segunda-feira, 29 de outubro de 2007

As oito estações

-I-

hoje a lua nasceu cheia
atrás do morro alisado
e das nuvens, dos postes e dos telhados, dos fios das concessionárias e da enorme viúva aracnídea que habita uma quina no beiral.
e por um desses obstáculos entre ela e as minhas lentes de míope,
o merecido brilho da lua cheia,
hoje ele está fosco – como a cal branca
espirrada por cima do reboco.
ainda é fim de dia, quando os pássaros pequenos e os urubus passam
vindo de
indo para
lugares que ainda não conheci,
e a teimosia das vacas ainda pasta a puba aparentemente uniforme do calombo do morro,
aos pés da lua e de uma imensa árvore vertical, que só não é um edifício por ser cambada à esquerda:
desafio singelo e despretensioso às engenharias civis
e à pretensa especialidade turística de algumas construções esguelhas.
a lua foge das vacas e das árvores
seu brilho vai se sobrepondo ao embaçado tímido da sua nascença,
como se talvez nem soubesse que logo ali
do outro lado
voltará a elas, como sempre volta – criança.

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