segunda-feira, 3 de julho de 2006

XCIX - Fim

Otros días vendrán, será entendido
el silencio de plantas y planetas
y cuántas cosas puras pasarán!

pablo neruda
capítulo final – pandora

dissera-se que a vida das coisas ficara estúpida diante do homem... – não te assustes, disse ela, minha inimizade não mata; é sobretudo pela vida que se afirma. vives: não quero outro flagelo.
machado de assis

guiado pelo maître, sentei-me na frente de cecília, agradecendo a gentileza do funcionário. suspirei querendo olhar para cecília como quem vai cheio de saudades ao fundo da gaveta pela fotografia de sua amada. antes vi um papel dobrado em cima da mesa, na minha frente, que abri. não vi fotografia, não vi cecília: senão o Branco como nenhum branco já alcançado pelas retinas e pelas imaginações humanas. e se ali havia letras, não sei, estariam escondidas e eram desnecessárias. os olhos de cecília, sentia-os brancos, estou certo. seriam brancos assim que a vela se apagasse pelo sopro seco da eterna expectação. e ali viveria cecília a me iluminar, por um, dois, três, cem anos, um guardião em padecimento puro e silencioso.
o Branco foi se desfazendo em retalhos das cores que voltavam a se distinguir, ao passo que cecília ia desaparecendo e, completada a visão com ínfimos pedaços de cor, ela já não estava mais ali; uma situação embaraçosa, fiquei aturdido. um homem, talvez o garçom, me perguntava com uma voz impaciente se eu desejava alguma coisa, e repetia a pergunta insistentemente. eu, que tinha o rosto abaixado entre as mãos, levantei os olhos e vi uma porta abrindo, um amigo, como é, vou bater na porta até quando? levanta daí, disseram que se fica mais um minuto dentro deste quarto é capaz de enlouquecer.

Um comentário:

Anônimo disse...

Jota,

Fiquei muito tempo sem frequentar o QSEDQ.

Lembrei que tinha lido o primeiro capítulo deste conto e tinha ficado bem curioso.

Final excelente! Parabéns, meu querido.

Tens um fã!

Abraço,

Feijão