terça-feira, 18 de outubro de 2011

FIM

"Isto é o fim, ele pensa. E o fim nunca termina."

André de Leones, no "Dentes Negros"

sábado, 8 de outubro de 2011

Coluna romana


coluna, panteão, roma/2011.
repensando aquela foto do mec-rio (link)

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

terça-feira, 23 de agosto de 2011

descarga

os técnicos passaram com o caminhão da companhia de eletricidade distribuindo a nova fiação pelas ruas e o zelador estava ocupado em cortá-la para ligar ao circuito do prédio quando chegamos e não pudemos entrar com nosso carro. pulamos a grade por um canto com as pizzas e os refrigerantes na mão e atravessamos uma bacia de areia cheia de cacos de vidro de garrafas de bebidas alcoólicas para chegarmos no nosso apartamento. como estava com os pés carregados de areia, gastei um bom tempo batendo-os no capacho da porta do banheiro, cômodo no qual estava resumido nosso apartamento. senti orgulho da minha conduta, como uma criança que aprendeu a andar, talvez. e talvez por isso, mas isso é incerto, juntei dois pedaços de pizza, piquei-os como folhas de papel e, mediante um raciocínio meio melindroso, conclui que seria mais adequado jogar os pedaços no vaso sanitário - o que, naturalmente, só me fez mais orgulhoso de mim.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Matisse, de novo


não é brincadeira. o bom e velho Henri, emocionado com o aumento da família, fez questão de nos presentear com um pout-pourri - desta vez, munido de lápis de cor e pastéis de várias cores.

domingo, 7 de agosto de 2011

flores e cerâmica

vocês não vão acreditar, mas o velho Matisse esteve por aqui de novo. nossa situação era ainda mais precária e desta vez só tínhamos uma bic preta e um moleskine.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

O Enterro

O féretro sairia às 11:30 da porta do Teatro e, não fosse um erro banal de planejamento, chegaria ao cemitério no meio-dia. Subindo 10 metros pela rua e depois seguindo a Avenida, o cortejo não teria dificuldades em encontrar o túmulo já reservado ao falecido diretor. Seu Dalto, zelador indignado do Teatro, naquela mesma tarde comentou com Dona Maria, faxineira:
- Esses filhos da puta não fazem uma merda que seja certa.
Seu Dalto tinha razão. Acostumados a perambular a pé pela região, os organizadores se esqueceram de que aqueles 10 metros de rua eram contramão. E pior: só perceberam depois do carro fúnebre iniciar o trajeto e andar o quarteirão todo. Na primeira esquina, foram despertados pela hesitação: se virassem à esquerda, logo em frente teriam que descer à direita, saindo no Largo, entroncamento confuso que suas mentes não conseguiram desmistificar. Se pegassem a direita, obrigatoriamente teriam que virar à esquerda, caindo no mesmíssimo Largo.
O carro fúnebre parou e o cortejo, estendendo-se por todo o quarteirão, permaneceu parado, com os respectivos pisca-alertas acionados e os óculos escuros a esconderem o rebuliço dos entreolhares. Aqueles que ainda não tinham entrado na rua, depois de 2 minutos, resolveram seguir direto para o cemitério. E por causa de um infeliz que se encontrava ali no meio para deixar seu carro num estacionamento e ir ao escritório do seu contador, ninguém mais conseguiu dar ré. Ele tampouco queriar recuar a 20 metros do seu destino final e isso inaugurou um buzinaço, não é preciso dizer, incompatível com a ocasião.
O motorista do carro fúnebre, um sujeito apático, aguardava a resolução dos organizadores que, nesse momento, estavam tentando argumentar com o infeliz intrometido. Depois de 15 minutos de conversas, bate-bocas, vira-costas etc, percebeu-se que a Ré era impossível. Teriam que decidir: direita ou esquerda?
Seu Dalto afirmaria até o fim dos seus dias que não via razão para que não tivessem seguido pela esquerda, depois direita e depois, na segunda à esquerda, subissem até o fim para virarem novamente à esquerda e daí, seguindo o fluxo, caírem na Avenida do Cemitério. Já Dona Maria, gargalhando largamente, achava que pegando à direita, seguindo o sentido obrigatório à esquerda, depois virando na primeira à direita, seria possível pegar uma rua que cairia no começo da Avenida. Mas Seu Dalto, do alto do seu Monza 92, afirmava pigarreando:
- Não. Ali só ônibus.

