quinta-feira, 31 de agosto de 2006

Jam Sessions

Interessante. Jam sessions de música e poesia, Cronópios.

terça-feira, 29 de agosto de 2006

Sugestão de uma leitora e, de certa forma, uma reedição





A maior dor do vento é não ser colorido.
Mario Quintana

sábado, 26 de agosto de 2006

A origem da noite - nheengatu/português

Ipirungáua ramé inti maan pituna, ara anhó opaim ara pupê. Pituna okéri oikó y repipe. Inti mahá sooetá opaim mahá onheen.
Boiaussu membira ipahá oiumendare iepé curuminussu irumo. Quahá curuminussu orekó mossapira miassua caturetê.
Oiepé ara upé ocenoim mossapira miassua onheen aetá supé:
-- Pecoim peoatá, xeremirecó inti okéri putári ce irúmo.
Miaussua ossô ana.
Aramê ahê ocenoim xemirecó okéri arama ahê irúmo. Xemirecó ossuaxára:
-- Inti raim pituna.
-- Inti mahá pituna ara anhum.
-- Xe ruba orekó pituna. Rekéri putári ramé xe irumo remundu paimo ahé paraná rupi.
Ahé ocenoim mossapira miassua, xemirekó omundu aetá i ruba oca pýri. Ossó opiamo arama iepé tucumã rainha.
Aetá ocyca ramé Boiaussu oca upé, quahá omehee aetá oiepé tucumã rainha oiucikinau reté, onheen:
-- Kussukui ane rerassó tenhé curi pe pirári... Pepirári ramé pecanhyma curi.
Miassua ossó ana, ocenu teapu tucumã rainha pupé: ten-ten-ten-ten, xi-xi-xi-xi... Aicoreme teapu jaky sapo pupé baê onhengara pituna bo. Oatassaba ojepotámo igapucábo popyatã.
Assapyá nheranacábo xeretaetê aan amoiirê, apu cuaba aicoreme apó baê, nhemonoonga sui igara pupê paum monhanga tatá moycu breu oiucikináu rainha baê. Moputuna atãrupi opá.
Pituna semãorecô tukumã rainha suí. É nhé ui, ocamenduara mõ pupê, ocuabámo mojaboéra baê iraarõ angaetê okéri supê. Boiaussu membyra ucuara onheen:
-- Irabámo pituna; orossô é nhé arõ coema.
Tradução

No princípio não havia noite, somente dia todo o tempo. A noite adormecida estava no fundo do rio. Não havia animais, todas as coisas falavam.
A filha do Cobra-Grande, dizem, casou-se com um rapaz. Este rapaz tinha três excelentes criados.
Um dia ele chamou os três criados e lhes disse:
-- Ide passear, minha mulher não quer dormir comigo.
Os criados foram.
Então ele chamou sua mulher para dormir com ele. Sua mulher respondeu:
-- Ainda não é noite.
-- Não há noite, só dia.
-- O meu pai tem noite. Se quiseres dormir comigo manda buscá-la no rio.
Ele chamou os três criados, sua mulher os mandou à casa de seu pai. Foram buscar um caroço de tucumã.
Quando eles chegaram na casa do Cobra-Grande, este lhes deu um caroço de tucumã bem fechado e disse:
-- Aqui está, levai, mas não o abri... Se o abrirdes, perdê-lo-eis.
Os criados foram, e ouviram o som dentro do caroço de tucumã: ten-ten-ten-ten, xi-xi-xi-xi... Era o barulho dos grilos e sapos dos que cantavam noite pela. A viagem continuaram remando forte.
De repente não mais suportando a curiosidade, para saber que barulho era aquele, reuniram-se no meio da canoa, fizeram fogo e derreteram o breu que fechava o caroço... Tudo escureceu violentamente.
A noite tinha saído de dentro do caroço de tucumã. Nesse instante, longe, lá na cabana nupcial, os que esperavam as sombras para dormir souberam que o caroço fora aberto. A filha do Cobra-Grande, ofegante, disse:
-- Eles soltaram a noite; vamos agora esperar o amanhecer.
Fonte e outros textos em nheengatu/português: http://www.tupi.cafewiki.org/index.php?nheengatu%3A%20textos

um diálogo com deus

- tá foda.
- então retorna.
- não, não, tô de boa aqui.
- reclamas do que, meu jovem?
- cê fala esquisito, hein tru...
- é como ouves, humano.
- ixi, mano, facilita.
- desisto.

