quarta-feira, 21 de dezembro de 2005
terça-feira, 13 de dezembro de 2005
Conto de folhetim: Fim - Aos pés de Ela, mais uma vez
De manhã, Jonas acordou já com sol forte entrando pela janela. Fazia um calor de incomodar, abafado. Olhou o relógio ao lado da cama e viu marcando 9:47. Demorou a perceber a situação, a cabeça doia um bocado e tinha sede, muita sede... a boca chegava a amarrar de tão seca. Ela, toda encolhida e enrolada nos lençois, ainda dormia profundamente. Jonas levantou da cama sem muito cuidado, fez o que precisava, bebeu toda a água que encontrou e de repente se viu parado, de pé, observando Ela dormindo. Era linda, de fato. Mas não sabia ao certo, havia algo de errado naquilo tudo. De repente onde estava aquele encanto, aquela vontade de sair dali com Ela para ganhar o mundo? Era como se o feitiço tivesse perdido seu efeito. Jonas sentia-se mal, não a desejava mais. Certamente era o seu mal do infinito agindo. Ah, aquele tal doutor! Que verdade, Deus! Que verdade!
No entanto não sentia a coragem para falar a Ela que não a queria mais, e tampouco tinha as bolas para sair dali antes de Ela acordar. Ficou e Ela acordou dali a uma meia-hora, tempo suficiente para Jonas preparar um café e umas torradas. Nitidamente Jonas estava incomodado, essa é uma daquelas situações que não se consegue disfarçar; ele se entregava apenas com sua cara.
Ela, cheia de carinho e empolgação, perguntou se Jonas havia dormido bem. Ele consentiu com a cabeça, mastigando seu pão e dando um gole do café, para quem sabe ver se achava um pouco de coragem dentro da xícara. Talvez até tenha achado, pois engoliu tudo - o pão, o café e tudo mais que o incomodava -, olhou um pouco para baixo e disse sem muito rodeio - Eu já vou embora. Quero agradecer muito por tudo... - Mas, como assim? Daí a gente se encontra depois? É isso? - interrompeu Ela ainda de forma ingênua.
Jonas explicou meio sem jeito que não fazia realmente questão de ver Ela novamente, claro que não com essas palavras. Ele tentou dizer que não a queria mais de uma maneira que doesse menos, se é que isto é possível. Ela parecia não querer entender de jeito algum. E os planos, as viagens, os dois filhos que iriam ter, a casa que iriam construir?! O que era tudo aquilo, o que significava aquilo tudo?! Toda aquela noite de carinhos?!
Ela surtou em desespero. Jonas teria sido finalmente um homem que valeria a pena, por quem ela abandonaria tudo, e ele não passou de mais uma decepção, de um merda! E ele se sentia assim mesmo, um puta derrotado. Fazer uma mulher linda como Ela sofrer não é coisa digna de homem que se preze.
Sem saber como, Jonas tentava acalmá-la, dizia que nada daquilo que eles viveram era mentira, apenas não era mais uma verdade. Foi pura verdade no momento em que ele desejou Ela, e foi mesmo. Mas vai explicar essas coisas! Quanto mais Jonas tentava se explicar, mais Ela se enfezava. A mulher estava roxa de nervosa, os olhos se seguravam para não soltar nenhuma lágrima, e não soltou nenhuma mesmo. Não daria isso a ele, não daria mais nada a ele.
Sem paciência Jonas resolveu ir, não aguentava mais aquele papo de mulher magoada. Aquilo logo passaria e Ela se esqueceria. Seria apenas mais uma dor.
Pegou sua jaqueta e foi em direção à porta. Deu as costas à Ela; não olhá-la mais foi a melhor idéia que conseguiu ter. Erro. Uns dois ou três passos, virou a chave da porta e quando deitou a mão na maçaneta, pumba! Um! Um golpe certeiro! A faca entrou com toda a mágoa de Ela nas costas de Jonas. Dois! Três! Sem dó, Ela sacou a faca encravada na carne e enfiou de novo e de novo. Ele, meio que de uma forma lenta, percebeu a carne queimando, pôde sentir a faca rasgando repetidamente a sua carne. Foi sangue pra tudo que é lado, na parede, na porta e muito, muito mesmo escorrendo de seus novos buracos.
Assustado, abismado, descrente de tudo, agora sem qualquer espera-nça, Jonas conseguiu com dificuldade olhar Ela nos olhos por cima do ombro direito. Ela tinha sangue na cara, já havia soltado a faca ensanguentada no chão. Dos olhos de Ela, apenas uma lágrima, deu a Jonas apenas uma lágrima.
- Que merda! Não era pra tudo acabar assim...- foi a única coisa que Jonas conseguiu pensar antes de apagar e desabar no chão aos pés de Ela, agora literalmente.
Ela, cheia de carinho e empolgação, perguntou se Jonas havia dormido bem. Ele consentiu com a cabeça, mastigando seu pão e dando um gole do café, para quem sabe ver se achava um pouco de coragem dentro da xícara. Talvez até tenha achado, pois engoliu tudo - o pão, o café e tudo mais que o incomodava -, olhou um pouco para baixo e disse sem muito rodeio - Eu já vou embora. Quero agradecer muito por tudo... - Mas, como assim? Daí a gente se encontra depois? É isso? - interrompeu Ela ainda de forma ingênua.
Jonas explicou meio sem jeito que não fazia realmente questão de ver Ela novamente, claro que não com essas palavras. Ele tentou dizer que não a queria mais de uma maneira que doesse menos, se é que isto é possível. Ela parecia não querer entender de jeito algum. E os planos, as viagens, os dois filhos que iriam ter, a casa que iriam construir?! O que era tudo aquilo, o que significava aquilo tudo?! Toda aquela noite de carinhos?!
Ela surtou em desespero. Jonas teria sido finalmente um homem que valeria a pena, por quem ela abandonaria tudo, e ele não passou de mais uma decepção, de um merda! E ele se sentia assim mesmo, um puta derrotado. Fazer uma mulher linda como Ela sofrer não é coisa digna de homem que se preze.
Sem saber como, Jonas tentava acalmá-la, dizia que nada daquilo que eles viveram era mentira, apenas não era mais uma verdade. Foi pura verdade no momento em que ele desejou Ela, e foi mesmo. Mas vai explicar essas coisas! Quanto mais Jonas tentava se explicar, mais Ela se enfezava. A mulher estava roxa de nervosa, os olhos se seguravam para não soltar nenhuma lágrima, e não soltou nenhuma mesmo. Não daria isso a ele, não daria mais nada a ele.
Sem paciência Jonas resolveu ir, não aguentava mais aquele papo de mulher magoada. Aquilo logo passaria e Ela se esqueceria. Seria apenas mais uma dor.
Pegou sua jaqueta e foi em direção à porta. Deu as costas à Ela; não olhá-la mais foi a melhor idéia que conseguiu ter. Erro. Uns dois ou três passos, virou a chave da porta e quando deitou a mão na maçaneta, pumba! Um! Um golpe certeiro! A faca entrou com toda a mágoa de Ela nas costas de Jonas. Dois! Três! Sem dó, Ela sacou a faca encravada na carne e enfiou de novo e de novo. Ele, meio que de uma forma lenta, percebeu a carne queimando, pôde sentir a faca rasgando repetidamente a sua carne. Foi sangue pra tudo que é lado, na parede, na porta e muito, muito mesmo escorrendo de seus novos buracos.
Assustado, abismado, descrente de tudo, agora sem qualquer espera-nça, Jonas conseguiu com dificuldade olhar Ela nos olhos por cima do ombro direito. Ela tinha sangue na cara, já havia soltado a faca ensanguentada no chão. Dos olhos de Ela, apenas uma lágrima, deu a Jonas apenas uma lágrima.
