quinta-feira, 18 de agosto de 2005

A saudade a termo

"Sinto saudades. Pouco mais de uma semana que não a vejo e trago comigo a impressão oscilante de quem não vê alguém querido há muitos anos.
Sentimento estranho a saudade... por vezes, somos capazes de passar anos a fio sem a presença de um amigo e não sentirmos, em absoluto, qualquer sentimento de incompletude. Em outras situações, como a que agora me acomete impiedosamente, sem mais nem por quê sentimos falta de alguém que, pelo malfadado ritmo do cotidiano em que vivemos, mal tivemos a oportunidade de conhecer. Momentos incompletos que se extraviaram nas linhas do dia-a-dia. É a saudade do que não foi.
Mas não posso reclamar da saudade. O seu paradoxo, em verdade, muito me atrai. Diria até que, no fundo, sentir saudades me faz bem.
Quando a vemos de frente, a saudade tende a castigar cada sentimento aflorado com relação ao que sentimos falta. Depois, no entanto, quando a enfrentamos, sentimos um certo prazer comedido, na esperança de que os caminhos da vida, vacilantes como as ondas do mar, encarreguem-se de um novo encontro. Para isso, basta um pequeno esforço de nossas partes. Esforço que não pode mais ser derruído pela “imperiosa-indigente” falta de tempo."

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