terça-feira, 19 de dezembro de 2006

Poética


Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
- Meu tempo é quando.

Vinícius de Moraes, NY, 1950.

certo dia
veio à minha morada
a vida;
não sei se de entrada
ou de saída,
mas vinha apressada
e urgida,
com a face cansada
e fugidia;
parecia embuçada
e ferida,
não sei se pelo nada
ou pela lida,
mas vinha vitimada;
que tinha?
não sei, queria explicação.
- minha?
lhe respondi que não;
se havia,
agora não vejo razão
na forma divina
que jaz neste chão
ou nesta sina
que vai no céu feito balão.
- e se fica,
lhe disse indo embora,
minha querida,
só não me faça demora:
o tempo migra
e me põe a sua hora,
maligna
ou boa senhora,
sempre fria,
que não se liga com o agora
nem choraminga:
vai indo e lhe faz aurora
e amiga
para ainda lhe jogar fora,
suicida,
destruindo sua obra
antiga.
- mas por fim lhe digo,
minha vida,
como seu velho amigo:
antes de caída
melhor que fique comigo;
vamos indo,
que só ficam os inimigos.

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