sexta-feira, 25 de agosto de 2006

A vanguarda brasileira

Não, o QSEDQ não está virando site político-ideológico. Aliás, o QSEDQ não é site de nada, o que o faz genuína e destemidamente brasileiro, sem sê-lo. Estou um pouco confuso hoje, prossigamos. Notícia da FSP de hoje: "EUA liberam pílula do dia seguinte sem prescrição médica". Isso prova, mais uma vez, o que venho defendendo: o Brasil não é país de formalidades e sistemas, ou melhor, seu sistema é o das não formalidades. Ou algo assim, vocês entendem, leitores espertos.

Um acerto

Ok, não pedimos muito. Vamos combinar o seguinte. Não queremos que o Brasil vire uma Suíça, onde tudo é certinho demais, mas do jeito que está aí é foda. Então vamos fazer um acerto. Os bandidos podem continuar sendo filhos-da-puta, inclusive políticos, não temos problemas com isso. Mas vamos manerar, não é? Um pouco de aventura, de falta de segurança, isso é bom para animar a vida, como diz aquela historinha do tubarão que os japoneses colocam no tanque dos barcos pesqueiros para manter os peixes frescos. Mas o tubarão come só alguns, a maioria, o substancioso dos peixes fica vivo. Então, como disse, vamos pegar mais leve. Quem sabe conseguiremos chegar num ponto que só a ameaça é suficiente? Funcionará mais ou menos assim, vocês enviam uma petição para uma Comissão Especial de Manutenção da Energia Vital, algo assim, mas notem que é "especial". Então se a tal Comissão, formada por lideranças da sociedade, estudiosos renomados, representantes das entidades de classe e do Poder Público, se a tal Comissão julgar que a ameaça apresentada é realmente digna, ou seja, atinge o objetivo de manter a população viva, então ela direciona uma verba para os ameaçadores. Assim ficam todos satisfeitos e ameaçados. Chamo a atenção dos candidatos a ameaçadores que não seria mais necessário correrem risco de traficar ou cometer outros atos criminosos, uma vez que a ameaça será tida como não só lícita, mas também essencial para a sociedade brasileira. Agora, também haverá instrumentos para conter aproveitadores, porque seria inaceitável que pessoas que até então eram as ameaçadas passem a almejar o posto de ameaçadores. Então os ameaçadores seriam cadastrados e suas ações acompanhadas pela Comissão; esta percebendo que o ameaçador não corresponde aos anseios da população, terá poder de destituí-lo de tal cargo e, no caso de insistência, inclusive ordenar sua prisão. Será como um controle da concorrência ao contrário, mas com economistas e tudo mais para calcular o nível exato de ameaça que o povo necessita para continuar cantando e dançando. Ô povo bonito!
PS. Devo esta idéia à recente aparição da jovem austríaca, seqüestrada há oito anos. Na notícia da FSP, diz-se que os moradores, ao verem uma jovem chorando num jardim, chamaram a polícia. No Brasil seria mais provável que mandassem ficar quieta ou que um bêbado quisesse se aproveitar da situação para comer mais uma...rs

Outra utopia - LANÇAMENTO DO QSEDQ

O que vocês acham da cena: um fronte de batalha urbano no Oriente Médio; rajadas cruzando as ruas, granadas explodindo; então se ouve um bum-bum-bum, que vai chegando perto e quanto mais perto chega mais se ouve outros trás-trás-trás e tec-tec-tec; os soldados param e olham para o lado que vêm aqueles sons: é um trio-elétrico com seus dois mil foliões pela avenida principal do árido vilarejo. Que fariam os soldados? É outra utopia, não?
Vamos lançar o OrienteFolia 2007? Ou CarnaMédio 2007? É de se pensar, mas vamos contar com os poderosos lobbies das micaretas, das bebidas alcóolicas e dos lança-perfumes.
É isso, o QSEDQ lança o Projeto Micareta do Osama! Ou seria Micareta do George? Putis, preciso de ajuda.
Outra, os camarotes, onde serão?
Para finalizar, os cordeiros serãos os cotonetes da ONU...
PS. Tive outra idéia, vamos lançar também a Picareta Eleições 2006 - O seu voto nulo vale duas cervejas ou um drink.

