quarta-feira, 3 de outubro de 2007

As belas que nos perdoem

Tive um site numa época em que site pessoal ainda não era blog, era site pessoal. Nessa época, a gente usava o Geocities para hospedar as páginas que a gente escrevia no bloco de notas, com os códigos de html. Ainda se usava muito o windows 3.1 ou 3.11 para workgroups (creio que corresponde ao home e professional de hoje em dia), com o comando "win" no DOS para abrir o windows. Outro dia abri o DOS; com exceção do primeiro código que "aprendi" (na verdade foi um chute: digitando - com muito custo - aleatoriamente umas palavras no DOS de um daqueles 286, saiu um "cd", as iniciais do nome do meu pai, já que o computador era da empresa dele), não lembro nenhum comando mais. A gente criava arquivos executáveis (*.bat) também no bloco de notas. Usava o ARJ para compactar e tinha de decorar os atributos do comando. "Deltree *.*" era um palavrão. Quando surgiu a internet, modem era uma novidade excitante. O barulhinho que fazia (e que há tempo não ouço) era algo esperado - a gente nunca tinha certeza se iria conseguir se conectar. Arquivo MP3, quando surgiu pra ser tocado no Winamp, era um troço gigante. Para isso e para baixar outros arquivos grandes (acima de 1MB) havia um programinha cujo nome já não lembro, mas que tinha uma função essencial: se no meio de um download a conexão caísse (ou alguém da família quisesse usar o telefone, porque também não havia muito essa coisa de celular e muito menos banda larga), o programa reiniciava do mesmo ponto que havia parado. Esse foi o primeiro passo para podermos começar a baixar arquivos maiores. Email grátis, se não me engano, não eram tantos. Me lembro do Yahoo, do Hotmail, do Zipmail, do BOL. Pesquisa a gente fazia no Cadê?, onde os sites se registravam de acordo com categorias. Tinha também o Altavista, mas esse eu quase não usava; acho que veio depois, sei lá. Provedores eram poucos, pior pra mim que vivia numa cidade do interior. Mas tinha as intranets, onde eu primeiro vi essa coisa do bate papo. Porque aí vieram o ICQ e o bate-papo do UOL. O ICQ deve ter tido uma importância fundamental na minha vida porque ainda hoje me lembro meu número: 15105870. Esse, na verdade, foi o segundo, porque o primeiro se perdeu com alguma senha esquecida ou algum pau, que naquela época dava pau se algum f.d.p. enviasse algo como um bombardeio de mensagens ao mesmo tempo para você (e havia programinhas maldosos que faziam isso). Mas, bem, como eu ia dizendo, tive um site com um tio e uns amigos, que hoje provavelmente chamariam de blog. E hoje, tenho o que chamam de blog. Eu continuo chamando de site ou, ocasionalmente, ignorativo. Não sou um grande revoltoso com relação às expressões estrangeiras, mas blog (sim, blog é uma palavra estrangeira) é uma palavra muito feia. Blogue, blogar, blogueira/o. Muito feia. Tinha uma época, aliás, que os escritores simplesmente deixavam de usar uma palavra, ainda que portuguesa, porque era feia; mas isso foi coisa do Machado de Assis. A gente é moderno; o moderno é, tem que ser democrático; no moderno a feiúra tem seu espaço. A gente não perdoa o Vinicius: não há preferência, não há nada fundamental.

Um comentário:

Anônimo disse...

Nossa senhora, voltei no tempo com esse texto. E eu que comecei a aprender a programar em Pascal. Depois, claro, desisti disso.