afinal, o percurso da evolução é processo de subtração e, não, adição