terça-feira, 22 de agosto de 2006

Voto Nulo - Isso sim é utopia

Na verdade eu tinha pensado em escrever um texto cheio de argumentos, mas desisti, por motivos que também desisti de escrever. Além do mais, este site é lido em média por 6 pessoas por dia, sendo que 4 lêem frequentemente e 2 são perdidos que o encontram por acaso (ver postagem anterior). Desses 4, eu sou um geralmente, e se o Marco fosse o outro, sobram dois. Não vou escrever um texto sobre política para três pessoas, nem fudendo. Sei, é um atentado contra nossa democracia, todos têm importância. Tá bom. Democracia não funciona e provavelmente nunca vá funcionar, pelo menos não neste país, é um sistema burro por demais. O que também não significa que outro sistema que está por aí também vá. Acho que nada que já foi inventado funciona aqui, mas o fato é: eu é que não vou apoiar nada. Mamãe e papai me ensinaram, se não é para ajudar, não atrapalhe. Confesso que simpatizo com algumas idéias, como uma eleição por loteria, onde cada voto fosse um bilhete para seu candidato concorrer na loteria que escolheria o eleito (http://www.votosnulos.blogspot.com/). Mas é só simpatia, está longe da esperança e desconhece absolutamente qualquer proselitismo. Como já disse para alguns amigos, o Brasil está muito podre, na extensão e na profundidade. Resumindo, eu vou é votar nulo, em prol de um novo sistema, um sistema genuinamente brasileiro, finalmente! Seria bonito, não?, sair nos jornais do mundo que a eleição no Brasil já foi anulada três vezes porque a maioria dos votos foram nulos, e as pesquisas indicam que isso vai continuar se repetindo. Que Che Guevara? Que Tropicalismo? Que Cuba? Que nada! Isso sim é utopia.

segunda-feira, 21 de agosto de 2006

quesabemosnós?

sonho

o pai sente fome
e raiva
como o filho
que mata um homem de lata
marido da boneca da irmã
boneca ninada carinhosamente
e cortada
um aborto clandestino
a mãe está no culto
pedindo pelas suas vontades
e as dos seus semelhantes

a casa vive à solta

um ser sem tamanho dorme
eternamente à parte do tempo
imune ao calor e ao frio
à caça e ao caçador
e sonha
um sonho chamado humanidade

Expressões que levam um leitor perdido ou sem rumo ao QSEDQ

queseieudoque
rubrica teatral
avião poesia
que sei eu do que serei fernando pessoa
cagarola
afeto etimologia
petição incial buraco negro
eu quase que nada não sei. mas desconfio de muita coisa
passaporte servio
tamanho da sepultura
fotos carol volpe
contos folcloricos