- Que merda! Não era pra tudo acabar assim...- foi a única coisa que Jonas conseguiu pensar antes de apagar e desabar no chão aos pés de Ela, agora literalmente.
Conto de folhetim: Parte IV - Aos pés de Ela ou Pa-ra-le-le-pí-pe-do
Os dois conversaram por um bom tempo, Ela não demorou a aceitar uma pinga para acompanhá-lo e ambos curtiram fascinados a descoberta um do outro. O simples fato de estarem lado a lado já era algo demais. Inexplicavelmente sentiam que juntos poderiam muito mais do que em suas míseras condições individuais. Fizeram planos, queriam conhecer o mundo juntos, e dali de dentro do bar passaram pela Índia, deram um pulo nas praias da Thailândia, voaram até as pequenas ilhas do Pacífico, jantaram em Nova York, tomaram um café em Paris, leram os jornais em Buenos Aires, assistiram a um concerto em Viena e, mais uma vez, entornaram uma bela pinga de Conceição de Ibitipoca naquele bar que era o mundo.
Finalmente saíram dali. E Ela disse de uma forma doce, acariciando o rosto de Jonas - Vou te levar para casa. Jonas sentiu-se incrivelmente confortável, e apenas suspirou num momento de alívio. Como era forte aquela frase para quem há muito não sabia onde era sua casa, aquele lugar para onde se quer voltar. Era o que precisava para ficar aos pés de Ela.
Andaram umas poucas quadras nas ruas de paralelepípedo e chegaram em casa. Não era propriamente uma casa, apenas uma idícula que Ela alugava nos fundos da casa de uma viúva. Pequena, não mais que sala, quarto e uma humilde cozinha, mas tudo arrumado com bastante charme. Acolhedora, esta é a palavra, principalmente com o sol de fim de tarde que iluminava as cortinas.
Ela preparou um café, colocou uma música para tocar e até ensaiou soltar a voz junto com as letras da música - "Sim, eu estou tão cansada, mas não pra dizer que eu estou indo embora, talvez eu volte (...) Eu não preciso de muito de dinheiro, graças a Deus! E não me importa, e não me importa a minha honey baby!" Jonas sorria, apenas ficou observando, apreciando.
Beijaram-se. E daí a tarde virou noite, que depois mais tarde morreu, e só para então por fim o dia nascer.
domingo, 11 de dezembro de 2005
do mistério e do mistério (astro-reflexão da cegueira)
vinha a lua fazendo as nuvens aparecerem enquanto desaparecia, ao menos elas. as estrelas, elas se sentiam tímidas àquela hora de pouco escuridão, ao menos elas. a lua não estava cheia, nem as nuvens carregadas, nem as estrelas abundantes, ao menos elas, repeti. só podia vê-las, meu olho estava ali e dali não poderia se desprender. elas. preso ao chão não pôde se distrair do mistério que é o céu da noite, que já não lhe era mistério dos maiores, porquanto estivesse assentado sobre outros mistérios mais fortes. se os olhos não tinham a liberdade que lhes fora dada, mas que não necessariamente lhes era necessária, disso ao menos o resto não padecia, desconhecedor que era, envolvido que era. via a lua fazendo par com as estrelas, sentia as formas das nuvens e suas sombras, mas não enxergava nada do que lhe fazia as sombras e as penumbras e a luz nas quais buscava referência. enquanto desejava o desconhecido que lhe alimentava, brilhava-lhe o mistério das coisas. sabia dos pássaros, dos ventos e das chuvas, sabia. mas mal sabia do que lhe abraçava e movia-lhe as intenções. nem ao menos elas.
terça-feira, 6 de dezembro de 2005
da felicidade e da tristeza (caminho-reflexão dos mendigos)
caminhou. sentiu o trem passando-lhe pelos pés, que o sapato não lhe servia muito bem. caminhou. ia-lhe arrastando a barra da calça no chão, que não lhe atinava a altura que tinha diante de deus. caminhou. as mangas da camisa ultrapassavam-lhe os cotovelos e a gola apertava-lhe o pescoço, que o ar não lhe servia muito bem e não lhe havia alcance no mundo. caminhou. olhou para o sol pela fresta sobrando-lhe nos óculos, que não lhe era perceptível a inconveniência que lhe era atribuída pela sociedade. caminhou. foi feliz com o corpo que não lhe pertencia, fechou os olhos creditando-lhe a verdade do caminho e o desrespeito às outras verdades.
quinta-feira, 1 de dezembro de 2005
Conto de Folhetim: Parte III - Ela
Jonas, sentado ao balcão, estava à parte do mundo imerso em seus pensamentos. Chamou logo 2 pingas, já que Ibitipoca é de região de alambiques tradicionais - como se isso fosse lá a razão de Jonas beber. Se pudesse, pediria álcool puro mesmo.
Ele se sentia esquisito; não estava nem tão deprimido para sentir tristeza e nem alto o suficiente para ficar alegre, e somado a isso o estranhamento constante de estar numa cidade desconhecida. Não era de todo mal, ao menos sentia uma certa libertação, um desprendimento raro.
Foi assim até a 3ª ou 4ª dose, foi quando Ela apareceu. Ah, Ela... quem não cairia por Ela? Eu mesmo não me aguentaria. Jonas, então... ele simplesmente se derreteu por aqueles olhos amendoados, os cabelos longos, castanhos e levemente cacheados, o rosto bem desenhado e uma boca, ah! que boca. Jonas ficou literalmente encantado, teve vontade de ficar com Ela infinitamente enquanto durasse, por mais comum que aquilo soasse. - Que mulher... - pensou ele. Aquele corpo, então, mal se pode dizer. Quase uma obscenidade descrever aquelas curvas cheias de charme.
Ele realmente não conseguia disfarçar que olhava apenas para Ela, somente para Ela, que devia até estar constrangida. O mais surpreendente, e talvez apavorador, é que Ela, sem medo, começou a vir na direção de Jonas, como se fosse falar-lhe alguma coisa descompromissada. Jonas desviou o olhar; agora ele é quem estava constrangido. Em seguida olhou para confirmar se Ela continava a vir, desviou o olhar mais uma vez, mas não evitou que Ela, chegando a ele, dissesse docemente - Moço, se você precisar de ajuda para ir embora, ajudo... eu estava olhando dali e bem vejo que você não vai conseguir achar o seu rumo. O moço tem cara de bom coração, se precisar eu estou aqui.
Jonas demorou a responder. E não era efeito da bebida, eram borboletas no estômago. A atitude, a doçura das palavras e da intenção, deixaram-no sem reação. - Eu aqui perdido na vida e Ela, angelical, dizendo que vai me ajudar a encontrar meu caminho... Deus! - pensou de imediato. Ele sorriu, disse que estava bem de verdade. Começaram a conversar, falar apenas coisas sem importância, coisas que pessoas que não se conhecem falam. Nessa hora as palavras não diziam muito, eles se comunicavam era mesmo com os olhos. Ela, com os olhos, perguntava o que ele queria. Ele, também com os olhos, dizia que a queria.
Jonas lembrou do tal doutor que há pouco havia lhe falado para desejar menos. Mas como não desejar? Como lidar com o que há de mais belo?
E Ela, ali, bem a sua frente; linda.
Ele se sentia esquisito; não estava nem tão deprimido para sentir tristeza e nem alto o suficiente para ficar alegre, e somado a isso o estranhamento constante de estar numa cidade desconhecida. Não era de todo mal, ao menos sentia uma certa libertação, um desprendimento raro.
