terça-feira, 17 de abril de 2007

Ela é bela


Se eu lhe disser que sua beleza não é absoluta, esse é o meu maior elogio. A beleza assim, pura e grandiloqüente, é destinada às estátuas; elas não têm vida, são moldadas, planejadas e executadas e, por fim, não se alteram diante dos terrores e dos prazeres que dançam aos seus pés; a única mudança que aceitam é a destruição: um vândalo lhe martela o rosto, que se estilhaça pelo chão como lascas e restos, e não mais como estátua. Ela não iria querer isso de mim; sua beleza vai até o ponto de se permitir, sem se perder, pequenas mudanças cotidianas. Seu rosto cresce com o sono e com o choro, deforma-se lindamente num sorriso ou na carência. Sua beleza não se impõe como sombra, nem imobiliza a vida. Sua beleza evolui; dissolve-se, envolve e toma fluidamente todo o meu espaço.

(Mote: Virginia Woolf, Passeio ao Farol, e, de certo modo, uma reedição repensada)

2 comentários:

Anônimo disse...

misteriosa mensagem, JP, ando também, vou indo.
(tony)

João Pedro disse...

Trecho do livro que citei:

“Mas a beleza não é tudo. A beleza tinha essa desvantagem – vinha depressa demais, demasiadamente íntegra. Imobilizava a vida – paralisava-a. Esquecia-se das pequenas atribulações; o rubor e a palidez, qualquer estranha mudança, qualquer luz ou sombra que tornavam o rosto irreconhecível por um momento e contudo lhe acrescentavam uma qualidade que se passava a ver nele dali por diante. Era mais simples dissimular tudo isso sob a máscara da beleza”.