sexta-feira, 18 de agosto de 2006

Chefe Seattle ao Governo Americano

O Presidente, em Washington, informa que deseja comprar nossa terra. Mas como é
possível comprar ou vender o céu, ou a terra? A idéia nos é estranha. Se não
possuímos o frescor do ar e a vivacidade da água, como vocês poderão comprá-los?
Cada parte desta terra é sagrada para meu povo. Cada arbusto brilhante do pinheiro,
cada porção de praia, cada bruma na floresta escura, cada campina, cada inseto que
zune. Todos são sagrados na memória e na experiência do meu povo.
Conhecemos a seiva que circula nas árvores, como conhecemos o sangue que
circula em nossas veias. Somos parte da terra, e ela é parte de nós. As flores
perfumadas são nossas irmãs. O urso, o gamo e a grande águia são nossos irmãos. O
topo das montanhas, o húmus das campinas, o calor do corpo do pônei, e o homem,
pertencem todos à mesma família.
A água brilhante que se move nos rios e riachos não é apenas água, mas o sangue de
nossos ancestrais. Se lhes vendermos nossa terra, vocês deverão lembrar se de que
ela é sagrada. Cada reflexo espectral nas claras águas dos lagos fala de eventos e
memórias na vida do meu povo. O murmúrio da água é a voz do pai do meu pai.
Os rios são nossos irmãos. Eles saciam nossa sede, conduzem nossas canoas e
alimentam nossos filhos. Assim, é preciso dedicar aos rios a mesma bondade que se
dedicaria a um irmão.
Se lhes vendermos nossa terra, lembrem se de que o ar é precioso para nós, o ar
partilha seu espírito com toda a vida que ampara. O vento, que deu ao nosso avô seu
primeiro alento, também recebe seu último suspiro. O vento também dá às nossas
crianças o espírito da vida. Assim, se lhes vendermos nossa terra, vocês deverão
mantê-la à parte e sagrada, como um lugar onde o homem possa ir apreciar o vento,
adocicado pelas flores da campina.
Ensinarão vocês às suas crianças o que ensinamos às nossas? Que a terra é nossa
mãe? O que acontece à terra acontece a todos os filhos da terra.
O que sabemos é isto: a terra não pertence ao homem, o homem pertence à terra.
Todas as coisas estão ligadas, assim como o sangue nos une a todos. O homem não
teceu a rede da vida, é apenas um dos fios dela. O que quer que ele faça à rede, fará
a si mesmo.
Uma coisa sabemos: nosso deus é também o seu deus. A terra é preciosa para ele e
magoá-la é acumular contrariedades sobre o seu criador.
O destino de vocês é um mistério para nós. O que acontecerá quando os búfalos
forem todos sacrificados? Os cavalos selvagens, todos domados? O que acontecerá
quando os cantos secretos da floresta forem ocupados pelo odor de muitos homens e
a vista dos montes floridos for bloqueada pelos fios que falam? Onde estarão as
matas? Sumiram! Onde estará a águia? Desapareceu! E o que será dizer adeus ao
pônei arisco e à caça? Será o f im da vida e o início da sobrevivência.
Quando o último pele vermelha desaparecer, junto com sua vastidão selvagem, e a
sua memória for apenas a sombra de uma nuvem se movendo sobre a planície...
estas praias e estas florestas ainda estarão aí? Alguma coisa do espírito do meu povo
ainda restará?
Amamos esta terra como o recém nascido ama as batidas do coração da mãe. Assim,
se lhes vendermos nossa terra, amem na como a temos amado. Cuidem dela como
temos cuidado. Gravem em suas mentes a memória da terra tal como estiver quando
a receberem. Preservem a terra para todas as crianças e amem na, como Deus nos
ama a todos.
Assim como somos parte da terra, vocês também são parte da terra. Esta terra é
preciosa para nós, também é preciosa para vocês. Uma coisa sabemos: existe apenas
um Deus. Nenhum homem, vermelho ou branco, pode viver à parte. Afinal, somos
irmãos.

quinta-feira, 17 de agosto de 2006

reedições repensadas IV

dor, tempero do sal
marco e jp cilli

De repente
Saio à rua
A tua procura

O sol me queima o corpo

Do peito entupido
Do coração engasgado
As lágrimas me vencem os olhos
Derramam-me à boca
Que o suor encontra no rosto

Não posso te encontrar
Gosto de você

terça-feira, 15 de agosto de 2006

era uma esquina torneada em roda, ao que acompanhava o prédio e o portão de aço cinzas, o primeiro andar alto, e seguiam-se todos para os dois lados, com o abraço da calçada regular e do horizonte da rua. uma senhora de yves saint laurent cor de rosa-claro fincava seu salto doze vermelho ao pé do portão cinza, firmando na mão um chapéu de plumas rosas e de cabeça para o chão e apoiando o cotovelo da mão que firma na mão encostada ao corpo. é assim que ela e o dinheiro que está dentro do chapéu permanecem. ela se conserva durante algum tempo, algumas semanas ou alguns dias. um homem que passa deixa-lhe uma nota, uma velha deixa uma moeda e houve até uma criança que um dia lhe trouxe uma matula, e está tudo ali. a expressão da mulher mantinha-se naturalmente a dela, que era bonita, sem sorrir mas não séria, o cabelo em coque restando alguns fios na altura média da testa, umas mechas negras que faziam a pele clara manter-se natural, uma mecha formada por duas madeixas, a mais grossa em cima, separadas por um clarão finíssimo da pele clara. ela permanece com o pulso derrubado na linha do horizonte, o dedão como apoio de cima e o indicador como o principal encosto de baixo, mas também contava com a sorte que era a firmeza do entorno do chapéu, da aba aramada, onde se pressionando mais de um lado consegue-se sustentar toda a roda. o que não se alterava tampouco com o peso do dinheiro, que não pesava para o chapéu nem para o pulso levemente derrubado. umas veias saíam da mão, eram espremidas no pulso e seguiam pelo corpo para o coração, os olhos seguiam com seus cílios espetados, redondos, sobrancelha feita cujo fim caía em curva para acompanhar a forma do rosto, que era belo e redondo. ao seu lado, no portão havia uma camada de poeira e atrás a meada do coque havia desenhado uma limpeza aleatória com pincéis finíssimos, que não se movem com os barulhos dos carros que dirigem pelo seu horizonte direito nem pelo aviso de uma promoção em uma loja à sua esquerda. se movem com o vento, que um dia traz um senhor de calça de brim bege e camisa xadrez de algodão aveludado, sapatos de couro marrom bem lustrados e um chapéu de feltro bege-escuro. aproximando-se naturalmente o homem com seu chapéu na mão, de cabeça virada para baixo, deita-lhe a mulher o dinheiro do seu chapéu no dele, coloca-o, ajeita-o e sai como que olhando o relógio que não tem. o homem se vira de costas para o portão cinza, espalma a mão na cabeça do chapéu, seus cabelos colados à testa e sua outra mão no bolso. outros senhores, outras idosas e outros pequenos vão lhe deixar alguma coisa, aquela nota, aquela moeda e aquela matula, que poderá ser um sanduíche ou um apanhado de arroz com frango. mas um cão que anda por ali, de rabo abanado e língua de fora, vai sentar ao seu lado, coçar as orelhas, respirar ofegante e olhar no mesmo horizonte que o homem aponta o chapéu.