Foi assim até a 3ª ou 4ª dose, foi quando Ela apareceu. Ah, Ela... quem não cairia por Ela? Eu mesmo não me aguentaria. Jonas, então... ele simplesmente se derreteu por aqueles olhos amendoados, os cabelos longos, castanhos e levemente cacheados, o rosto bem desenhado e uma boca, ah! que boca. Jonas ficou literalmente encantado, teve vontade de ficar com Ela infinitamente enquanto durasse, por mais comum que aquilo soasse. - Que mulher... - pensou ele. Aquele corpo, então, mal se pode dizer. Quase uma obscenidade descrever aquelas curvas cheias de charme.
Ele realmente não conseguia disfarçar que olhava apenas para Ela, somente para Ela, que devia até estar constrangida. O mais surpreendente, e talvez apavorador, é que Ela, sem medo, começou a vir na direção de Jonas, como se fosse falar-lhe alguma coisa descompromissada. Jonas desviou o olhar; agora ele é quem estava constrangido. Em seguida olhou para confirmar se Ela continava a vir, desviou o olhar mais uma vez, mas não evitou que Ela, chegando a ele, dissesse docemente - Moço, se você precisar de ajuda para ir embora, ajudo... eu estava olhando dali e bem vejo que você não vai conseguir achar o seu rumo. O moço tem cara de bom coração, se precisar eu estou aqui.
Jonas demorou a responder. E não era efeito da bebida, eram borboletas no estômago. A atitude, a doçura das palavras e da intenção, deixaram-no sem reação. - Eu aqui perdido na vida e Ela, angelical, dizendo que vai me ajudar a encontrar meu caminho... Deus! - pensou de imediato. Ele sorriu, disse que estava bem de verdade. Começaram a conversar, falar apenas coisas sem importância, coisas que pessoas que não se conhecem falam. Nessa hora as palavras não diziam muito, eles se comunicavam era mesmo com os olhos. Ela, com os olhos, perguntava o que ele queria. Ele, também com os olhos, dizia que a queria.
Jonas lembrou do tal doutor que há pouco havia lhe falado para desejar menos. Mas como não desejar? Como lidar com o que há de mais belo?
E Ela, ali, bem a sua frente; linda.
terça-feira, 29 de novembro de 2005
da separação e da união (relacionamento-reflexão das mentiras e das verdades)
Mas a conquista da mediocridade me foi o caminho da felicidade. Tratei-me durante oito meses. Esse foi o legado que ela me deixou. Meu esquecimento foi a chave para sua felicidade, diziam por aí. Ela andava triste e com ares negativos já no final do nosso relacionamento. Pouco antes havia me traído, não sei se só em pensamentos. Fui medíocre com ela, não tive ciúmes. As paixões de primeira hora nunca foram suficientes para isso. As razões que tive por ela, não foram poucas, nem tampouco duradouras. Antes dela eu era triste.
Antes dele eu era feliz. As razões que tive por ele, foram poucas, mas tampouco passageiras. As paixões da primeira hora se fizeram sempre suficientes para isso. Nunca fui medíocre com ele, só tive ciúmes. Pouco antes havia lhe traído, talvez só em pensamento. Ele andava feliz e com ares positivos pouco antes do final do nosso relacionamento. Minha tristeza foi a chave para sua felicidade, dizem por aí. Esse foi o motivo por ter lhe deixado. Esqueci-o em oito meses. Mas a conquista da liberdade me foi o caminho da tristeza.
quinta-feira, 24 de novembro de 2005
Conto de folhetim: Parte II - O tal doutor
A noite foi de ansiedade, de muitos pensamentos. A incógnita do velho, Jonas deixou de lado; pensou que não iria chegar a nenhuma resposta mesmo. Pernoitou em uma pensão simples, lugar de viajantes, não muito limpa, mas de comida boa.
Passava pouco depois das 7 da manhã e Jonas fui buscar o tal médico. Não foi difícil, a cidade não passava de uma larga praça e uma dúzia de vielas. Chegou na casa-consultório-chácara e sem falar com ninguém entendeu que havia uma fila. Não passava de umas 8 pessoas, todas falando pouco e bem baixo. Uma criança infernizava com um choro escandaloso e interminável, chorava tanto que a mãe já havia desistido de tentar fazê-la parar. - Isto é choro de quebrante - disse em tom cerimonioso a moça a sua frente na fila. - Ah... sim, quebrante - Jonas sem saber o que dizer. Logo completou a moça - Tá calor, não? - É, quente mesmo - Jonas mais uma vez sem saber como continuar a conversa. A verdade era que não estava para conversas. Uma hora e uns quebrados, chegou sua vez.
Passava pouco depois das 7 da manhã e Jonas fui buscar o tal médico. Não foi difícil, a cidade não passava de uma larga praça e uma dúzia de vielas. Chegou na casa-consultório-chácara e sem falar com ninguém entendeu que havia uma fila. Não passava de umas 8 pessoas, todas falando pouco e bem baixo. Uma criança infernizava com um choro escandaloso e interminável, chorava tanto que a mãe já havia desistido de tentar fazê-la parar. - Isto é choro de quebrante - disse em tom cerimonioso a moça a sua frente na fila. - Ah... sim, quebrante - Jonas sem saber o que dizer. Logo completou a moça - Tá calor, não? - É, quente mesmo - Jonas mais uma vez sem saber como continuar a conversa. A verdade era que não estava para conversas. Uma hora e uns quebrados, chegou sua vez.
Jonas entrou na casa e viu um senhor sentado numa cadeira à sombra de uma árvore no quintal dos fundos da casa. Era o doutor, que tinha aparência de um homem de uns 60 anos saudáveis, barba aparada, cabelos grisalhos, ralos e asseados. Vestia roupas largas e confortáveis, camisa branca, calças bege, sandália de couro. Ele sorriu e chamou Jonas para se sentar com ele. Ficaram à beira do jardim. As plantas eram bem cuidadas e ajeitadas de uma forma propositalmente displicente.
Jonas, ansioso, foi logo dizendo - Doutor, não sei o que tenho. Engraçado como já não sei mais o que dizer... e meu problema não é esquecimento. Vim pra cá com tantos pensamentos, só que agora parece estar tudo bem, até está. Mas tem hora que não me aguento, parece que me consome, perco as esperanças, parece que não há futuro, é agonia das fortes, como uma coisa que vai ganhando espaço dentro de mim, depois encolhe, vai embora e mais uma vez volta a crescer... vai e volta sem dar satisfação.
- Meu filho, isso é juventude, isso é o mal do infinito... e o infinito é longe pra diabo! Parece que não chega nunca e não chega mesmo... eu bem me lembro da minha juventude. Oh, tempo bom! Filho, não adianta eu dizer, mas isto pode passar. Deseje menos, talvez ajude. É a velha história de que a diferença entre o remédio e o veneno está na dose... nem eu nem niguém vão lhe ensinar essas coisas da vida. Apenas não perca sua espera-nça.
Jonas ouviu com o máximo de atenção e não disfarçou a cara de incógnita, pelo contrário, fez questão de parecer confuso na esperança de ouvir maiores explicações. Tentou ao menos lembrar perfeitamente de tudo que ouviu, quem sabe poderia pensar melhor em todas aquelas palavras depois. E o doutor não falou mais nada mesmo, mandou até Jonas sair. Ele foi, deixou a casa, da mesma forma que entrou - nem mais nem menos. Parou no bar da cidade, sentou no balcão, pensou que algo de beber ajudaria a trazer os pensamentos à luz.
Jonas, ansioso, foi logo dizendo - Doutor, não sei o que tenho. Engraçado como já não sei mais o que dizer... e meu problema não é esquecimento. Vim pra cá com tantos pensamentos, só que agora parece estar tudo bem, até está. Mas tem hora que não me aguento, parece que me consome, perco as esperanças, parece que não há futuro, é agonia das fortes, como uma coisa que vai ganhando espaço dentro de mim, depois encolhe, vai embora e mais uma vez volta a crescer... vai e volta sem dar satisfação.