(a continuar)

domingo, 1 de maio de 2011

XUL SOLAR

(...) que espero la llama creadora que puede apagarse antes de venir (todo falso), que debo formarme una profesión, que quizás no llegue a nada, que no debo espacirme en tantas vías, que tengo que vivir la vida, que yo no la conozco, que no conozco el dolor verdadero, que debo ganarme el pan, que mi manera de querer vivir es teórica, que debo tener base sólida, que toda mi amargura y dolor pueden existir por idiosincrasia, sin causa para ello, que yo tengo talento, que en definitiva basta a dos artes, que hay que encarrilarse, que no hago nada, que debo practicar un arte ganando dinero en ello, y mil cosas más: En resumen, que si no cambio radicalmente seré absolutamente un fracasado. Debo recordar todo esto y fortificarme trabajando (...)

sábado, 16 de abril de 2011

a cidade imperdoada



hoje a cidade me acordou sem nenhuma intenção de perdoar minhas idiotices. a despeito das sirenes e das buzinas, das freadas bruscas e dos gritos histéricos indecifráveis, seu cinza reluzia à cobre. um alquimista deve estar contente, pensei enquanto minhas pernas reclamavam da sua estufa particular. nas esquinas os mesmos buracos, uma demolição arrancava sua carne e os carros seguiam carregando seres mistificados pelo motor. eu não te quero, seu cobre é tolo, nossa coisa : não te perdôo.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

O André descia na frente um caminho que dava na praia. Havia coqueiros em toda encosta e um grupo de quatro pessoas os balançava na esperança de que um coco caísse. O André, deixando-se embalar com a descida, deu uma voadora num tronco e dois cocos caíram. Um se esborrachou e o outro, meio franzino, caiu no mato e rolou até uma moita. Enquanto o André chorava pelo que tinha se partido e já tentava comer a polpa, os quatro sujeitos se deram conta do que havia acontecido e concluíram que tinham direito àqueles cocos. Algum direito, pelo menos. Eu vinha subindo a encosta com o coco inteiro nas mãos, chacoalhando-o para conferir a existência de líquido, quando vi os brutamontes se aproximando do André. Não queriam saber de muita conversa, queriam seus cocos. O André tentou argumentar (como sempre), mas vendo que isso não nos levaria a nenhum lugar além da pancadaria, adiantou-se por um atalho e, com o pedaço de coco que tinha nas mãos, acertou a têmpora do maior deles, curiosamente chamado Maguilha, com LH mesmo. Diante dos 2 segundos de choque sobre a turba, acompanhei o André no seu atalho e arremessei (se é que um arremesso a 50 centímetros de distância pode ser chamado de arremesso) o meu coco na cabeça de outro sujeito, que rolou por uns 10 metros encosta abaixo.
A praia continuava lá em frente, atrás do coqueiral. Enquanto a pancadaria rolou, equilibrada no número de lutadores, podíamos ouvir as ondas e as vozes das crianças na areia. Era lá que queríamos estar.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

quarta-feira, 30 de março de 2011

a canoa tombava a toda hora e a cada hora uma das amigas desistia, até a hora em que ela ficou sozinha. na sua cabeça estava cercada por tubarões mas lá fora um pinguim nadava tranquilamente.

sentada num rochedo, observava as ondas investirem para o alto. depois delas, continuava olhando para o mar e as ondas.

na areia, reencontrou todos, mas um medo persistia. era uma charada.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

True Grit

houve uma perseguição inesquecível que empreendi na rua da minha casa. era noite e eu estava na cozinha quando vi nosso gato caminhando agilmente atrás de um rato pequeno. sem ter muito o que pensar, saí correndo para fora: os três, no meio da rua, devíamos formar uma imagem pitoresca: eu atrás do gato atrás do rato. até que ele o alcançou e começou com umas brincadeiras que me pareceram pertencer à profunda intimidade entre duas espécies tão imbricadas nos respectivos cursos evolutivos - como criança brincando com areia. deslocado, deve ter sido a primeira vez que me senti "segurando vela" - uma quina aparada de um triângulo. Ou talvez eu tenha desistido da insensata perseguição muito antes das brincadeiras que costumam coroar esse tipo de relacionamento e tenha voltado a me ocupar da comida um tanto simples que eu já começara a ensaiar com aquela idade.

Black Swan

agora, animal matável, mas quase imortal, era o urubu. distante, inalcançável e perigoso até para aviões. o fato de ser feio e fedido - embora nunca o tenha visto nem cheirado de muito perto até a bienal do ano passado - era relativizado pelo outro fato de estarem voando sempre muito alto, serenos, espiralando correntes de ar ou espreitando um moribundo.

mas na verdade não era disso que eu queria falar. ou era.

diante daquela lonjura, daquela tranquilidade inabalável, eu me sentia um monte de carne sangrenta queimando os pés nas pedras da piscina esverdeada; e temia quando chegasse a minha vez de ser o olho daquele tornado negro e suave: certeiro. mordiscariam meus olhos? eu pulava na água e me esquecia de tudo, desaparecendo sob o lodo e, de vez em quando, até cortava o pé num dos azulejos lascados do fundo invisível da piscina. saltava as sucessivas grades e ia choramingar num canto onde provavelmente poderia ser visto.