a esquina

segunda-feira, 14 de agosto de 2006

Link

Site interessante para encontrar textos, imagens e outros documentos em domínio público: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.jsp

domingo, 13 de agosto de 2006

Expressões

Serendipidade literária
Serendipidade bibliográfica

sexta-feira, 11 de agosto de 2006

josé, gritei

josé
me acuda, josé
ela me enganou
vingou sua ilusão
sua ilusão, josé

josé
me ajuda, josé
ela me iludiu
com um não de última hora
na última hora, josé

josé, gritei
ele ocupado com o agora
vem me responder
joão

quinta-feira, 10 de agosto de 2006

another bootstrap

com os olhos fechados
vigiam
as coisas que não faço

quarta-feira, 9 de agosto de 2006

mensagem

hoje não tem lua
nem notícia sua
ufa! parou, e só agora consigo enxergar a correria estrebuchada que nos move. uma amiga me disse que eu deveria era explorar mais os temas e agora que eu enxergo todos parados, como posados para mim, tenho menos vontade de escrevê-los. chego a ter pena deles não fosse a ausência de ilusão que é própria de quando o tempo pára. tampouco quero fotografá-los, pintá-los, filmá-los; parados já não servem a nada. muita coisa se esvai quando o tempo pára, evapora sem subir nem descer, simplesmente desaparece. não digo isso do tempo, que está ali, como que esperando a minha ordem para seguir e ignora minha pergunta, talvez porque não ouça, talvez porque é incabível na sua concepção, talvez por ser cogitação de escravo. não sei, sem a sua resposta, não sei. mas não digo que seja imprescindível, seria só mais um ponto de vista ou o silêncio de uma ausência. tenho dúvida se deveria escrever no presente ou no passado ou no futuro, além da dúvida se devo realmente escrever, as palavras existindo, colocá-las no espaço seria coisa a ser realizada automaticamente, na falta de outro advérbio que traduza o tempo de algo sem tempo. e assim seria coisa que nunca seria realizada. se não fosse o tempo parado, diria eu que o próximo passo seria o espaço sumir, que é a equivalência do parar para o espaço. mas não há próximo e tenho alguma dúvida se um dia houve, não fosse uma coceira que me dá, um comichão nas idéias, se me explico. devo dizer que posso ouvir a verdadeira melodia, não sei se o som da criação, do universo, mas asseguro que a reconheço nas sinfonias, no samba e nos choros de neném. ainda acho que não me explico, não é que parou, porque parar é movimento, talvez tenha sumido se tivesse imagem. fica assim, sumiu o tempo. mas não fugiu, tampouco sei se entrou, só sei que não está aqui. esse negócio de tempo verbal é coisa que não consigo entender muito bem, começo a desconfiar que essa coisa de escrever não é amiga para se ter quando some o tempo, parece coisa convulsa, uma trás outra, futricando. eu que não preciso futricar, que não tenho mais sede nem fome nem curiosidade, que são coisas do movimento. não há movimento, devo dizer, como não há muita coisa, ou pouca coisa é que há, não sei, não há ninguém que troque um par de idéias comigo. talvez seja esse o motivo desta coisa de escrever, um resquício de humanidade. se corre o rio, nunca soube dizê-lo com precisão, que lá no fundo vai saber, mas na superfície tem pirapora, tem rebojo e tem grande atividade dos insetos, das frutas e das folhas, e dos peixes e das aves. grande atividade que vai se dissolver no campo-mar de imensidão, onde meu resquício é nada, onde estamos juntos e distantes, observando coisas pequenas e coisas grandes, tudo coisa de restolho. isso de falta de tempo veja onde me leva, tem uma minha idéia que descansa à beira do rio ou na sombra de árvore, não sei explicar bem se é cavalo, joaninha ou outro alguém ou outra coisa e isso me dá dúvidas se a idéia é realmente minha. ela tem cheiro de ser e tem cor de ser, aliás são tantas que começo a duvidar se esse cheiro não é o de sempre e essa cor não é branca ou negra. estão todas juntas, não sei de onde vieram e não posso distinguí-las uma das outras. fossem pai, fossem filho, seriam todas avôs. o sol tem cara da lua, daquela sombra sem sombra, um vento que não sei. a solidão creio que está batendo na porta, mas são tantas que não há porta para bater e de toda essa coisa e das minhas palavras, talvez de uma ampulheta, escorrega meu resquício.