- Meu filho, isso é juventude, isso é o mal do infinito... e o infinito é longe pra diabo! Parece que não chega nunca e não chega mesmo... eu bem me lembro da minha juventude. Oh, tempo bom! Filho, não adianta eu dizer, mas isto pode passar. Deseje menos, talvez ajude. É a velha história de que a diferença entre o remédio e o veneno está na dose... nem eu nem niguém vão lhe ensinar essas coisas da vida. Apenas não perca sua espera-nça.
Jonas ouviu com o máximo de atenção e não disfarçou a cara de incógnita, pelo contrário, fez questão de parecer confuso na esperança de ouvir maiores explicações. Tentou ao menos lembrar perfeitamente de tudo que ouviu, quem sabe poderia pensar melhor em todas aquelas palavras depois. E o doutor não falou mais nada mesmo, mandou até Jonas sair. Ele foi, deixou a casa, da mesma forma que entrou - nem mais nem menos. Parou no bar da cidade, sentou no balcão, pensou que algo de beber ajudaria a trazer os pensamentos à luz.
segunda-feira, 21 de novembro de 2005
das paixões e das traições (metrópole-reflexão das criações)
taormina era menina sempre bem vista. tinha desde seus anos novos boa reputação entre as amigas da mãe, dona alva, e entre os pretendentes a compadres de seu pai, senhor aluísio, descendente de italianos fugidos da máfia siciliana. aprendeu o piano, lia os clássicos, bordava pontos caprichosos e não parecia se alimentar de maus ideais. mina, como lhe chamavam os familiares mais chegados, formou-se com louvor no colégio católico, cumpria-lhe então o matrimônio e a maternidade. sentiu-se atraída por um jovem que a pretendia, chamado joaquim, descendente de portugueses que comandavam negócios de exportação de café e recém formado em ciências jurídicas. para completar-lhe o fado de sucesso, mina veio a calhar. seria boa esposa, não lhe restava dúvidas, nem a ninguém. namoraram e noivaram uma semana antes de joaquim ir passar dois anos, que depois viraram quatro, estudando em yale. por essa época, viam-se somente pela oportunidade do feriado de natal, quando ele retornava por duas semanas. e, após longos cinco anos desde que haviam se conhecido, casaram-se e foram de lua-de-mel aos estados unidos. mina apaixonou-se por nova york, manhattan precisamente, e por um sujeito que encontrou no central park enquanto joaquim lhe comprava balões de gás. não trocaram palavras, somente olhares de certeza futura, ensurdecidos pelos barulhos do coração. digo que essas coisas de certezas entre os olhares são coisas misteriosas, tanto quanto o futuro o é. mas a intensidade da paixão permite que a certeza, ainda que duvidosa, o seja. pois tornaram a se encontrar ocasionalmente em uma peça teatral na broadway e depois em uma loja de departamento na quinta avenida. nesse encontro puderam trocar as primeiras palavras, já que mina estava sozinha, porquanto o marido, lhe dissera, estava tratando de negócios ali por perto. para espanto recíproco e ridicularização das primeiras palavras em inglês, eram ambos da mesma nacionalidade e provenientes da mesma cidade. ele comentou a nova moda channel, ela confessou-lhe não gostar tanto, que preferia os clássicos franceses mesmo, quiçá os italianos. ele convidou-a para visitá-lo em paris, para onde estava indo dali a dois dias, ela aceitou e disse que dali a duas hora estaria em seu hotel. foram a paris e ela guardou escondida até a morte uma fotografia dela tirada por ele.
quinta-feira, 17 de novembro de 2005
só
fui deixado nas campinas
cercado por felinos mansos e ferozes
que me rodeavam com suas garras e seus caninos
fui forte enquanto pude me manter suspenso no ar
mas o ar é leve e incerto demais
o ar é instável demais para me manter suspenso e salvo
dos felinos de garras e caninos ferozes
dos felinos de ares mansos
mas ferozes
sou fraco mas fui forte enquanto pude
e sou forte por não ser fortaleza como o ar
o ar arrastava meu cheiro para as narinas felinas
elas me rodeavam
me olhavam
me desdenhavam sabendo que estava ali
estive sem pés e sem pique para correr
e sem asas para voar como sempre estive
vivi momentos felizes com os caninos ferozes que me rodeavam
mas no chão já não pude mais correr
perdi o fascínio
sentei na campina para aguardar meu fim
enquanto as garras cravaram a terra
como quem crava a mente em busca de soluções
errei em muita coisa
tive muitos problemas e errei muitas soluções
mas as unhas empestadas de terra e de pequenas partículas
viram no horizonte que fugia de mim soluções melhores
estou só em mim
sem felinos estou só
sentei só na campina e ali fiquei só e deitei
olhando para o céu abracei a terra e a campina
dei de costas com o peito para o céu e vi estrelas de formigas
as partículas e a terra no rosto do meu cabelo
o céu nas retinas da minha nuca
eu, só
cercado por felinos mansos e ferozes
que me rodeavam com suas garras e seus caninos
fui forte enquanto pude me manter suspenso no ar
mas o ar é leve e incerto demais
o ar é instável demais para me manter suspenso e salvo
dos felinos de garras e caninos ferozes
dos felinos de ares mansos
mas ferozes
sou fraco mas fui forte enquanto pude
e sou forte por não ser fortaleza como o ar
o ar arrastava meu cheiro para as narinas felinas
elas me rodeavam
me olhavam
me desdenhavam sabendo que estava ali
estive sem pés e sem pique para correr
e sem asas para voar como sempre estive
vivi momentos felizes com os caninos ferozes que me rodeavam
mas no chão já não pude mais correr
perdi o fascínio
sentei na campina para aguardar meu fim
enquanto as garras cravaram a terra
como quem crava a mente em busca de soluções
errei em muita coisa
tive muitos problemas e errei muitas soluções
mas as unhas empestadas de terra e de pequenas partículas
viram no horizonte que fugia de mim soluções melhores
estou só em mim
sem felinos estou só
sentei só na campina e ali fiquei só e deitei
olhando para o céu abracei a terra e a campina
dei de costas com o peito para o céu e vi estrelas de formigas
as partículas e a terra no rosto do meu cabelo
o céu nas retinas da minha nuca
eu, só
quarta-feira, 16 de novembro de 2005
Conto de Folhetim: Parte I - A Caminho de Ibitipoca
Jonas não se aguentava mais; estava prestes a explodir. Ainda conservava a espera-nça, mas já não era remédio que o confortava.
Belo dia resolveu procurar um médico, desses que cuidam das doenças da alma. Ficou sabendo que em Conceição do Ibitipoca havia um doutor que era bom mesmo, que resolvia de tudo. Era uma viagem um tanto quanto longa, mas pela fama do doutor - todos diziam que ele até tirava o pior dos quebrantos - parecia valer a pena tentar. Foi lá Jonas prestar queixa de suas insatisfações, de seu mal-estar sem razão certa.
