terça-feira, 20 de novembro de 2007

VI

hoje o vento está decidido:
vai soprar até derrubar tudo
ou deixar em tudo a expressão do espanto;
e chega como uma cavalaria de cossacos
galopando habilmente por todas as frinchas – as ruas, as janelas
e as garagens – cercando seus inimigos,
surgindo e desaparecendo por todos os pontos cardiais,
vibrando os fios e as lâmpadas dos postes, os esquadros metálicos e os vidros,
gritando um ódio invejoso do sossego
ou incompreensivo
somente.
dá trégua provisoriamente para que os latidos desvairados possam ser escutados
e volta – e vai;
os cães compõem uma ópera em tropeços soluçantes
uma ária,
um prólogo para o ataque da massa de ar subdividida em inúmeros guerreiros trajados com a mesma centelha da violência divina.
a porta e a janela ricocheteiam estampidos dolorosos,
deixando entrar – embarcado no assobio do vento em liberdade
roçando a concretude – o Réquiem de Mozart perdido na catedral da escuridão,
para onde se recolhe a brisa restante
substituída pelo silencioso tic-tac do relógio da cozinha.

Nenhum comentário: