sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Winter's Bone

na minha cabeça de criança houve sempre uma diferença muito clara entre os bichos matáveis e os não matáveis - não coincidindo, claro, com os comestíveis e não comestíveis. pardais podiam ser exterminados, inclusive seus filhotes retirados do ninho, das maneiras mais cruéis - dando, vivos, de comida aos gatos, por exemplo. andorinhas, não, porque seus ovos eram vítimas dos pardais. pombas, como pragas, sempre mereceram a mira das armas que caíram nas minhas pequenas mãos: estilingues, revólveres de pressão e espingardas de chumbinho. beija-flores eram o sumo do que não se deveria molestar, mas gambás nós atacávamos com toda fúria: venenos e cachaças disfarçados em ovos e bananas, pauladas à vontade. isso durou bastante tempo mas depois, inexplicavelmente, os bichos começaram a sumir da minha vida - ou eu da deles. e de tal modo esse hiato se transformou em reset que já não vejo nem pardais, nem andorinhas, nem gambás. pombas, sim; mas quando vou procurar o estilingue no bolso de trás, ele já não está lá: é como se nunca estivera.

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