sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

genealogia

vaguei pela mata escura
pisando onde só meus pés conheciam.

quando um vão encontrei
e cheguei à clareira
um leão me abocanhou
e me abrigou no ventre negro.

depois de imemorável tempo
fundimos em espírito
e antropomórfico corpo:

já não éramos leão nem humano.

trepamos na árvore de dura casca
onde a mata começa e o mato acaba
e a cada unha cravada
mais árvore nos tornávamos.

depois de imemorável tempo
fundimos em espírito
e vegetantropomórfico corpo:

já não éramos árvore, leão nem humano.

lançamos raízes pelo macio solo
onde tantas outras se entrelaçam
e a rocha que encontramos
abraçamos com todas as nossas forças.

depois de imemorável tempo
fundimos em espírito
e mineravegetantropomórfico corpo:

já não éramos rocha, árvore, leão nem humano.

permanecemos em imóvel iluminação
onde toda felicidade parece possível.
tivemos a chuva, o vento e o sol
como eternos companheiros.

mas depois de imemorável tempo
fundimos em espírito
e planetário corpo.

éramos cósmicos.