A viagem até que passou depressa. Da janela Jonas se ocupou por um bom tempo com a paisagem das montanhas. O ônibus balançava um bocado. Entre um solavanco e outro puxou conversa com o senhor ao seu lado. O velho desatinou a contar histórias de sua vida - casos de família, de amor, de briga. Tinha aparência simples, cara marcada, o corpo sofrido e falava como quem tem a calma que só o tempo pode dar. Jonas ouviu admirado com atenção. A nostalgia do velho não era triste; pelo contrário, o seu olhar para o passado transparecia beleza, uma verdadeira admiração pela vida. Parecia viver a vida como quem aprecia um vinho - dos melhores -, principalmente quando falava de Vitalina*. Vitalina, a mulher que o fez deixar tudo e nascer para vida. Tudo era justificável por Vitalina, mais que isso, Vitalina justificava tudo. O velho quando tinha seus mais de 60 anos deixou mulher, filhos, propriedades e a segurança que tudo aquilo lhe dava para viver com Vitalina. - Que loucura! - disse Jonas sem pensar. - Loucura, meu filho... loucura não. Louco estava quando com mais de 60 não tinha sentido o que era viver - respondeu com ar de bon vivan. Jonas consentiu com a cabeça, mas continuava pensando que o velho era doido e emendeu em seguida - Ah, então pelo visto o senhor está muito bem arranjado com ela... - Não, meu filho, Vitalina me deixou. Hehehe. Foi viver com um rapaz, fazendeiro, dono de terras...
Apesar do entusiasmo e a fascinação com que o velho falava sobre Vitalina, sobre a vida, Jonas pensou que aquilo era o atestado de loucura do velho. Falar com tamanho prazer sobre uma história de amor que terminara com um belo par de chifres, não podia ser normal, não para Jonas. Nem sabia mais o que dizer e apenas respondeu com um movimento de cabeça, que não parecia nem dizer sim nem dizer não. - Vai entender... vai ver que é assim mesmo - pensou calado Jonas. Na confusão de sua mente, não conseguia entender de onde o velho tirava aquele prazer vital, aquilo que ele mesmo tanto buscava. Como era confuso tudo aquilo; o velho, que aparentemente parecia ter mais motivos para destestar a vida, era uma das poucas pessoas que conheceu, se não a única, com um verdadeiro tesão por ela.
Logo chegaram a Ibitipoca, mas já era tarde e procurar o tal médico só seria possível no dia seguinte.
(*) Ver texto em comentários.
A viagem até que passou depressa. Da janela Jonas se ocupou por um bom tempo com a paisagem das montanhas. O ônibus balançava um bocado. Entre um solavanco e outro puxou conversa com o senhor ao seu lado. O velho desatinou a contar histórias de sua vida - casos de família, de amor, de briga. Tinha aparência simples, cara marcada, o corpo sofrido e falava como quem tem a calma que só o tempo pode dar. Jonas ouviu admirado com atenção. A nostalgia do velho não era triste; pelo contrário, o seu olhar para o passado transparecia beleza, uma verdadeira admiração pela vida. Parecia viver a vida como quem aprecia um vinho - dos melhores -, principalmente quando falava de Vitalina*. Vitalina, a mulher que o fez deixar tudo e nascer para vida. Tudo era justificável por Vitalina, mais que isso, Vitalina justificava tudo. O velho quando tinha seus mais de 60 anos deixou mulher, filhos, propriedades e a segurança que tudo aquilo lhe dava para viver com Vitalina. - Que loucura! - disse Jonas sem pensar. - Loucura, meu filho... loucura não. Louco estava quando com mais de 60 não tinha sentido o que era viver - respondeu com ar de bon vivan. Jonas consentiu com a cabeça, mas continuava pensando que o velho era doido e emendeu em seguida - Ah, então pelo visto o senhor está muito bem arranjado com ela... - Não, meu filho, Vitalina me deixou. Hehehe. Foi viver com um rapaz, fazendeiro, dono de terras...
Apesar do entusiasmo e a fascinação com que o velho falava sobre Vitalina, sobre a vida, Jonas pensou que aquilo era o atestado de loucura do velho. Falar com tamanho prazer sobre uma história de amor que terminara com um belo par de chifres, não podia ser normal, não para Jonas. Nem sabia mais o que dizer e apenas respondeu com um movimento de cabeça, que não parecia nem dizer sim nem dizer não. - Vai entender... vai ver que é assim mesmo - pensou calado Jonas. Na confusão de sua mente, não conseguia entender de onde o velho tirava aquele prazer vital, aquilo que ele mesmo tanto buscava. Como era confuso tudo aquilo; o velho, que aparentemente parecia ter mais motivos para destestar a vida, era uma das poucas pessoas que conheceu, se não a única, com um verdadeiro tesão por ela.
Logo chegaram a Ibitipoca, mas já era tarde e procurar o tal médico só seria possível no dia seguinte.
(*) Ver texto em comentários.
quarta-feira, 9 de novembro de 2005
Águas próprias
terça-feira, 8 de novembro de 2005
Fome
Certa vez, busquei flores, flores para ela. Escolhi as mais bonitas, coloridas como ela, alegres como ela, perfumadas como ela. Tudo sem saber porquê; ela estava longe e talvez nem pensasse em mim.
Dei as flores a uma moça de olhar simpático que passava por ali. Ela, surpresa, sorriu. Eu agradeci. Percebi: era daquilo que eu precisava, daquele sorriso; apenas um desejo me alimentara.
sábado, 5 de novembro de 2005
fotografia laranja
tenho que as luzes eram laranja mesmo, ou tudo era do laranja que as luzes refletiam. um tempo antes não era para eu estar ali, nem era para ela estar comigo. mas o sorvete ainda não havia derretido. tenho quase que era laranja também. eu nem tinha muita fome mas o sorvete tinha muito sabor na boca dela, mesmo antes de comê-lo. penso que ali queria casar-lhe meus propósitos, ela de vestido laranja e buquê de flores amarelas e vermelhas, que serviam para todas, porque agora estava laranja e desejava que o mundo se colore também. e até creio que eram-lhe casados e esse instante se manteve na fotografia. mas fotografia só fica porque as luzes se apagam e porque as lembranças perdem cor. o sorvete derreteu com o laranja, as flores se foram com as luzes, eu ainda tenho esta fotografia.
enquanto ela dança
ela é bela. tentei convencê-la disso, ela agradeceu singelamente mas talvez nem tenha se atinado que se tratava de contemplação metafísica e mundana ao mesmo tempo. mas mais bela é a harmonia dela, que me eleva à música que o universo canta nela. e eu ouço.
terça-feira, 1 de novembro de 2005
minto
sinto
tanto o que sente seu íntimo
mas temo em dizê-lo que é muito
do que sente tanto o homem quanto o menino
minto
quando desse alento me animo
mesmo ao fazê-lo sem intuito
pois que o manto do homem é o encanto do menino
tanto o que sente seu íntimo
mas temo em dizê-lo que é muito
do que sente tanto o homem quanto o menino
minto
quando desse alento me animo
mesmo ao fazê-lo sem intuito
pois que o manto do homem é o encanto do menino
segunda-feira, 31 de outubro de 2005
Tempo
Vento,
Ajude a navegar o tempo,
Já que a vida que me conduz,
Só caminha em desalento.
Sim,
Conduza a barca em triste fim,
Entregue de vez essa luz,
Imensurável contratempo.
Ajude a navegar o tempo,
Já que a vida que me conduz,
Só caminha em desalento.
Sim,
Conduza a barca em triste fim,
Entregue de vez essa luz,
Imensurável contratempo.
A vida em cena
Estranho seria
se menino e menina
não dividissem o mesmo palco
até porque vãos e frestas um do outro
identificam o mesmo labirinto,
e na certeza das pegadas
rastros que levam ao mesmo destino.
No fim das contas
daquela janela poderiam vir muitas coisas
mas uma única era que se via
compondo a mesma cena
menino e menina
entre as árvores do pomar,
aproximando cor e fantasia.
Mais estranho ainda
seria ter como palco
o palco da vida.
Da vida de um e da vida de outro
buscando sem cessar
a mesma fresta do labirinto
e enxergando ao fundo, somente o descaminho.
