terça-feira, 6 de setembro de 2005

que quero eu do que?

I

nunca fui o que vi

porque o que vejo é tudo o que sou

II

deito com eles
sonho com tudo

acordo com nada

III

meu querer é míope:
sente
não sabe nada

e o resto busca saber em mim

IV

sou o que vejo
o que ouço
o que toco
o que cheiro e gosto
ou desgosto

eu mesmo eu não sou

V

porque vejo, quero
porque quero, sou cego
e sou velho porque apanho o passado que não vivi
mas que agora vejo

e estranho

VI

sou míope
louco
cego

e estranho

VI

e no dia da minha morte prematura
a primeira delas
as trevas se ocuparam de mim
resolutivas e derradeiras como a fruta madura que cai

vi frestas da luz criativa e dos seus colaterais

VII

essa luz me ofusca
por escassez ou excesso, não sei
pela tolice talvez
e bebo a água da realidade para curar a dor da ressaca
de atrevido que fui
ou guiado que permiti
por tomar certas resoluções

sou tolo

VIII

quê pode querer um míope?
como eu
senão a boa-venturança de um futuro límpido?

quê pode querer um louco?
como eu
senão a imediata obediência das suas loucuras?

quê pode querer um cego?
como eu
senão a planície absoluta de seus caminhos?

quê pode querer um estranho?
como eu
senão o aceite justo do seu íntimo?

IX

mas, meu deus, o que pode querer um tolo?

2 comentários:

Marco disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Marco disse...

A pergunta não quer calar
A resposta não se revelar
Querer é poder
Mas, afinal, quê quero eu?