quinta-feira, 1 de março de 2007

Quesabemos: Nicodomus L.

BURACOS

no meio do caminho tinha um buraco.
Drummond/Nicodomus L.


depois de ler neste site uma terrível previsão, que me fez o divino favor de me dar uma desculpa para ficar dias sem sair de casa, uma previsão de que o mundo inteiro seria sugado por um buraco iniciado pelas mãos de um técnico de uma empresa telefônica chamada teleterra, vi pela televisão um buraco enorme em são paulo que me fez lembrar, se é que ela realmente houve, a minha infância. os carrinhos que eu enterrava, sem saber que, na verdade, eu não tinha era coragem de me enterrar a mim mesmo, que jogava com força no meio do formigueiro, os carrinhos que sumiam nos brejos em meio ao coachar - lembrei dessa - das rãs, esses mesmos pareciam aqueles caminhõeszinhos lá embaixo do buraco de são paulo. da minha parte, que é a que me interessa, tenho minhas conclusões para as causas do incidente, para o que utilizei de métodos os mais cientifícos, como me fora ensinado pelo meu falecido avô de origem iuguslávia. dizia ele que para aqueles lados também foram feitos muitos buracos onde caíam gente, embora no caso deles já fossem morta ou logo seriam. isso me lembrou de hollywood, que me mostrou cordealmente e pela metade do preço, posto que lhes provei que sou estudante, o que não sou, aliás, como ninguém é, pois me mostrou aqueles buracos onde a densidade demográfica de judeus era alta, impressionante, provando mais uma vez a enorme capacidade que esse povo tem de se aglutinar - voluntariamente ou não. outro dia fui ao cartório - eles sempre aparecem na minha frente sem que eu saiba de onde eles vieram - e dei de cara com um homem-buraco, mas não vice-versa. nesse caso não foi nem necessário avançar ao passo onze do roteiro de investigação cientifícia iuguslava que me foi ensinado por um senhor que me dizia ser meu avô e que, por ser isso confirmado por outra pessoa que se dizia ser meu pai, não tive outra saída senão fugir de casa. me lembrei bem disso porque quando jovem também eu tivera espinhas e, embora a igreja ou alguém que não lembro quem me informasse que isso tem relação com atividades masturbatórias, não me considero que eu era um grande punhenteiro à vista do que me fiz hoje, tendo também em conta que meu conceito de punheta aumentou bastante desde então. o pobre cartorário, caso os cônegos estivessem certos, devia de ser um grande mão-de-ferro, se é que me entendem: a auto-ditadura do prazer. essa coisa de dita-dura me faz lembrar outro buraco, de uma menininha de treze anos com quem tive algumas felações superficiais em um show do rock'n roll brasileiro ocorrido em um ginásio universitário de esportes. bem, sei que nessa frase passada há muita coisa errada, principalmente a indicação de existência de rock'n roll brasileiro, o que não me importa agora nem na época me importava; me exportei sim minha mão para dentro da saia dela e, tendo em vista a sua reação típica de um país socialista impondo salvaguardas comerciais para importação de produtos tecnológicos, posso afirmar categoricamente como um garrincha que ela ainda permanece virgem, ou seja, mais um buraco inutilizado neste mundo. o mundo aliás, alguém já me tentou provar que é na verdade um grande buraco, e não uma grande esfera. aceito até atualmente essa teoria, que deixou de sê-la quando tive uma das idéias mais geniais que minha mente já pode produzir sob estado de rampante excitação, com menos ou mais-valia de mim mesmo sobre mim, mas principalmente sobre os outros, enfim: quando, em meio a uma discussão calorada com uma garota marroquina sobre a origem das crateras de golan, ela me disse então que eram colinas, fiquei um pouco irritado e dei um tapa de-baixo-para-cima na tigela de sopa que tomava e esta voou em movimento balístico magnífico até encaixar perfeitamente na cabeça da tal marroquina; daí tirei então duas conclusões: a de que as marroquinas têm cabeça pequena e outra de que uma tigela pode ser também, além de um capacete marroquino-feminino, uma esfera, se bem encaixado em outra meia-tigela. quase escrevi um artigo denominado "a outra face da tigela", mas não encontrei palavras que expressassem de mim mesmo o que eu achava disso tudo, além da ambivalência natural e inerente aos buracos, assim como a tudo neste mundo, ou neste buraco: o fato de que, se sendo, não se é.

Nicodomus L. publica em www.mistiforio-do-cornimboque.blogspot.com

P.S.

Há milhares de buracos.
Um
buraco acontece quando se vai longe demais.
A miragem que um sujeito cava pra si mesmo é a face escura do
buraco.
A face clara do
buraco é o buraco.
O
buraco é o lugar de se cultivar a sede.
Não há
buracos quentes.
O Saara e o Pólo são
buracos frios,
como tudo que a distância faz.
No
buraco se anda em círculos.
Não se sabe o tamanho de um
buraco,
se ele vai mais fundo.
De dentro tem o tamanho do mundo.


Arnaldo Antunes/Nicodomus L.

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