cansado de esperar, entrava no banho e curtia a pele enrugada olhando a permanência dos urubus pela janela do banheiro: ardia. depois, não há depois: continuo sem ter ideia de onde eu fora parar.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Winter's Bone

na minha cabeça de criança houve sempre uma diferença muito clara entre os bichos matáveis e os não matáveis - não coincidindo, claro, com os comestíveis e não comestíveis. pardais podiam ser exterminados, inclusive seus filhotes retirados do ninho, das maneiras mais cruéis - dando, vivos, de comida aos gatos, por exemplo. andorinhas, não, porque seus ovos eram vítimas dos pardais. pombas, como pragas, sempre mereceram a mira das armas que caíram nas minhas pequenas mãos: estilingues, revólveres de pressão e espingardas de chumbinho. beija-flores eram o sumo do que não se deveria molestar, mas gambás nós atacávamos com toda fúria: venenos e cachaças disfarçados em ovos e bananas, pauladas à vontade. isso durou bastante tempo mas depois, inexplicavelmente, os bichos começaram a sumir da minha vida - ou eu da deles. e de tal modo esse hiato se transformou em reset que já não vejo nem pardais, nem andorinhas, nem gambás. pombas, sim; mas quando vou procurar o estilingue no bolso de trás, ele já não está lá: é como se nunca estivera.

A notícia vivenciada

Os gritos agudos, ecoando pelos prédios, interromperam o trabalho - já atrasado - dos pedreiros. Imobilizado, o pequeno não tinha muito o que fazer. Seu companheiro hesitava entre fugir e pular no colo da senhora: amarrado, e vendo-a berrar, só lhe restava rezar para que a turba não investisse também contra ele. Passantes acudiram, desferiram paneladas e bicudas, mas nada pôde contra a morte: o pequeno llasa acabou seus dias como um frango desossado, rolado até a sarjeta para não atrapalhar o trânsito. Os boxers lamberam os beiços e voltaram para casa - deviam ter sede e alguma sensação muito profunda de dever cumprido. A dona do falecido desfalecia nos braços de dois condolentes. E, na esquina, os quase acidentes voltaram a distrair o trabalho atrasado dos pedreiros.


para assinantes Folha: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0402201115.htm
a tempo, para não assinantes: http://bit.ly/fM5EpY

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

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"todas as coisas foram feitas por meio dela e sem ela nada se fez do que foi feito"

e deus
fez a luz
e a luz
ofuscou deus
e então
criou-se a palavra

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

31° do André

A expectativa era de que o apartamento estivesse cheio, com grupos de pessoas se reunindo e se separando - e a variedade de bebidas seguisse a mesma lógica. Todos, com exceção do aniversariante, seriam completamente desconhecidos. Tensão.
Mas, enfim, adentrando ao recinto, éramos 6, incluindo Salompas Cat - membro muito ativo, por sinal. A coisa toda muito à vontade, pequenos saboreios de cachaça, cerveja gelada e variados tira-gostos. Em certo momento até Strokes, This is it, o melhor deles. E as coisas que deveriam ser sempre assim: por que, afinal, não são? Mas isto é só um agradecimento nosso ao texto do André. Suerte, amigo.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

tardes achocolatadas

“Mas nada se transformou, e agora está evidente que foi justamente com a minha aventura que joguei fora as probabilidades da transformação” I. Kertész

E eu que, me lembro bem, sentia um conforto (agora) (estranho) naquela casa com muros nas janelas e pisos frios quando, espremidos entre pães e margarinas e copos azuis, bebíamos toddy (®) (ele chegava a consumir uma caixa inteira nisso) e (ainda) acreditávamos no que falávamos. As tardes promissoras (de frio?) em que andávamos pelas ruelas (sempre) (estranhas) e imaginávamos projetos que (ainda) não sabíamos impossíveis, indo para lugares certos, seguros (e inconscientes) de que nossa idiotice era o máximo do que podíamos. Estávamos errados (claro) e porque (é claro) um idiota não pode ser o máximo de nada que não seja a própria idiotice (o que já é de um otimismo idiota). E se passamos o resto de nossas vidas tentando corrigir aquelas tardes significa que continuamos nelas, é a pergunta que eu nunca soube perguntar e ele nunca estaria pronto para responder. E se (agora) busco (e encontro) prazer em tomar um copo de toddy (®) numa tarde devoluta, perpetuo (desesperado) o eco de um som que (a rigor) nem (sequer) existiu (?).

Acabou.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

sua receita

minha letra não me diz nada

e as fontes inúmeras do computador

dizem tudo.


você esqueceu uma receita em casa

com uma caneta grossa escreveu um mundo:

é minha.


a receita que você deixou começava:

cenoura, farinha, leite condensado,

eu me perdia.