quinta-feira, 27 de maio de 2010

Outdoor

Me entenda, eu não sou cego; só não enxergo como você deve imaginar. Os olhos não me são úteis nessa tarefa embora funcionem normalmente. Vejo, mas isso é o de menos. Para mim, imagens são imagens assim como um X-burguer é um X-burguer. Na verdade, não preciso enxergar porque todos já o fizeram por mim e fazem questão de compartilhar suas imagens por todos os meios possíveis, embora uns sejam mais convincentes que outros - e é mais ou menos nisso que me fio. Tampouco tenho valores, que esse esforço me dispensei. Criá-los importariam escolhas que não me parecem necessárias. Prontos, estão aí aos montes, infinitos. Da minha parte só tenho que costurá-los de uma forma equilibradamente aceitável - o que por si já dá esforço suficiente até o fim da vida. De modo que certo ou errado é uma questão contingente, pouco ou nada relativa a valores universais; belo ou feio, então, é o sumo da inutilidade no emprego do pensamento e das emoções: se aí está a coisa, para quê mais? Ou razões inexplicáveis seriam mais confiáveis que este meu raciocínio simples de entrega e aceitação? Se você me diz que este quadro é feio, eu não discuto; mas cá em mim, é colocação bem mesquinha a sua. Estando o óleo pincelado, a tela enquadrada, que importa a todos, a tudo, sua opinião? ao quadro, nem que você cuspa involuntariamente enquanto esbraveja contra sua composição, não importa - se exagerarmos imaginação, ele te achará no máximo um cuspidor; limpará o rosto e seguirá postado para alguma eternidade. Agora, se estamos falando de evolução, minha posição será preferencialmente positiva, embora nem sempre bem sucedida. Não importa muito: limpo minha cara e sigo. Se me exijo combate duro contra a preguiça, não deixo de cochilar para ver se é assim mesmo - e assim engano a mim e a preguiça, porque é sempre melhor enganar antes de ser enganado. Se me exijo razões, invento algo que me convença tanto quanto um achocolatado instantâneo; sorvo, lambo o resto e coloco a louça para lavar: reset na veia. Autêntico? faço questão de não ser na medida em que isso o seja. Siga você enxergando, louvando seus óculos, a luz do dia, as flores e me deixe apreciando esse outdoor.

quarta-feira, 26 de maio de 2010