E agora aquela cor
insiste em desbotar
e o menino e a menina
ainda com dor
não podem abandonar a cena
é o bendito destino
que castiga e nunca sente pena.
se menino e menina
não dividissem o mesmo palco
até porque vãos e frestas um do outro
identificam o mesmo labirinto,
e na certeza das pegadas
rastros que levam ao mesmo destino.
No fim das contas
daquela janela poderiam vir muitas coisas
mas uma única era que se via
compondo a mesma cena
menino e menina
entre as árvores do pomar,
aproximando cor e fantasia.
Mais estranho ainda
seria ter como palco
o palco da vida.
Da vida de um e da vida de outro
buscando sem cessar
a mesma fresta do labirinto
e enxergando ao fundo, somente o descaminho.
E agora aquela cor
insiste em desbotar
e o menino e a menina
ainda com dor
não podem abandonar a cena
é o bendito destino
que castiga e nunca sente pena.
sexta-feira, 21 de outubro de 2005
quarta-feira, 19 de outubro de 2005
Agora, você.
Anônimo, agora você me diz: o que? quando? onde? por que? Responda você com sua alma cheia de razão; sua constante indagação que não leva a lugar nenhum. Me diz o que é solidão, me diz se precisa de receita para se sentir só. Me diz ainda o que é amor, o que é paixão. Diz o que faz você querer viver e me diz qual é a explicação. Mas não quero palavras compradas, tomadas de algum lugar, nada que não seja verdadeiramente seu. Me dê a sua lógica vivida, os sentimentos sentidos - chega desse seu papo dos críticos frustrados...
terça-feira, 18 de outubro de 2005
Receita de como apenas sentir
Escrever é antes de tudo racionalizar os sentimentos em linguagem. Como haver receita para o que não é preparado, para o que já está pronto? Me responda: quem veio antes? e passo a noite procurando um jeito de lhe dá-la. Afinal, sou um puta de um picareta (e quem não é?), que lhe tira o tempo com coisas que lhe fazem fugir do que você é.
sexta-feira, 14 de outubro de 2005
Na Caverna ou Janela da Alma
segunda-feira, 10 de outubro de 2005
Loucura Moderada
A utilidade e normalidade
residem na eventualidade
Só assim se conserva o aspecto
regenerador do sentimento
de loucura
residem na eventualidade
Só assim se conserva o aspecto
regenerador do sentimento
de loucura
sexta-feira, 7 de outubro de 2005
quinta-feira, 6 de outubro de 2005
Espera-nça
Estrada das Almas, n.º95, mas poderia ser sem n.º mesmo, já que há muito não recebia uma carta, e muito menos visita. Jonas era homem sozinho.
Também há muito que o silêncio machucava, parecia sempre cutucá-lo como criança insistindo por atenção. A casa vazia, o tempo que tardava a passar, a luz fria do sol, as sombras que invadiam sem ser convidadas, os carros que passavam pela estrada sem nunca parar, o telefone que não tocava, as cartas que não chegavam, as visitas que não visitavam. Para Jonas, tudo tinha um quê de dor, mesmo que de vez em quando uma outra sensação qualquer a escondesse. A dor estava lá, e ele simplesmente não conseguia abandoná-la. Ele mostrava o caminho da rua, e ela insistia em ficar, parecia não querer deixá-lo só.
Mas ao mesmo tempo em que tudo era dor, tudo era expectativa, como para a criança que espera pela mãe. Uma espécie de promessa permanente de que o incômodo da dor que doia calada, sem reclamar, daria lugar à alegria, à felicidade, e que a porta se abriria, a carta chegaria, o telefone tocaria. Para Jonas, tudo era espera-nça.
A dor; a dor era a vida.
Também há muito que o silêncio machucava, parecia sempre cutucá-lo como criança insistindo por atenção. A casa vazia, o tempo que tardava a passar, a luz fria do sol, as sombras que invadiam sem ser convidadas, os carros que passavam pela estrada sem nunca parar, o telefone que não tocava, as cartas que não chegavam, as visitas que não visitavam. Para Jonas, tudo tinha um quê de dor, mesmo que de vez em quando uma outra sensação qualquer a escondesse. A dor estava lá, e ele simplesmente não conseguia abandoná-la. Ele mostrava o caminho da rua, e ela insistia em ficar, parecia não querer deixá-lo só.
Mas ao mesmo tempo em que tudo era dor, tudo era expectativa, como para a criança que espera pela mãe. Uma espécie de promessa permanente de que o incômodo da dor que doia calada, sem reclamar, daria lugar à alegria, à felicidade, e que a porta se abriria, a carta chegaria, o telefone tocaria. Para Jonas, tudo era espera-nça.
A dor; a dor era a vida.
sábado, 1 de outubro de 2005
dos réquiens e dos votos (diálogo-reflexão com mozart, tchaikovsky e beethoven)
Mozart um dia tocou lacrimoso meu coração. Respondi que aquilo nada tinha a ver com coração, que meu coração já estava farto de gorduras e sobressaltos, que aquilo era coisa das mais químicas, como tudo que é do homem. Ele estava mal, me pediu para recordar dos velhos tempos, mas eu, que nem me lembro do que vivi, o que poderia dizer do que não vi? Assim, respondendo com pergunta, o deixei um pouco confuso, pediu um tempo acendendo um cigarro, eu nem sabia que ele fumava, pensava que só bebia sua dose diária de qualquer bebida que o deixasse bom como um santo. Tchaikovsky, que andava alegre por ali, me explicou que o cigarro era mais democrático que a bebida. Mozart riu triunfante porque não ria antes e Beethoven, que não era assim e ouvia atentamente o que se passava, caiu em gargalhadas. Fiquei sério, porque nos velhos tempos aquilo até podia ser engraçado, mas que hoje em dia a coisa ia para outros lados. A bebida é neon, é obscena como a multidão, ofensiva, grita, cheira, a bebida é trovão. O cigarro não, ele até cheira, até chama, mas é silêncio, é solidão, é tempestade que não chove. Engana, dá charme para os olhos dos que vêem e atrai os que ainda não usaram. O cigarro, definitivamente, é mais democrático. Porque se traga, se sente completo, mas depois se entrega aos ares, se sente livre. Um deles, que não me tirava a atenção das minhas reflexões, disse que o cigarro e a democracia eram presentes dos deuses do mal. Porque eram deuses, porque eram do mal. E eu bebi minha bebida e ela estava saborosa como nunca, para sempre.
sexta-feira, 30 de setembro de 2005
quarta-feira, 28 de setembro de 2005
Gosto de Vida
Por Deus!
Aonde é que isso vai dar?!
Não é que eu não gosto. Gosto sim.
Mas me toma a agonia,
Quando já não vejo fim.
É... eu sei, o prazer está em cada degrau, não é?
Por vezes sinto isso, sim.
Por vezes me toma a agonia.
Agonia. Agonia gosto de vida
Gosto sim
Gosto que tem a vida
Gosto de agonia, alegria
Gosto de paixão, desilusão
De amor, dor
Tudo gosto de vida
Aonde é que isso vai dar?!
Não é que eu não gosto. Gosto sim.
Mas me toma a agonia,
Quando já não vejo fim.
É... eu sei, o prazer está em cada degrau, não é?
Por vezes sinto isso, sim.
Por vezes me toma a agonia.
Agonia. Agonia gosto de vida
Gosto sim
Gosto que tem a vida
Gosto de agonia, alegria
Gosto de paixão, desilusão
De amor, dor
Tudo gosto de vida
segunda-feira, 19 de setembro de 2005
Citação - Meu herói
Esse texto é uma citação, foi escrito há um tempo por uma amiga (Amanda). Achei bonito, poético. Ela fala de sofrimento, amor e da dicotomia realidade/ilusão (afinal, o que é o que?). Enfim:
Meu herói
Percorri caminhos sinuosos... e como percorri, à procura de uma resposta para a minha desilusão.
