quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Minha Arte Pessoal - I

Andei pensando na utilidade que sempre quis dar às várias coisas que ajunto por aí. Comprovantes de todos os tipos de compras são um dos mais antigos itens colecionados. Comprovantes de cartão de crédito e débito, de pedágio, de estacionamento, de cinema, museu, etc, e de todas as viagens que faço - ao menos para fora do Brasil. Está tudo em caixas e envelopes. Há bastante tempo. Mas mais antigas são as moedas de um centavo. Na última contagem, há mais de 7 anos, eram 200 (ou seja, 2 reais). Depois acho que veio o pó-de-incenso. Isso mesmo, juntei durante muito tempo aquele pó que resta do incenso queimado (o que já disse ser até as cinzas do meu avô...). Têm também os potinhos de plástico onde vêm os filmes fotográficos e, mais tarde, os próprios "casulos" (palavra usada em algumas fotóticas para denominar a própria bobina do filme, muitas vezes reutilizadas nos chamados filmes rebobinados - agora, imagina pedir isso para um laboratório perdido num beco de Istambul...). As rolhas de vinhos. Os cartões de visita. Os outros tipos de cartões (geralmente vencidos, como os dos clubes aos quais não sou mais associado, ou os vazios, no caso dos telefônicos). Os mapas. Aqueles cartões publicitários da Johnnie Walker com frases de efeito, sempre destacando a palavra de maior efeito. As bolachas de chope. Etc.

Um dia, então, tive uma ideia para os comprovantes: colá-los num compensado de madeira (de 1m por 1,6m) que eu tinha em casa e fazer alguma composição com tinta; a tela se chamaria "fuga". Tempos depois, seguindo esse rastro, vieram ideias para os outros ajuntados. Quadros em que eu os colaria com um título que sugerisse alguma reflexão. Assim, os cartões de visita seriam algo do tipo "sociedade" ou "círculo de amigos". Ou até uma combinação de coisas, devidamente dividas de acordo com uma lógica, chamada "ego". Poderiam ser também somente quadros "decorativos", sem título nenhum (e um tanto bregas, um retrô meio anos 80 - a pior década do século passado no quesito bom gosto)(até porque as décadas atual e passada foram tão confusas, receberam tantos adjetivos, que não podemos identificar um gosto para podermos classificá-las).

Mas, daí pensei, estaria eu produzindo "arte"? Bem, como diz o Rilke, nas suas Cartas a um jovem poeta, a arte depende muito mais do artista do que do espectador. Quero dizer, somente eu poderia me responder.

Por um lado, não eram objetos que eu produziria para expor, vender ou mesmo presentear. Seriam visões pessoais do que foi a minha vida. Um tipo plástico de "Em busca do tempo perdido"? Não sei, ainda não li o clássico.

Ou da fase final, autobiográfica do Graciliano Ramos? Também não sei.



Duchamp?

Então comecei a denominar isso de "arte pessoal". Ou seja, seria uma arte voltada somente ao artista e, no máximo, a quem teve uma convivência considerável com ele. A própria definição seria, afinal, pessoal: aquele mesmo objeto seria definido de forma diferente por um eventual espectador deslocado daquela realidade retratada e interpretada.



(... a continuar ...)

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