I
nunca fui o que vi
porque o que vejo é tudo o que sou
II
deito com eles
sonho com tudo
acordo com nada
III
meu querer é míope:
sente
não sabe nada
e o resto busca saber em mim
IV
sou o que vejo
o que ouço
o que toco
o que cheiro e gosto
ou desgosto
eu mesmo eu não sou
V
porque vejo, quero
porque quero, sou cego
e sou velho porque apanho o passado que não vivi
mas que agora vejo
e estranho
VI
sou míope
louco
cego
e estranho
VI
e no dia da minha morte prematura
a primeira delas
as trevas se ocuparam de mim
resolutivas e derradeiras como a fruta madura que cai
vi frestas da luz criativa e dos seus colaterais
VII
essa luz me ofusca
por escassez ou excesso, não sei
pela tolice talvez
e bebo a água da realidade para curar a dor da ressaca
de atrevido que fui
ou guiado que permiti
por tomar certas resoluções
sou tolo
VIII
quê pode querer um míope?
como eu
senão a boa-venturança de um futuro límpido?
quê pode querer um louco?
como eu
senão a imediata obediência das suas loucuras?
quê pode querer um cego?
como eu
senão a planície absoluta de seus caminhos?
quê pode querer um estranho?
como eu
senão o aceite justo do seu íntimo?
IX
mas, meu deus, o que pode querer um tolo?
terça-feira, 6 de setembro de 2005
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2 comentários:
A pergunta não quer calar
A resposta não se revelar
Querer é poder
Mas, afinal, quê quero eu?
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