Chorei, sofri, no mais profundo vale da depressão, estava eu, tão só. Relembrei momentos de felicidade, porém estes me tornaram cada vez mais frágil.
Meu corpo jazia naquela escuridão angustiante, quando o mais translúcido feixe de luz surgiu no meio da névoa. Com minhas pálpebras úmidas mal pude enxergar: eras tu. Vieste resgatar-me, eu, vulnerável, me enamorei.
Percebi que a solução de meu desengano era mais simples do que a que eu desesperadamente procurava. Lá estavas, atrás de mim, onde não podia ver, nem notar tua presença. E, num olhar de soslaio, meu corpo estremeceu, meu coração palpitou, minha mente clareou... te avistava.
Os nós formados entre a razão e os sentimentos, meus desejos, meus medos, minha agonia, foram desatados. Tu devolveste a vida, a felicidade, o amor para mim. Tudo estava límpido, calmo e bonito. Porém, meu herói não estava sabendo, talvez tenha reparado... talvez.
Eis minha indagação, tu, meu louvado herói quiçá desatento ou quiçá eu enamorada transcendente...
Ainda que sem perceberes este célere amor desabrochar, fica ao fim destas linhas a confissão de meus sentimentos.
Amo-te
Enamorada
domingo, 18 de setembro de 2005
cadeia
sexta-feira, 16 de setembro de 2005
quarta-feira, 14 de setembro de 2005
No meio do caminho ou Aos 23 e 4 meses
No meio do caminho, me atinei de tudo aquilo. No meio de toda a indecisão de ir ou não ir, percebi que já não tinha escolha. Ou tinha? O caminho estava traçado, e com letras grandes; quase impossível que eu não visse por onde eu deveria ir. Tudo me indicava o que fazer. Mas não sei por que aquilo tudo não me atraía mais. Antes, de longe, me parecia um mundo atraente, prazeroso, e fácil, muito fácil. Todos parecendo felizes - e talvez até sejam -, pessoas de sucesso, a fórmula da felicidade na sua pura aplicação.
Teria permanecido assim se eu não tivesse pensado, se eu não tivesse me atinado de tudo aquilo. Desejei estar ali, chegar até ali, mas quando já ali desejei não ter visto, não ter sentido, simplesmente queria ter seguido; como teria sido mais fácil, Deus como teria sido mais fácil! Acho que se pudesse escolher naquela hora, optaria pela cegueira, por não ver, ou por uma simples e forte miopia. Bem-aventurados aqueles que não vêem, já me diziam (por que raios não ouvi? nunca ouço). Sem dúvida a felicidade fácil mora ali, naquele caminho seguro por onde muitos passaram. Tudo à mão, tudo na prateleira do supermercado; a felicidade embalada para viagem... E nem fechar os olhos consigo mais, nem isso me resta. Me vejo quase sozinho, a solidão à flor da pele, queimando como uma ferida aberta. Onde é que estão as pessoas?! Onde é que elas se meteram?! Não é possível que não vejam, não vêem!
É, Marco, ao contrário do que imaginou, que difícil fazer um novo caminho no meio da areia virgem...
segunda-feira, 12 de setembro de 2005
Sei lá...
terça-feira, 6 de setembro de 2005
que quero eu do que?
I
nunca fui o que vi
porque o que vejo é tudo o que sou
II
deito com eles
sonho com tudo
acordo com nada
III
meu querer é míope:
sente
não sabe nada
e o resto busca saber em mim
IV
sou o que vejo
o que ouço
o que toco
o que cheiro e gosto
ou desgosto
eu mesmo eu não sou
V
porque vejo, quero
porque quero, sou cego
e sou velho porque apanho o passado que não vivi
mas que agora vejo
e estranho
VI
sou míope
louco
cego
e estranho
VI
e no dia da minha morte prematura
a primeira delas
as trevas se ocuparam de mim
resolutivas e derradeiras como a fruta madura que cai
vi frestas da luz criativa e dos seus colaterais
VII
essa luz me ofusca
por escassez ou excesso, não sei
pela tolice talvez
e bebo a água da realidade para curar a dor da ressaca
de atrevido que fui
ou guiado que permiti
por tomar certas resoluções
sou tolo
VIII
quê pode querer um míope?
como eu
senão a boa-venturança de um futuro límpido?
quê pode querer um louco?
como eu
senão a imediata obediência das suas loucuras?
quê pode querer um cego?
como eu
senão a planície absoluta de seus caminhos?
quê pode querer um estranho?
como eu
senão o aceite justo do seu íntimo?
IX
mas, meu deus, o que pode querer um tolo?
nunca fui o que vi
porque o que vejo é tudo o que sou
II
deito com eles
sonho com tudo
acordo com nada
III
meu querer é míope:
sente
não sabe nada
e o resto busca saber em mim
IV
sou o que vejo
o que ouço
o que toco
o que cheiro e gosto
ou desgosto
eu mesmo eu não sou
V
porque vejo, quero
porque quero, sou cego
e sou velho porque apanho o passado que não vivi
mas que agora vejo
e estranho
VI
sou míope
louco
cego
e estranho
VI
e no dia da minha morte prematura
a primeira delas
as trevas se ocuparam de mim
resolutivas e derradeiras como a fruta madura que cai
vi frestas da luz criativa e dos seus colaterais
VII
essa luz me ofusca
por escassez ou excesso, não sei
pela tolice talvez
e bebo a água da realidade para curar a dor da ressaca
de atrevido que fui
ou guiado que permiti
por tomar certas resoluções
sou tolo
VIII
quê pode querer um míope?
como eu
senão a boa-venturança de um futuro límpido?
quê pode querer um louco?
como eu
senão a imediata obediência das suas loucuras?
quê pode querer um cego?
como eu
senão a planície absoluta de seus caminhos?
quê pode querer um estranho?
como eu
senão o aceite justo do seu íntimo?
IX
mas, meu deus, o que pode querer um tolo?
quinta-feira, 18 de agosto de 2005
A saudade a termo
"Sinto saudades. Pouco mais de uma semana que não a vejo e trago comigo a impressão oscilante de quem não vê alguém querido há muitos anos.
Sentimento estranho a saudade... por vezes, somos capazes de passar anos a fio sem a presença de um amigo e não sentirmos, em absoluto, qualquer sentimento de incompletude. Em outras situações, como a que agora me acomete impiedosamente, sem mais nem por quê sentimos falta de alguém que, pelo malfadado ritmo do cotidiano em que vivemos, mal tivemos a oportunidade de conhecer. Momentos incompletos que se extraviaram nas linhas do dia-a-dia. É a saudade do que não foi.
Mas não posso reclamar da saudade. O seu paradoxo, em verdade, muito me atrai. Diria até que, no fundo, sentir saudades me faz bem.
Quando a vemos de frente, a saudade tende a castigar cada sentimento aflorado com relação ao que sentimos falta. Depois, no entanto, quando a enfrentamos, sentimos um certo prazer comedido, na esperança de que os caminhos da vida, vacilantes como as ondas do mar, encarreguem-se de um novo encontro. Para isso, basta um pequeno esforço de nossas partes. Esforço que não pode mais ser derruído pela “imperiosa-indigente” falta de tempo."