a ampulheta caída

terça-feira, 8 de agosto de 2006

Sugestão de uma leitora

"Eu quase de nada sei, mas desconfio de muita coisa"
João Guimarães Rosa (1908-1967)

Welcome

Estive na Sérvia e talvez por ser um pacifista me interessava saber sobre a guerra; e os sérvios as experimentam desde séculos. Meu amigo sérvio me contava a sua experiência e o seu conhecimento, em meio a "não quero mais falar de guerra". Nosso principal assunto foi Kosovo e não havia momento melhor para identificar esse conflito com o que acontece atualmente em Israel: política e economia dos Estados Unidos. Capitalismo, petróleo. Isso, somado à justificativa da proteção de direito humanos, que não é verdadeira, leva o país ao que vemos. No caso da Sérvia, a comandar uma OTAN em bombardeios à capital Belgrado, inclusive a civis e hospitais, como fazem os israelenses no Líbano, com a diferença que agora há alguma resposta, também triste. Meu amigo me narrou que passava as noites com os amigos em uma cidade ao norte de Belgrado vendo os tomahawks passarem em direção à capital e as artilharias anti-mísseis tentando pará-los. Até o dia em que o míssel parecia vir a eles, o que chegou a causar correria em alguns mais apressados. Mas o míssel não caiu ali. A capital está praticamente reconstruída, mas a OTAN continua apoiando a máfia de Kosovo. Sim, Kosovo, que é uma região sérvia, abriga uma máfia albanesa financiada pelos EUA contra uma Sérvia simpática aos interesses russos. O que meu amigo contou é uma história diferente da contada pela mídia aqui no Ocidente. Contou que os sérvios (mas não só sérvios, senão todos os que não são albaneses) são mortos e expulsos do seu próprio país, com o apoio da OTAN. Isso causa revolta nele, "Não quero mais falar sobre isso, minha vontade era juntar um exército e mandar matar todos eles". E eu entendo o seu ódio quando imagino amigos brasileiros fugindo do Rio Grande do Sul com medo de argentinos, por exemplo. É uma hipótese, impossível creio, mas me ajuda a entendê-lo. No mais, temos muita coisa em comum com os sérvios; eles, por exemplo, também gostam de rir da própria desgraça. Meu amigo me conta uma história verdadeira, mas como piada, de que um amigo visitara o Líbano e enquanto aguardava na fila do passaporte notou que o oficial estava deveras mal humorado. Chegando sua vez, entregou o passaporte e o oficial, ao notar que era sérvio, abriu um largo sorriso e disse: "You terrorist, we terrorist. Welcome."
Há muitos sites sobre o assunto. Um é http://resistir.info/europa/kosovo_port.html

quarta-feira, 2 de agosto de 2006

por entre o dedão


a laranja no pé
a laranja no prato
a laranja no pé
espremida por entre o dedão
a laranja no pé



fotos: Carol Volpe