quinta-feira, 24 de novembro de 2005

Conto de folhetim: Parte II - O tal doutor

A noite foi de ansiedade, de muitos pensamentos. A incógnita do velho, Jonas deixou de lado; pensou que não iria chegar a nenhuma resposta mesmo. Pernoitou em uma pensão simples, lugar de viajantes, não muito limpa, mas de comida boa.
Passava pouco depois das 7 da manhã e Jonas fui buscar o tal médico. Não foi difícil, a cidade não passava de uma larga praça e uma dúzia de vielas. Chegou na casa-consultório-chácara e sem falar com ninguém entendeu que havia uma fila. Não passava de umas 8 pessoas, todas falando pouco e bem baixo. Uma criança infernizava com um choro escandaloso e interminável, chorava tanto que a mãe já havia desistido de tentar fazê-la parar. - Isto é choro de quebrante - disse em tom cerimonioso a moça a sua frente na fila. - Ah... sim, quebrante - Jonas sem saber o que dizer. Logo completou a moça - Tá calor, não? - É, quente mesmo - Jonas mais uma vez sem saber como continuar a conversa. A verdade era que não estava para conversas. Uma hora e uns quebrados, chegou sua vez.
Jonas entrou na casa e viu um senhor sentado numa cadeira à sombra de uma árvore no quintal dos fundos da casa. Era o doutor, que tinha aparência de um homem de uns 60 anos saudáveis, barba aparada, cabelos grisalhos, ralos e asseados. Vestia roupas largas e confortáveis, camisa branca, calças bege, sandália de couro. Ele sorriu e chamou Jonas para se sentar com ele. Ficaram à beira do jardim. As plantas eram bem cuidadas e ajeitadas de uma forma propositalmente displicente.
Jonas, ansioso, foi logo dizendo - Doutor, não sei o que tenho. Engraçado como já não sei mais o que dizer... e meu problema não é esquecimento. Vim pra cá com tantos pensamentos, só que agora parece estar tudo bem, até está. Mas tem hora que não me aguento, parece que me consome, perco as esperanças, parece que não há futuro, é agonia das fortes, como uma coisa que vai ganhando espaço dentro de mim, depois encolhe, vai embora e mais uma vez volta a crescer... vai e volta sem dar satisfação.
- Meu filho, isso é juventude, isso é o mal do infinito... e o infinito é longe pra diabo! Parece que não chega nunca e não chega mesmo... eu bem me lembro da minha juventude. Oh, tempo bom! Filho, não adianta eu dizer, mas isto pode passar. Deseje menos, talvez ajude. É a velha história de que a diferença entre o remédio e o veneno está na dose... nem eu nem niguém vão lhe ensinar essas coisas da vida. Apenas não perca sua espera-nça.
Jonas ouviu com o máximo de atenção e não disfarçou a cara de incógnita, pelo contrário, fez questão de parecer confuso na esperança de ouvir maiores explicações. Tentou ao menos lembrar perfeitamente de tudo que ouviu, quem sabe poderia pensar melhor em todas aquelas palavras depois. E o doutor não falou mais nada mesmo, mandou até Jonas sair. Ele foi, deixou a casa, da mesma forma que entrou - nem mais nem menos. Parou no bar da cidade, sentou no balcão, pensou que algo de beber ajudaria a trazer os pensamentos à luz.

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