Sentimento estranho a saudade... por vezes, somos capazes de passar anos a fio sem a presença de um amigo e não sentirmos, em absoluto, qualquer sentimento de incompletude. Em outras situações, como a que agora me acomete impiedosamente, sem mais nem por quê sentimos falta de alguém que, pelo malfadado ritmo do cotidiano em que vivemos, mal tivemos a oportunidade de conhecer. Momentos incompletos que se extraviaram nas linhas do dia-a-dia. É a saudade do que não foi.
Mas não posso reclamar da saudade. O seu paradoxo, em verdade, muito me atrai. Diria até que, no fundo, sentir saudades me faz bem.
Quando a vemos de frente, a saudade tende a castigar cada sentimento aflorado com relação ao que sentimos falta. Depois, no entanto, quando a enfrentamos, sentimos um certo prazer comedido, na esperança de que os caminhos da vida, vacilantes como as ondas do mar, encarreguem-se de um novo encontro. Para isso, basta um pequeno esforço de nossas partes. Esforço que não pode mais ser derruído pela “imperiosa-indigente” falta de tempo."
quinta-feira, 11 de agosto de 2005
quarta-feira, 10 de agosto de 2005
marco, que sabemos nós?
liberdade cultural, identidade cultural...
não sei, mas tudo está tão enraizado.
hollywood mapeia os sonhos do mundo, não é?
e o orkut os relacionamentos! e o google as pesquisas!
depois as pessoas me desdenham, dizendo que sou velho...
não sei, mas tudo está tão modernizado, tão padronizado.
quando nasci já haviam inventado a liberdade e a identidade.
depois tentaram fazer a gente cambalear, e até cambaleamos.
mas a gente dá a volta por cima, não dá?
olha esse "blog" (blog talvez seja a palavra mais feia que eu já tenha ouvido), entende?
enfim, que sabemos nós se já nascemos assim?
não sei, mas tudo está tão enraizado.
hollywood mapeia os sonhos do mundo, não é?
e o orkut os relacionamentos! e o google as pesquisas!
depois as pessoas me desdenham, dizendo que sou velho...
não sei, mas tudo está tão modernizado, tão padronizado.
quando nasci já haviam inventado a liberdade e a identidade.
depois tentaram fazer a gente cambalear, e até cambaleamos.
mas a gente dá a volta por cima, não dá?
olha esse "blog" (blog talvez seja a palavra mais feia que eu já tenha ouvido), entende?
enfim, que sabemos nós se já nascemos assim?
terça-feira, 9 de agosto de 2005
j.p. cilli, que sei eu da cultura?
Sei que quero devorá-la até o último grão; bebê-la até a última gota
Para depois, depois vomitá-la.
Útil até que se consiga libertar-se dela.
Útil até que se possa criar a sua própria.
Para depois, depois vomitá-la.
Útil até que se consiga libertar-se dela.
Útil até que se possa criar a sua própria.
domingo, 7 de agosto de 2005
Fugaz
Quando vejo, o agora já se foi
E agora?
Agora não há
Agora já se foi.
Não! Digo agora, agora-já!
Pronto, se foi de novo...
E agora?
Agora não há
Agora já se foi.
Não! Digo agora, agora-já!
Pronto, se foi de novo...
quinta-feira, 4 de agosto de 2005
O Inevitável Silêncio
Não se viam há algum tempo, mas sentiam como se tivessem se encontrado ontem. Uma espécie de intimidade esquisita, que existia e não exisitia ao mesmo tempo. Talvez uma verdadeira cumplicidade.
Naquele momento, queriam simplesmente estar ao lado do outro, contar o que viveram, pensaram naqueles meses anteriores.
Ele, ansioso, passou dias só imaginando como seria mais uma conversa ao seu lado, olhar mais uma vez para aquele sorriso encantador.
Ela, curiosa, queria saber como se sentiria na presença dele, depois das fortes palavras em que ele revelou seu desejo por ela.
Conversavam, contavam casos, besteiras. Riam, se divertiam.
Admiravam o pôr-do-sol especialmente bonito naquele dia.
Até que se fez o inevitável silêncio quase constrangedor.
Se olhavam.
Ele. Ele praticamente a tocava com o olhar, queria tocá-la, brincar com seus cabelos, talvez beijá-la com carinho.
Ela. Ela se sentia feliz, afinal.
Já não sabia o que queria; talvez ser beijada.
Naquele momento, queriam simplesmente estar ao lado do outro, contar o que viveram, pensaram naqueles meses anteriores.
Ele, ansioso, passou dias só imaginando como seria mais uma conversa ao seu lado, olhar mais uma vez para aquele sorriso encantador.
Ela, curiosa, queria saber como se sentiria na presença dele, depois das fortes palavras em que ele revelou seu desejo por ela.
Conversavam, contavam casos, besteiras. Riam, se divertiam.
Admiravam o pôr-do-sol especialmente bonito naquele dia.
Até que se fez o inevitável silêncio quase constrangedor.
Se olhavam.
Ele. Ele praticamente a tocava com o olhar, queria tocá-la, brincar com seus cabelos, talvez beijá-la com carinho.
Ela. Ela se sentia feliz, afinal.
Já não sabia o que queria; talvez ser beijada.
quarta-feira, 27 de julho de 2005
sábado, 23 de julho de 2005
o círculo colorido que gira
que o tudo se transforme no nada é uma questão lógica. assim como o é as cores de um círculo que, ao girar, fica branco. às vezes é o que me passa quando quero dizer tanta coisa que dá na mesma ficar em silêncio.
quarta-feira, 20 de julho de 2005
De madrugada
Ao final, paz.
Agora, apenas, somente
A geladeira de leve a roncar
A embalar
A acompanhar
O último cigarro
do dia.
da noite.
da madrugada.
Agora, apenas, somente
A geladeira de leve a roncar
A embalar
A acompanhar
O último cigarro
do dia.
da noite.
da madrugada.
segunda-feira, 18 de julho de 2005
Eu, anônimo
Celebremos o anonimato! Pois, ao contrário do que frequentemente penso, não sou notado na multidão. Na verdade nada me nota, talvez até me tratem com um leve desprezo. Sou um mero estranho, a mais pura trivialidade. Sempre quis ser notado, acho eu. Ao menos ser visto por aquela garota desconhecida de sorriso tão simpático, que por alguns minutos fiquei imaginando como seria conhecê-la. Posso parecer um tanto descrente ou decepcionado com essas palavras, mas não. Reconhecer a minha própria invisibilidade, a minha insignificância frente aos desconhecidos é simplesmente uma atitude libertadora. Que a multidão vá para o inferno! Não os conheço, eles nada pensam de mim e por isso sou livre. A minha subjetividade depende disso, dessa insignificância que sou para essas pessoas. E por mais que eu tente admitir ou me convencer de que a opnião alheia é irrelevante, não acho que isso seja factível. Considero sim, pelo menos por ora, o que pensam de mim; mas o que pensam meus amigos, minha família, minhas pessoas queridas e não esses desconhecidos. De novo: para o inferno, desconhecidos! Sartre disse que somos o que fazemos com o que os outros fazem de nós. Mas é preciso limitar esses outros. Vivo, e a maioria de nós vive, em uma cidade de milhões de pessoas. Quantos outros não existem por aí?! Infinitos outros que nem tenho como me preocupar. Pro inferno! Creio que sempre tive uma certa preocupação com os outros, talvez por imaginar - coitado de mim - que sou algo de importante. Já percebi várias vezes o quão minúsculo sou, um microscópico ponto ambulante na face da Terra que de repente poderia sumir e mal ser lembrado (quantas pessoas iriam ao meu enterro?). Pequeno, sou muito pequeno em relação às infinitas posssibilidades do mundo, de onde se pode ir, do que se pode fazer, do que se pode conhecer, do que se pode viver...
Garçon, por favor, uma dose caprichada de anonimato. E um brinde à liberdade!
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